quinta-feira, dezembro 31, 2009

Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo

***

É chegado então o último dia de 2009. Hora de rever o ano, ver o que foi, o que não foi,  e dizer o que se quer pro ano que vai nascer.

Vou parafrasear, ou paraparagrafar, ou paralistar - mais apropriado - meu comparsa e usar a lista criada por ele como base para a minha, mas antes, algumas palavras sobre 2009.

Ontem a noite, quando comecei a pensar neste post, estava bem azeda, hoje acordei mais doce e um pouco mais generosa com 2009. Então, vamos lá?

Vai deixar saudades?

Não sei. Ainda não consegui decidir se 2009 vai ou não deixar saudades, mas, com certeza, foi um ano que teve seus grandes momentos, como bem defini à Leria e ao meu dindo Caco:

As for me, I believe to be going through my final stage to becoming an adult: which I'm finding very challenging and fun at the same time. Deep inside I feel just like a child playing "let's pretend", the only difference is that is a never ending game.


ou, em português: 


Quanto a mim, acredito estar passando pelo meu estágio final de tornar-me uma adulta, o que eu estou achando muito desafiador e divertido, ao mesmo tempo. Bem lá no fundo, me sinto como uma criança brincando de casinha, a única diferença é que, daqui pra frente, é uma brincadeira que nunca termina. 


Então é isso, passei por momentos incríveis como as reuniões com os Tippers, a minha ida pro Rio, minhas aulas melhorando a cada dia, a apresentação do meu PGE, as aulas que dei na ESPM, os retornos que recebi. E passei, também, por momentos não tão incríveis assim.
Acho que aprendi bastante.

Então, vamos a lista:



RETROSPECTIVA/PERSPECTIVA

PERSPECTIVA 2010:
Ser 

PRIORIDADE 2010:
"O Ano da França no Brasil, foi 2009,  mas continuar com

Negociê, Escrevê, Criativê
e claro, Festerê" (By meu comparsa Mário)

FILME:
Avatar

LIVROS :
O Semehante (Elisa Lucinda), O Dia do Curinga

LIVRO DE CABEÇEIRA: 
Sabedoria Todo o dia - são 366 páginas de pensamentos positivos, uma pra cada dia do ano. Bem bom pra começar o dia. Presente de um amigão querido. 

MÚSICA:
Não sei o nome, mas o importante dela é: SINTO QUE SEI QUE SOU UM TANTO BEM MAIOR - Teatro Mágico - e Bjor (que rima com Jerk, segundo ela mesma) ALL IS FULL OF LOVE.
 Mais nada a declarar. 


TEATRO: 
Deus é Química (Fernanda Torres)

CAFÉS:
Copenhagem com o Mário (mesmo com o episódio do celular quebrado)
Barbarella com os Tippers

BARES - Noites de Gatos Pretos do Ano:
Dometila - Eu, Amanda e Rogério
Jobi - Eu e Mário 


RESTAURANTE: 
Trancoso com a Ana 
(e mais recentemente) a Churrascaria com o Lucas


EXPOSIÇÃO: 
as por vir!!!!! 


FRASES:
Ai tantas, acho que preciso do caderninho do Mário.
 Poema a Pequenas Mortes (meu)
e a inspiração maior, Mário, o Quintana: 
"Todos os Poemas são os Mesmos Poemas,
Todos os Tragos são o Mesmo Trago,
Não é de Uma Vez que se Morre,
Toda as Horas são Horas Extremas"  
E, claro, da peça Deus é Química: 
"Dá um Lexotan, dá um Frontal, alguém dá um Rivotril pra essa pessoa!" 

NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS: 
No meu caso, os que ainda virão. O mais perto que cheguei de um negócio imobiliário foi quase me mudar pra casa do Mário. 


NOVOS AMIGOS ou PESSOAS QUE GANHEI:
Beth Resende, Júlio Conte, minha mãe, minha avó, Paula Jung, Rogério Azul, Pedro e Bibi, Bennetti (é com dois tudo?), Lucas e Vini. 
Ganhei meu Dindo de volta. 


ACONTECIMENTO MARCANTE: 
Minha ida pro Rio foi um divisor de águas no ano. 


RECOMENDAÇÃO DO ANO: 
Let it GO!
    
POSTAGENS MAIS COMENTADA NO BLOG:  
Poema à Pequenas Mortes


MINHA CASA, MINHA VIDA: 
Novo escrito na parede: "Afinal, você é uma Alice ou um coelho?" - ainda não terminado.


ÁREA CRIATIVA:
TUUUUUUDIBOM!
Voltei e mantíve-me a escrever.
Voltei a pintar. 
É como realizar sonhos, só que melhor. 

PROJETO SUSPENSO: 
Meus mestrados, minhas palestras, minhas exposições. 


PROJETOS NÃO  SUSPENSOS:
DVD do Mário.


$¢ENÁRIO : 
Botei uma fitinha amarelha do senhor do Bom Fim no pulso pra pedir bufunfa. Esse é o $¢enário. Pode ser? 
  
TEORIA E PRÁTICA:
Ah... o amor. Teoria e prática da paixão são duas coisas tão antagônicas...


PROPÓSITOS: 
Manter a lucidez, sempre. 



TOO MUCH: 
Outras pesssoas. 


DE MENOS: 
grana.


BEM DE MENOS:  
Papai é meu herói.


SONHOS SE REALIZANDO:  
Minha tatuagem nova. 


SONHOS A REALIZAR: 
Muuuuuuuuuiiiiiitos. 


UMA PALAVRA PRA DEFINIR 2009:
Evolução!


QUE VENHA 2010!




E, pra finalizar, acabo com o cartão de entrada de Ano que fizemos para a empresa que estou criando. Acho que ele fala por si mesmo: 







Família #2: Poemas da avó

Hoje,  com gosto e reverência, abro aqui espaço para palavras que não são minhas.
Minha avó me escreveu um poema e aqui o coloco.
Talvez esse seja o último post de 2009,
Se for, que venha 2010 com amor igual ao que escreveu este poema.
Que todos os desejos de todas as pessoas se cumpram e,
Como ainda ontem me caiu a pimenta que carregava como tornozeleira, desejo:
Que tudo que for dirigido a mim volte em dobro para quem desejou.

Acho que ainda faço um post a falar de 2009, mas, por ora, fica o poema:


O Vestidinho Cor de Rosa 


Quado tu,
Já eras, 
Mas não tinhas nascido, 
Eu teci o teu primeiro vestidinho
Com agulhas e linha rosa. 
Sonhei com teu rosto
Ainda em botão de rosa. 


