sábado, junho 24, 2006

Faltava-lhe Ar

Nunca tinha acontecido isso à ela. Ficar assim sem ar, não era normal. Estava tonta, girava, mas não eram as habituais paredes do quarto, afinal, que girem as paredes do quarto, isso já é habitual, ao chegar da noite. Mas agora não, elas não giravam, se sentia girar por dentro, talvez fosse sua alma que girasse, lhe passava pela a cabeça a ideia de que sua alma era um balão e que, agora, só por graça, tinham-lhe decidido estourar, e entao a alma-balão girava caoticamente dentro do espaço daquele crânio, perdida. Mas também pudera. Não é todo dia que se joga tudo pra alto assim. Vou repetir, não é todo dia que se joga assim. Mais uma vez, talvez de outra maneira, não é todo dia que joga-se desta maneira. Joga-se a si, isso, foi isso que lhe passou, está no furacão do mágico de oz, em um instante e a vida já será outra.


Vou explicar o que se passou:

Era assim, vivia a sua vida nada habitual, a qual, com alguns esforço, estava a se habituar.Atendeu mais um cliente, eram um grupo e foi gentil, por habito, era-lhe habitual ser gentil.
Bla bla bla bla bla, Brasil, bla bla bla bla França.
Fotos, bla bla bla, e-mails.
Bla bla bla convite, bla bla bla aceita.

Isso por si só já era bastante para se furar o balão-alma, aventurar-se a ser hospede de alguem que embora muito gentil nao seja exatamente alguem que se conhece bem em uma terra estranha, com um idioma estranho e bla bla bla. Mas eram 5 dias, logo, o maximo que poderia acontecer seria um pouco de bla bla bla furado e voltaria a casa, meio frustrada talvez, mas nada de mais.

Entao, de repente, vai a internet procurar mudança, assim, por habito, porque tem por habito mudar. Até demais, é um mal habito eu diria... E então acha essa tal coisa. Decide entao fazer um curso, por que não, mas decide por habito, eu vou fazer, eu vou fazer tudo, e hoje de noite vou tentar conquistar o mundo e o mesmo bla bla bla habitual.


Mas vai longe, liga, inscreve, é aceita.
Choque. Nada mais de Bla bla bla.
Vai pra Paris no mesmo dia, mas não pra passar 5 dias.
Vai jogar tudo pro alto. Vai jogar-se pro alto.


Desde que começara o emprego se pergunta o porque de estar lá, parecia que havia um porque.
Desde que decidira ir a Paris se perguntava-se, sonhava, que essa viagem reservasse algo. Lhe é habitual sonhar com essas coisas.

Agora, aparentemente, vai a Paris passar o mês a estudar cinema.
Nada habitual.
Um sonho sonhado pra se tornar um sonho vivido.

Acho natural que lhe faltasse ar....