Hoje, tu 
Estás tecendo 
Histórias nossas
Vividas por todos,
Tecidas 
Nas linhas 
Desta família,
Com lembranças,
Sonhos e dor, 
Frente à lareira
Da vida, 
Cujo calor
Ainda perdura. 


Uma história só tem sentido, 
Se consegue 
Mostrar
A trama
Do amor
O valor
De um ideal
Que não perece
Como a flor. 


Na finitude 
Da vida
Soprou um vento
Que passou
E levou
De roldão
Até um coração
Que palpitou. 


Mas a história 
De amor
Ainda tem as tramas
Dos sentimentos 
E ideiais
Que o fogo não queimou,
Que o vento não levou...


É uma perpetuação,
É uma ressurreição!


E agora digo eu, pra finalizar: Obrigada pelo amor, minha avó. E, para 2010:

QUE VENHA COM UM VIVA E UM VIDA ÀS RESSURREIÇÕES
DIÁRIAS DE TODOS NÓS.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Moldura para Sentimentos

* * *

O cheiro de solvente continua, mesmo muito depois de eu ter me despedido das tintas.
É o quadro, ainda se diluindo em mim.

Minhas cores andam confusas, voláteis como o solvente que uso.
Nem é tanto pelo obra, mas pelos comporadores.

É coisa muito íntima um quadro,
A gente produz assim, com tanto afinco, tanto suor;
para oferecer assim ao mundo?
Tão livres, tão desprotegidos?
Quem assegura os quadros?
Quem assegura suas pinceladas?

Fortes ou fracas,
intensas ou não,
são frágeis,
são castas.

Não se pode tratar assim,
com quaisquer olhos,
as cores.

Há de se haver cuidado,
há de se haver ternura.
Há de se entender a pérola rara que se tem a frente.
O risco é grande, ao não fazer:

do pintor, se vai a orelha
exausta de já ouvir  assim tantos disparates,
sem critério ou lucidez.

Mas uma orelha é pouco,
o que dizer dos olhos cegos de quem olhou,
mas privou-se de ver?

Bem como um quadro, este texto não fala de quadros.
Bem como quadros,
cada um pode ver nele o que bem lhe convier:

espero eu não precisar viver de vender óculos escuros...


Porto Alegre, 29/30 de Dezembro de 2009.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Troca de E-mails #1: O homem com o jarro d'água

Uma vez me falaram que estava por vir uma nova era, que esta nova era traría um novo profeta, que estava escrito na Bíblia que Jesus tinha dito para procurarmos pelo "homem com o jarro d'água". Seria a era de Aquário fazendo-se ouvir.

Uma era de consciência coletiva, de amor ao próximo, de sociedade amonetárias. Muito difícil acreditar em tudo isso assim, logo de saída. Muito difícil acreditar em tudo isso quando não é mais 1960. Muito difícil acreditar em tudo isso sem Hendrix e sua guitarra. Sem Lennon e suas palavras.

Ou talvez não: fui ver Avatar. O filme mais caro já produzido pela indústria cinematográfica. Um breakthrough tecnológico, efeitos especiais fantástico, o filme em si é um gigante efeito especial. E o enrredo: Consciência Coletiva.

Então a gente começa pensar que talvez alguma coisa possa estar acontencendo.

Recebi um e-mail do outro lado do mundo. É de uma menina que foi minha colega quando estudamos cinema em Paris. É minha irmã. Brigaríamos pelo maior pedaço de bife na mesa, sem falsas etiquetas. É minha irmã.

Fazia tempo que não nos falavamos e ele encontrou um e-email que eu enviei a quase um ano atrás. E desse e-mail seguiu uma conversa.

Ah, ia quase esquecendo, ela é formada em Clássicos Gregos e Filosofia, com mestrado em Relações Diplomáticas e sua tese foi sobre O Potencial Econômico Africano. Hoje ele faz documentários na Africa. E ela é uma menina, e faz festas, e bebe, e dividiu uma casa comigo, e tomou sopa em taças de Champagne comigo. E ela é minha irmã.

Quando recebemos um e-mail de uma irmã falando coisas incríveis sobre raínhas africanas, então a certeza começa a aumentar, de que esteja vindo por aí UM HOMEM COM UM JARRO D'AGUA!

Segue a conversa.

* * *

Léria para mim:


I really loved what you said about no more cuts. One thing I have enjoyed about getting older is that even if you never get closer to understanding life or the reasons why things happen, you really learn to accpet and to mend. To discuss and to reparate, keep baonds going. Its as if we form solidarity through the difficulty of the realisation that no, we will never really undertsand how things wre and why, but were all in the same ocean of souls.

Sorry if I'm sounding insane. Im starting to think junglike with the collective subconscious, which i dont believe is so subconscious, I think were all becoming more conscious of colective connection as we grow through life. Well, not all of us!! but the ones who are feel that solidarity. Sorry im making no sense!

I have had a great 2009, the year is what you make it right? And i learned a lot from the documentaries and adverts we were making. Especially about relationships and who you fall in love with and how. Creating things together is what matters most I believe.

I shall send you some funny annecdotes of the docus and how weve really had it tough with filming in the jungle and not knowing whether your doing the right thing, whether this will ever work out, and then seeing that one shot that really makes you believe in what you are doing.

I met the most incredible woman, she is my mothers age, she is an african queen, was the 16th wife of a Bangante Chief in Cameroon, speaks Bangante fluently and is respected throughout The Country. She is a white french woman who just stayed faithful to herself, because she was never conditioned into any society. Even the bagante one, she never followed their rituals. But she just commands respect. Its worth a trip to Cameroon. And a lot of people make the trip just for her.

Anyhoo i have to go shower cos i stink, just had a mlassive work out; but please send some news of what your up to and how things are going.

much much love

L xxx


*   *   *



Mim para Léria: 




WOW. That's just WOW. 

No, you are not sounding insane. Maybe you're sounding like a Na'vi from the film Avatar, but not insane.

Maybe you are sounding just like me. That's what I believe in. I'll send you the link to a text I wrote last year thanking about a crazy guy I met on a bus trip in Florida.

We talked about a lot of stuff, some believable, some not, but he spoke about the man with the jar of water and how we are entering a new era of collective consciousness, and YES, MY AQUARIUS SISTER, WE ARE.

And we, more than most, I'm sure were born to live in this era and no other. Well, who is sounding insane now...

Well, I'm just happy to see that even so far away, we still manage to stay connected  in our feeling and beliefs. I want to meet this Queen. Oh Gosh, I'm blown away by your e-mail.

As for me, I believe to be going through my final stage to becoming an adult: which I'm finding very challenging and fun at the same time. Deep inside I feel just like a child playing "let's pretend", the only difference is that is a never ending game. I have been writing a lot, which is making me real happy and, very very recently, came back to painting, which is making me ULTRA happy, with a big sense of powerness (new word, just invented =D) and self-possibilities but, most of all, a great sense of gratitude for everything and everyone.

Maybe I too, am entering the era and changing my mind, too. And so I hope. For the year to end, my word was: EVOLUTION. And saying that to you makes me very happy. Somehow I feel that was one of your words too.

I love you and I miss you.

Much Much love,

B X X X X X X X  (BIIIIG ecxes for you!)









Sentimentos #3: A Lua e o Tempo

Era um senhor muito distindo esse tal.  Mas é bem verdade que, de quando em quando, falavam dele entre bocas. Tinha uma função um tanto peculiar: sua ocupação era passar. Passar.
Embora passasse sozinho, tendo cuidado para não esbarrar em ninguém, havia sempre aqueles que diziam:

 - Ah, mas como demora. Queria que passasse mais rápido.
Ou, ainda, aqueles que diziam:
- Nossa, já?! Mas eu nem vi passar.

Sentia-se meio frustrado, pois parecia que todos aqueles que não eram nada mais que desconhecidos, que nunca haviam se preocupado em pensar sobre ele, ainda assim se davam ao direito de dirigir-lhe críticas sobre sua velocidade e se davam ao luxo de nunca estarem satisfeitos.

Talvez se um dia parassem, quem sabe poderíam até se dar conta do quão prazeirosas são suas passadas. Mas não. Os poucos que se atentam a uma observação superficial são porque estão a se preocupar com a chegada, ou a parte já passada, mas não olham como quem quer ver.

Pobre tal, parecia que vivia uma vida, a dizer, solitária, passando e passando. Mas é verdade que também mantinha algumas companhias constantes. Havia esta tal, da qual vos falo, que parecia estar sempre com ele. Sempre, que digo, é sempre ao escuro, que é quando ela se mostra. Não sei ainda se é tímida ou exibida, mas o fato é que só aparece ao cair do manto e, ainda assim, tem períodos em que lhe convém aparecer mais e, em outros, menos, deixando-nos à margem do seu prazer.

Mesmo que não se falassem, ela cumpria o seu papel de fazê-lo companhia somente ao vê-lo passar. E, assim, se acompanhavam um ao outro: enquanto ele passava, ela o contemplava; enquanto, ironicamente, todos pensavam estar contemplando a ela era ela que os vigiava.

Branca, reluzente, redonda, mas de forma variada. Particularmente a mim, me agrada quando se parece com um sorriso, inundado de malícia.

Mas hoje se apresenta por trás de véus, faz mistério. E brilha. Os véus negros ondulam-lhe por frente à face e, quando ela se permite revelar, vejo, além da pele, um prata de uma luz que a circunda e enche de vida o manto negro que a acolhe ao fundo.

Foi ela quem me chamou a atenção. Veio e disse:
- Ei, olha ele ali, passando!

E foi então que vi. Mas tive que olhar com atenção, porque nesses tempos que se seguem, ele tem passado tão rápido que nem o vejo mais. Quando vi, já se foi e já veio ele outra vez. Na verdade, a essas tantas, nos encontramos mais é nos cruzamentos. Eu passo, passo, passo. E ele, tão rápido, passa, passa, passa.

Logo que nasci, parece que acordamos em passar em passar a minha vida inteira brincando de pega-pega. É a minha vez de pegar, já faz 18 anos que é a minha vez de pegar. Mas, às vezes, me distraio da brincadeira e nem o vejo passar.

Tem horas que me canso, respiro rápido e me acelera o peito. Mas, daí, olho pro lado e penso: 18, ele ainda está correndo a meu favor.

Alice corre atrás do coelho, o coelho corre atrás do senhor. O senhor, dentro do crocodilo, persegue o capitão. O capitão perdeu o jogo. E eu aqui, já pequena, sonho em ser Peter Pan.

Ainda falta muito do caminho, mas uma coisa já possuo: descobri dentro de mim, uma fábrica inteira de pó de Pirilim pim pim.

Porto Alegre, mil novecentos e eu ainda tinha 18 anos.

domingo, dezembro 27, 2009

Sentimento #2: Convite a Loucura

A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa. Todos os convidados foram. Após o café, a Loucura propôs:

-  Vamos brincar de esconde-esconde?

- Esconde-esconde? O que é isso? - perguntou a Curiosidade.

 - Esconde-esconde é uma brincadeira. Enquanto conto até cem, vocês se escondem. Depois de terminar de contar, eu vou procurar e o primeiro a ser encontrado, é o próximo a contar.

Todos aceitaram brincar, menos o Medo e a Preguiça.

- 1, 2, 3.... - a Loucura começou a contar.

A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore enquanto a Alegria corria para o meio do jardim. Já a Tristeza de agarrou direto na Dúvida, e começaram as duas a chorar pois não conseguiam encontrar o lugar ideal para se esconder.

A Inveja acompanhou o Triunfo e se escondeu perto dele, debaixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e seus amigos iam se escondendo. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já ia contando o 99.

- 100! - Gritou a Loucura - Vou começar a procurar!

A primeira a aparecer foi a curiosidade, já que não aguentava mais de vontade de saber quem seria o próximo a contar. Ao olhar para o lado, a Loucura logo achou a Dúvida em cima de uma cerca, ainda sem ter decidido aonde se esconderia.

E assim foram todos aparecendo, a Alegria, a Tristeza, a Timidez. Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou:

- Onde está o Amor?

Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurar: procurou em cima da montanha; nos rios; debaixo das pedras; nada do Amor aparecer.  Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos quando, derrepente, ouviu um grito de "Ui!".

Era o Amor, gritando por ter furado o olho com um espilho. A Loucura enlouqueceu sem saber o que fazer: pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu seguí-lo para sempre.

O Amor aceitou as ofertas. Hoje, o Amor é cego e a Loucura o acompanha sempre.

Mil Novecentos e Dois Mil e Poucos, tipo 2003, acho eu.

Velharias Revisitadas - Título: Natureza Minha

Minha natureza é mutante
Minha natureza é mutável

Não sou muito de nada
Sou um pouco de tudo

Sou borboleta em casúlo
Sou lagarta com asas

Concervadora
Subversiva
Um oceano em contradição

E nessas contradições me encontro
E, nelas, cada vez mais me perco

Sou a figura da dúvida
Sou a figura da vida

O silencioso grito histérico
Das asas que teimam
E teimam
E reteimam

Vivo em constante casúlo
Pois vivo em constante mudança

Minha casa é minha concha
Casa de pérola insana
De cor nenhuma
Multicolorida

No infiito espaço que compreende uma lágrima
Meu mundo se extíngue
E na segunda
Revive

Não como fênix
Não volta igual
Se refaz
Mais esclarecido e seguro
Se refaz
Mais confuso e sozinho

Mas não importa como se refaça
Se refaz mudança

Sempre como nada
Como muito de algo
Como um pouco de tudo

A contemplar o universo intenso
Das mihas contradições


Poema de mil novecento e nem me lembro quando, já faz tempo, Porto Alegre


sexta-feira, dezembro 25, 2009

Poema a 4 mãos: Rima à Luz de Elisa

Tenho um ofício extra.

Além de viver, sobreviver, dar aulas, ter aulas, voltar a pintar, manter-me a escrever, também corrijo textos do meu melhor amigo.

É uma correção meio diferente, funciona assim: somos mentes irmãs. Entedemo-nos muito bem um ao outro, assim, quando corrigo, além de concentrar-me nas vírgulas e nos pontos, também cuido dos acentos. Acrescento palavras, "somatizo" frases e brinco de dizer o que sei que ele queria dizer e por algum a caso não disse. Escrevemos a 4 mãos e dois teclados. Ele dá o tom, eu sigo o rítmo e puxo a melodia. Agora, com a licença do meu comparsa, peço espaço para colocar aqui uma de nossas produções em menage. Para mais mariotutações: www.ideiasmariokerber.blogspot.com    .E lá vai a rima:

Rima

Quando a rima faz sentido
Penso até que sei que rimar.
Se  não faz,  
Pode, talvez, fazer gemido
Vale-me tentar.



Visto teu vestido
Brinco de despir-te-me


Aliso  tua alma:
Escorregas.


Ainda a luz do dia, a rendição:
Luzlinda a me elisar.





Notícias:

Depois de 6 anos de omissão dos meus instintos, voltei a pintar.

Estou produzindo uma série. Chama-se: Origens.

Estou na segunda de uma série de 7 pinturas a óleo sobre tela, todas em mesma medida, 80cm X 100cm.

Em breve em uma galería perto (e se Deus quiser, também longe - vide, na gringa - de você).

Me sinto como Maria Elena antes do filme começar, quando ela e Juan Antonio se conheceram.

Estou em êxtase. Estou em calma. Estou c/alma.

Notícia a quem interessar possa...

segunda-feira, dezembro 21, 2009

domingo, dezembro 20, 2009

A Casa dos Guardanapos de Pano


Um andar. Um andar só. Não, mentira minha, um andar e meio, contando aquela escada vazada e sem corrimão que levava pro quarto do tio mais novo. Aquele comodo sempre foi o mais misterioso pra mim, tinha um certo algo de quarto proibido no ar.

A entrada era pela garagem. À direita da porta, os janeloes que levavam ao patio, ao grande patio e, no pátio, o cachorro. O cachorro era um  dalmata com o rosto todo branco. Diz meu tio que isso é uma virtude em dalmatas, que manchas nos olhos são como defeitos para a raça. Não sei, só sei que não era um cachorro com olho de pirata. Diz meu tio, também, que era um tipo especial, bisneto de um dalmata campeão de uma criadora lá do Rio de Janeiro que diz que tinha criado um tipo especial de "dalmatas quadrados". Diz que até em livro tem o nome da família do cachorro. Quanta coisa...e eu que achava que cachorros eram só cachorros. Não lembro muito bem dos detalhes. Conta minha mãe que ele se levava para passear e que, ao voltar, batia com o rabo 3 vezes na porta para que a abrissem. 



Um dia o Tony sumiu. Minha família acha que ele foi roubado. Mas tudo isso eu não sei. Tudo que sei é do sentimento que eu tinha pelo cachorro. Ele era o meu melhor amigo na casa, meu fiel escudeiro contra os leões que moravam embaixo da mesa de jantar e meu comparsa em todas as minhas tentativas frustradas de pular o muro que dividia o pátio com, acho, a área de serviço. Lembro-me de brincar de cavalgar no Tony, isso é o que mais me lembro. E creio que me lembro que nos divertíamos muito, ele e eu, a brincar ao lado do grande banco de madeira que ficava à sombra do quarto do tio mais novo. O que mais me lembro do Tony é esse sentimento de amor velho, assim quase que perdido o fundo do baú mais antigo do meu peito. 


À esquerda da porta, um hall que levava a Sala de TV e a Sala de Jantar. Lembro-me pouco da Sala de TV: A disposição dos móveis, o sofá que fazia frente a lareira e a cadeira do avô, o lugar nobre da sala, fazendo frente a tv. Lembro-me pouco da Sala de TV, mas lembro-me perfeitamente da sensasão que tinha quando brincava de caminhar no encosto do sofá; lembro-me direitinho da visão dos meus pés e do esforco para manter o equilibrio; lembro-me da adrenalina de pensar que o sofá poderia virar e da graça que achava do medo que a avó tinha de que eu caísse.


Cruzando a sala de jantar se chegava a copa, era uma casa do tempo em que as casas ainda tinham copa e, passada a copa, entrava-se na cozinha, que era fina e comprida. Sobre a copa nao tenho muito a dizer, só que ela tinha gosto de pão com mateiga e mel. Pão com manteiga e mel que a Teresa fazia. Tereza era a negra que tinha sido criada pela minha bisa enquanto minha avó, menina de sociedade, tinha sido criada em um internato. Depois de velha, Tereza tinha ajudado a minha vó a criar seus filhos e, depois de ainda mais velha, estava ajudando a filha da minha avó a me criar; A cozinha era interessante, bem fina e bem comprida tinha um monte de fogões que nem me lembro bem. O que me lembro bem da cozinha era que tinha uns canos, canos compridos e de comprimentos diferentes na parede a direita da porta, parecia uma miniatura daqueles orgaos de igreja. Eram as campainhas. Cada cômodo tinha a sua campainha.

*    *    *


E tudo na casa me era absolutamente natural. Fantasticamente natural. A mesa com patas de leão, o cesto de ovos em forma de galinha no comedor, o orgão na cozinha que servia como campainha. O avô. A avó.

Passou-se o tempo. Primeiro, foi-se embora a casa: grande, imponente e acolhedora no alto daquele morro que me doía as pernas de subir; Mais tarde, já em um apartamento, também alto e em um morro, veio o computador. Computador melhor que o da minha casa. O computador melhor que eu já tinha visto. O computador que ficava no escritório do avô. E, depois, foi-se embora o avô. Na sequência, foi-se embora o apartamento e, com ele, a biblioteca do avô.

Idos a casa, o avô, o apartamento, a biblioteca, ficou-me a avó. Me pareço muito com a avó. Dela, aprendi a herdar o paladar. Se da negra, que depois de ainda mais velha tinha ajudado a a filha da avó a me criar, aprendi o gosto por pão com manteiga e mel, da avó, guardei o gosto por pêras e sopas. Gosto de sopas independente da temperatura, mesmo no verão, gosto de sopas.

E tudo na casa me era absolutamente natural. Fantasticamente natural. Levou-me bastante tempo: foi-se embora a casa, a negra, o avô, o apartamento, a biblioteca e o computador. E foi preciso que ficasse só a avó, as pêras e as sopas, para que todo o universo que conheci dentro das paredes daquela casa me parecesse menos natural. Era fantástica, eu mal sabia.



* * *



Notas sobre o avô: 


Como me doí não ter convivido mais com o avô. Olhando assim, para a foto que a minha mãe mandou fazer dele para toda a família, sinto uma ternura tão grande e, ao mesmo tempo, um grande pesar. Um pesar de não tê-lo comigo, um pesar de não ter suas opiniões para venerar ou, ainda, aquela aura de reverência que tinha o cruzar da porta para o gabinete.


Nunca mais vi gabinetes. Hoje os prédios tem paredes de gesso e chamam escritório aquele pequeno vão que sobra entre o lavabo e o corredor, onde mal cabe um laptop. O do avô não, o do avô era um cômodo inteiro, ainda maior que qualquer outro cômodo da casa. O avô nunca era só o avô. Era um avô, um par de óculos daqueles de armações grossas dos anos 60, uma biblioteca, uma poltrona e um cálice de vinho no braço, um cigarro  e, depois da década de 50, uma televisão.


Lembro-me da tv retrô da sala de Estar e das histórias que minha mãe contava sobre como cada filho tinha um dia seu da semana para escolher o que ver na tv. Conta ela que o dia dela era o sábado, mas, aos sábados, o avô estava em casa, logo, ela não tinha dia da tv. Já nos anos 90 meu avô comprou uma tv muito moderna: tinha duas caixas de som retangulares que saiam das laterais da tela, assim como duas orelhas. Ainda está aqui a tv, na casa dos guardanapos de pano versão 3.0, o apartamento da avó. Lembro-me exatamente do dia em que a tv chegou, o primeiro dia em que vimos a tv, uma das raras vezes em que o avô permitiu que meu pai entrasse no gabinete. Ficamos nós 3 lá, embasbacados com o brinquedo novo odo avô. A tv e o avô passavam os dias a conversar, como ele teria gostado de conhecer McLuhan.


Se ao meu pai não eram dadas muitas vindas ao santuário-biblioteca-gabinete do avô, a mim a história era diferente: cheia da inocência infantil dos idos dos 6 anos, desconsiderava as regras veladas e entrava na biblioteca a qualquer momento, de qualquer maneira, correndo a pular e colocar os pés nas poltronas de couro do avô. Para o formalismo silencioso que pairava do no ar da residência: heresia. Para mim, a risada gostosa do avô divertindo-se com o descumprir de suas próprias regras. Coisa boa ainda lembrar do riso do avô. Acho que consigo reproduzir. Acho que meu riso se parece com o dele.


O avô era Doutor. Professor Doutor, como nos divertimos ao lembrar no último natal. Virou até nome de praça. Era jurista, e a referência em ciência política no estado, mas, se me perguntassem, meu avô era a versão gaúcha de Vinicius de Morais. Acho que são os óculos e o nariz dele que me fazem pensar assim. Minha mãe conta histórias de que, na praia, ele batucava sambas em caixinhas de fósforos. Ora se isso não é digno de um garoto de Ipanema? 


Lembro-me de um diálogo lá pelos 8 anos quando, morrendo de medo de decepcionar o avô, liguei para dizer que não queria mais ser advogada. Estava a me desculpar. Meu mais novo sonho era ser doplomata.O avô, claro, achou muito graça. Também achou graça quando mais nova, lá pelos 6 anos, me informaram solenemente que ele iria fazer uma cirurgia no coração e eu, ajoelhada a sua frente na sala estranha que ficava em frente a sala de jantar, não exitei: sugeri que ele aproveitasse para fazer uma plástica e tirar um pouco da barriga que já ia bem grande. Ele, claro, caiu em riso e me disse que achava essa uma boa idéia. Acho que ele achava graça de mim, acho que eu o divertia.


A última lembrança que tenho do avô é do ano de 99, extato um ano depois da sua morte. Minha mãe sentada no chão, escorada no armário do nosso escritório, chorando a ausência dele. Não me lembro de ter chorado a sua ausência, mas isso não quer dizer que não a sinta. Em cada curva do caminho queria tê-lo comigo, a achar graça dos meus dilemas.


Vô, sinto falta da tua ternura. 


* * *

Notas sobre a avó: 



A avó tem cabelos curtos, usa-os claros, quase loiros. Hoje, pintados. Tem sempre as unhas feitas, usa-as claras, sempre discretas. É uma pessoa curiosa a avó, sempre vistosa, ao mesmo tempo, muito discreta.

Uma vez fui com minha irmã ao cinema, era um filme sobre a rainha da Inglaterra, mas bem que poderia ser um filme sobre a minha avó. Elas usam a mesma sineta, um pequeno sino sempre ao alcance das mãos, para chagar os empregados da casa. Imagine só, minha avó e a rainha da Inglaterra, dividem uma sineta. Que mundo curioso. Ao sair do cinema, encantadas, comentamos. Concluímos que eramos netas da rainha da Inglaterra.

Essa é a avó. Clara, nobre, filha de aristocratas do passado, ela e os guardanapos de pano. Mas, assim como as pêras e as sopas, de uma simplicidade encantadora. É doce, é suave, é apaixonante.


* * *

Enquanto escrevo a avó, já com cabelos brancos disfarçados pela tinta, dá aula. Fala de ciência e de filosofia a uma turma em uma faculdade. A avó é psicóloga e filósofa desde o tempo em que, aqui por estes trópicos, as mulheres nem trabalhavam, nem pensavam, nem ensinavam fora das paredes de suas casas. Mas a avó já pensava, já bem longe de casa, a avó pensava.

E esse é o fantástico por trás do normal. O fantástico que me levou anos para descobrir. Imaginem vocês que, tendo nascida neta da rainha da Inglaterra que dá aulas de filosofia eu, por tanto tempo, só me ative ao leões que se escondiam embaixo da mesa de jantar.


The Magical Mystery Tour

dizem os guardanapos:
"...Bus Station. O caminho de Ste.Pete pra Tampa nao me trouxe muito entretenimento, mas me deu um 'glimpse' de um outro lado da America: O lado sujo, o lado gordo, o lado das maes lindas e solteiras aos vinte e poucos anos de idade, o lado pobre, o lado quase 100% negro. Peguei no sono em pouco tempo, quando meu olfato ja ignorava o cheiro que os suores com melanina-extra davam ao lugar. Acordei na bus station the Tampa pra trocar de oninus e seguir meu caminho pra Orlando.
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A Rata e os Elefantes
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Uma pessoa do tamanho de uma ratinha com malas do tamanho de elefantes. Acho que gero certa simpatia aos passantes, ou, no minimo, desperto compaixao.
Sentei do lado de um cara, ele, obvio, viu que eu estava toda atrapalhada e me ajudou a abrir espaco para conseguir sentar. Meia duzia de palavras depois e ele me pergunta se eu sou russa (o_0), digo que sou brasileira e a conversa comeca dai. (voltei. To sentada no chao do aeroporto esperando o primeiro voo chegar e escrevendo na mesinha, espero estar no lugar certo)
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O homem do Jarro D'Agua, os Macons e o Touro Vermelho
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Ele dirigia sei la o que em San Diego, me conta que conheceu muitos brasileiros fazendo isso e que, normalmente, reconhece o sotaque. A fila comeca a se formar para o onibus que vai pra Orlando, e pra Houston, e pra New Jersey, e pra Boston, e pra Washington DC, e pra Washington State, sei la, ao que parece o onibus ia ateh pra marte, vai saber...
-
(pausa pra dizer que voltei a escrever ja do meu apartamento, que eh, tipo assim: RA! 18 andar, quarto suite, cama king soh pra mim, uma vista 
r-i-d-i-c-u-l-a para um lago que eh um espelho, lindo lindo)
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Bueno, mas deixa eu voltar pro onibus que ia pra marte. Entao, o onibus ia pra marte e eu era uma rata com malas de elefante e tinha um amigo que dirigia sei la o que em San Diego e que achou que eu era russa. Entao entramos no onibus.
Em torno de 4 horas de viagem, 4 horas em que, fora alguns breves comentarios e historinhas da minha parte, tudo que fiz foi me resumir a algumas sacudidelas de cabeca entusiasmadas e alguns 'WOW's embasbacados.
Comecamos numa conversa sobre as mulheres de Vegas, mas a cabamos em assuntos profundissimos sobre as diretrizes que comandam o mundo desde o Egito antigo, o maquiavelismo por tras das organizacoes, os simbolos universais e o inconsciente coletivo.

Algos que valem a pena ser contados:

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O touro vermelho

Segundo o meu amigo profeta do onibus, o simbolo hoje usado para estampar a marca austriaca Red Bull nao foi inventado por eles e vem desde muito antes de se pensar em energeticos em latas de aluminio.

A imagem do touro vermelho, diz ele, era objeto de adoracao no Egito antigo, onde rituais eram realizados para a entidade sagrada do touro na busca de cura para problemas de saude, por exemplo (acho que ele mencionou o figado). E, guess what?, Back at that time, it was the age of Taurus. Segundo ele mesmo e seus livros de pesquisa, o periodo compreendido por estes rituais correspondia a era astrologica de Touro.

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The Matrix brothers e as pilulas do conhecimento

Morpheus (com as maos estendidas com uma pilula azul e uma vermelha): This is your last chance. After this, there is no turning back. You take the blue pill - the story ends, you wake up in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill - you stay in Wonderland and I show you how deep the rabbit-hole goes. 

Agora, segundo o profeta do onibus, as pilulas corresponderiam a dois estagios diferentes da tradicao maconica, mais precisamente aos degraus da maconaria. Diz ele que os 3 primeiros degraus sao chamados de os degraus azuis, que soh oferecem acesso a algumas partes de todo o conhecimento maconico. Ja os outros degraus, ou graus, que vao de 4 ao 32, se nao me enganam, representam estagios de maior compreensao e sigilo dentro da irmandade. A teoria do cara eh que os macons de graus mais avancados conhecem a realidade da 'matrix'. Eu, mas uma vez, digo: vai saber....

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E por fim, a frase mais tchanan da viagem e a fusao da religiao e do misticismo.

*** O Homem do Jarro D`Agua

La pelas tantas falavamos sobre religiao, signos, a bilbia, a Disney, o lagartinho que eh o gimik logo da Gelco, um pouco de tudo misturado. Falavamos sobre Jesus e sobre os Beatles tambem.

Ele me contou que o primeiro produtor dos Beatles era um publicitario, e que ele teve a grande sacada de formatar as musicas como se formata um comercial de tv: As musicas nao teriam mais que 3 minutos, o tempo de um break comercial normal, ou, pra citar Faustao, o limite dos reclames do plimplim; falou algo sobre o couro entra primeiro, como, segundo ele, acontece nos comerciais, nao entendi bem essa conexao...; disse que a banda foi toda projetada por esse produtor, que era alguem que entendia de comunicacao de massa, para ser um fenomeno das massas e, guess what??, eles viram os Beatles.

Me falou tambem que a primeira vez que se usou conceitos da psicologia na prpaganda foi na politica (ta,ta, tirando fora o inicio da 'propaganda' como o 
propagare catolico, falando de propaganda comercial e massiva mesmo) e que o primeiro cara a usar esses conhecimentos da mente humana foi um sobrinho de Freud, que pegou uns escritos dele sobre o inconsciente e tentou aplicar as campanhas politico-eleitorais. E, sobre isso tudo, eu digo: Se no e vero, e benne trovatto. Ou, em bom portugues mesmo, se nao eh verdade, eh uma otima mentira. 

Mas nao eh sobre
 isso que eu queria falar, eu queria falar sobre profetas. Pulavamos entre Jesus Cristo e os Beatles na conversa, falamos como aqueles que atingem a iluminacao parecem, de alguma maneira, serem calados ou desaparecerem e desse processo todo de movimentacao das massas quando ele disse a frase pela qual eu, em votacao unanime, elegi e dei a ele o titulo de 'Profeta do Onibus', ele disse: 'Aqueles que inventam os profetas, comadam o mundo'. 

Seguimos mais um pouco sobre Jesus Cristo, um profeta, e sobre eras astrologicas, onde discutimos se estavamos de fato em Aquario ou se ja tinhamos saido ou se ainda iamos entrar. Foi quando ele comecou a falar sobre a Biblia e disse que em uma das falas de Cristo, ja bem no final, falando sobre os tempo futuros e sobre os novos profetas que viram salvar, Jesus diz: '
Procurem pelo homem com o jarro d'agua'.

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Yo, como no creo en las bruxas, pelo que las hay, las hay, nao me preocupo em endossar a verdade ou mentira de tudo isso, continuo considerando a conversa e a viagem como quatro horas de entretenimento puro e, nao que va sair por ai a catar, mas com certeza, ficarei mais atenta,

vai que de repente me passa na frente um homem com um jarro d'agua...

American Beauty (Draft 1)


Sao 4 chances para fazer 10 jardas.
Parece bastante simples: Uma "bola", um quarterback, um Forrest Gump e uma parede de gorilas para cada time.
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Do outra lado da tela eh onde o jogo realmente acontece: loiras em lata ou em tintura de cabelo, naturais ou em garrafa; meia duzia de ex-herois dos corredores de colegio com um desenvolto cinturao de cerveja ao redor dos musculos abdominais; alguns pares de airbags suspensos e acomodados em belas embalagens de renda; um ou dois ex-esquisitos que acabam por se revelar geniozinhos-icones-pop-cult-do-mundo-pos-prom e muita nostalgia.
Ja esta, eis pronto o elenco de mais um High School Musical de uma das tantas Broadways americanas de fundo de quintal. Em um cenario de jardins com churrasqueiras, safas, tvs de plasma e cookies sobre o balcao da cozinha.
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Pra todos os outros presentes, so mais uma noite na America. Pra mim, uma experiencia antropologica, a deliciosa confirmacao dos esteriotipos ou, simplesmente, assistir American Football.
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TOUCHDOWN!

About the Ends and How to Meet Andy Warhol

So, i'm on the bus, right, the A bus, coming back from the Magic Kingdom. The very last time I ever ride the A bus coming back from the Magic kingdom. Just chilling, trying to feel the moment, listen to some classic music on my friends ipod. We are the last ones to leave the bus, everyone says goodbye to the driver, he is really warm and replies them all politely. 


Then we drop off, he says goodbye and have a good night, to what I say, ' Have a nice life, 'cos this is the very last time i ride this bus, this is my last day at work', 'Have a nice life too', he says. I leave  the bus and hear a sound of a metal falling on the ground, do not mind, i keep my way. He calls and ask 'Is this yours?'. It was a pin, my Mickey Mouse pin, 'Yes, its mine and I want it! Thank you', I say. When I'm about to turn my back once more he says ' I met him once'. I wondered for a while: who did he meet, Mickey Mouse? Who? I asked. Andy Warhol - he replied me. I have this Andy Warhol pin on my purse, it took me a while to realize he had seen it and was talking about it. 


 - No way, you met Andy Warhol?! How come? Where?
 - It was at this party once, I was there and he was there, he was kind of the weird guy in the corner, minding his own work. It was not a long conversation, kinda 'hello, how you doing?" type, but, yes, I met him. 
 - Thats good enough for me. - I say. - Whereabouts? 
 - New York. - he tells me.  - I met Iggy Pop too. He was at the party. 


And then he tells me how he used to be a musician and said ' you know, you're a musician and then you're hanging out with your friends, all musicians, and next thing you know you're in the back scene, you're at these parties and meeting these people. Even if your not playing, you're in the back scene, you know"...


I ask him what happened to the music and if driving busses were any more exiting than playing, and he says 'no, but I need it' and tells me how he has a sun that was born with epilepsy and that it was hard and he was a single parent, but now the guy is better and when he turns 18 he, the father, is going to Japan to teach English and will meet a beautiful Japanese and marry her, and we talk about the Flaming Lips and Yoshimi and how they had to go to Japan to get recognized here in the US. He goes on a bit more about how you can teach for five years there and that, once there, he will, eventually, learn Japanese. 'Just don't get lost in translation', I said...


He says, "If you ever get into the music business, don't... Don't ever leave it. There will be a lot of times things will get hard, there's a lot of bad stuff in that business, depressions that go on for years and you think to yourself  'I wont want to do that when I'm forty...' - he says - " But, yes, you do, you will want to do that at forty, and fifty and at ninety two...".  


And then we split and I fail twice very badly in my attempts to light my cigarette. End up having to go back to the little bus drivers' center to ask for a lighter and, since I'm already there, used the time to say 'thank you' to the guys inside, even if they never drove me I thank them for doing it and say that their work made my work possible. We start conversing once more, Woody, the guy that had once met Andy Warhol, and I. 


He tells me "Don't ever let your boyfriend give up on music, even if times get hard". I say I wont, say I'll always be there for him, to support, to stop him from giving up when things get complicated.  I say goodbye and farewell for them and the A bus, the one I'll never more catch, and he says "and hey, maybe we will see each again", and I say "yeah, and you will be playing, I'll be in a bar and you and my boyfriend will be there, playing, and you guys are going to play together". 


 - I still have my guitar - he says, and tell me the name of the guitar, which, of course, I don't remember - Just like Jimmy Page's one. - He tells me. 
 - Is it a Fender? - I ask. 
 - No, its a Gibson. But I have a Fender as well, it wouldn't be Rock'n'Roll without a Fender! 
 - No, it wouldn't - I reply. - Well, bye then and it was very nice to have met you!
 - It was indeed very nice, too bad we only had this conversation now, at the very end. 

And then I say:


 - Yeah, but thats what ends are for, right? To bring  new beginnings... 


* * *


And yeah, thats what ends are for, to bring new beginnings, right? 

Do que se passa em Washington D.C (jan/2008)

Quarta- feira, congresso Norte-Americano. Senado em sessao. Dois representantes de cada estado, 49 representantes republicanos, 49 democratas, um "livre", um democrata livre. No livretinho que explica como funciona o sistema uma ilustracao da camara com os nomes de cada senador e seu lugar no congresso, nomes como Obama e Clinton, com indicacoes dos seus estados. Uma meia duzia de adolescentes engravatados e com espinhas sentados no chao, ateh onde deu pra entender, eles sao responsaveis por levar agua e repor os papeis das mesinhas. Senadores presentes: 1.   
 
***

Rua H, 3 quadras da Union Station. Meus amigos moram em um predio de 3 andares, no primeiro, um espaco vazio que serve como galeria; no segundo, 1 quarto, 1 banheiro, coz(inha); no terceiro, 1 quarto e o estudio ou, simplesmente, computadores com adesivos de "talk nerdy to me" e um sem fim de aparelhos eletronicos empilhados. 

***

Eh claro que eu esperava ver o congresso cheio. Senadores vorazes, afoitos por expor sua opiniao, cheios de ideias para fazer deste planeta um lugar melhor. 

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A geladeira eh daquelas frigideres antigas, redondinhas, tipo "eh assim que serao as geladeiras do futuro" dos filmes da decada de 60. Branca. Igual a vemelha que a Bruna tem no quarto. Fica bem melhor no quarto da Bruna, como armario, do que disputando espaco com o armario das panelas e a dispensa que soh tem comida pra gatos em um canto da pequena cozinha, como geladeira. 

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"Faz sentido", pensei. Obama e Hilary nao estarem la, afinal, eles estao em campanha eleitoral e, discutivelmente, eh mais importante fazer campanha eleitoral do que manter a constancia diaria do trabalho no legislativo para tentar fazer algo. Sera o sonho de todo o legislativo eh ser executivo? Sera que o legislativo eh um executivo recalcado? 

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O que me deixou mais aflita em todo o senario cozinha foi ter tido mais dificildade em achar comida de gente do que comida de gato. Dentro, na geladeira, tudo empilhado, sanduiches meio-comidos enrrolados em papel aluminio e pacotes de vegetais velhos pela metade. Ja consegui achar uma coisa ou duas e cozinhei, mas eh dificil, me toma tempo e serenidade. Nunca falta comida, mas tambem nunca tem eh como se fosse sempre uma caca a comida, entende? Eu sei que eh mimado e mesquinho eu reclamar, ou mesmo descrever, nao eh meu e tem me sido oferecido de graca e com amor, mas, ainda assim, essas sao as impressoes que fico. 

Essa ausencia da possibilidade de comida tem mexido bastante comigo, esta me fazendo rever meus conceitos e, espero eu, amadurecer.

*** 

De onde eu consigo ver eh um par de ombros de terno que sustenta uma cabeca careca no centro, rodeada por ralos cabelos brancos e maos que se movimentam frenetica e enfaticamente, marcando o ritmo de cada um dos "Mr. President", para o presidente do senado, enquanto este, disfarcadamente, manda mensagens pelo celular por debaixo da mesa. Um velinho que parece simpatico, senador pelo estado de Vermont, esta propondo uma reducao no impostos de nao sei o que la e no reeembolso de nao sei mais o que, que pelo que eu entendi e um reembolso dado pelo governo sobre os impostos pagos. O que acontece eh que quem paga mais impostos, sobre uma fortuna maior, acaba por receber um reembolso maior, o que acaba deixando a sua fortuna maior, e quem tem menos grana e paga menos imposto, ganha menos grana do governo e acaba ficando com ainda menos grana. "Isso foi feito durante a admistracao Regan, e teve efeito. Esta na hora de pararmos com palhativos e tomarmos medidas efetivas para reestabelercer a economia. Ano passado um ....... de trabalhadores da construcao civil perderam os seus empregos, e com esta medida teriamos nos cofres do governo em torno de 500 bilhoes a mais, e com 500 bilhoes a mais poderiamos devolver o emprego para uma boa parcela desta populacao e fariamos a economia girar. Temos que parar de governar para os Bill Gates e Warren Buffets. Eu considero esta uma proposta sensata e solida para reestabelecermos a economia deste pais". Fim da sessao, o senador  se retira, o presidente envia sua mensagem. 

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Quinta-feira. Frio, bem frio. Pennsylvania Av, eu acho, algum lugar entre o Capitolio e  o Obelisco grande. Fui na National Gallery of Art, tudo free, duas visitas guiadas, uma sobre o seculo 19 na Franca, do Roccoco ao pos-modernismo na pintura, otima guia. Outra sobre arte moderna, nao tao otima guia, obras maravilhosas, Picasso de todos os jeitos, as sopas do Andy. 
Voltando pra casa depois de passar no Museu Aeroespacial pra saber a hora da visita guiada, pedi dinheiro na rua pra comprar chocolate. 

Nao me incomoda a humilhacao de pedir, me incomoda a incapacidade e a ansiedade de nao conseguir ficar sem chocolate, me incomoda o desespero que pensar em ficar sem chocolate me gerou, mas me fez pensar, e muito, acho que me fez crescer.

A imagem figurada do chocolade mostra mais do que o vicio infantil, representa um pouco da crenca infatil e ingenua que eu, ainda e ainda que envergonhadamente, ostento.  

Incrivel como sempre fui ingenua e, de alguma maneira ainda mais incrivel, eu ainda sustentava minha ingenuidade sobre argumentos que, para mim, pareciam bastante racionais. Verdade eh que sempre me ideintifiquei mais com a nacao de Warrent Buffets do que com a nacao de pessoas que fica mais pobre ao pagar impostos, sempre romanciei a vida e achei que no final, no meio, no caminho, eu de uma forma ou de outra seria ou continuaria a ser parte dos um por cento da populacao mundial da qual nasci parte e me criei como. 

Mas hoje, desesperadade pela ausencia da possibilidade de chocolate, me dei conta do que a grande maioria dos meus amigos ja sabe: Nao, eu nao nasci Warren Buffet, Warren Buffet nao nasceu Warren Buffet e se eu, algum dia, me tornar um centesimo de Warren Buffet, sera por muito, muito trabalho arduo, muito mais disciplina do que eu jamais exercitei em toda a minha pequena e ingenua vida e muito auto-controle para conter meu desespero e enterder que eu nem sempre terei chocolate. 

***

Quinta-feira. Rua H, frio, muito frio. Chego em casa encolhida e rabugenta, meu amigo me abre a porta com um sorriso, diz que eu "look hot", me conta que acabou de editar o video, me oferece um cigarro e chocolate.