terça-feira, junho 08, 2010

Há de se guardar sempre um pouco de solidão

Ai, quantas coisas na cabeça. Desde o último post não parei um segundo de pensar, sempre a circundar o mesmo tema.

Me separei e continuo arrasada, mas, enquanto o tempo não me cura, penso no que é bom e ruim, no que acontece nas relações, ou pelo menos nas minhas relações, pra tentar descobrir uma forma de crescer ou, ao menos, uma forma de fazer menos doer. No meio disso, junto fragmentos perdidos de tantas conversas que tenho tido pra tentar montar alguma verdade.

Do meu vizinho, peguei pedaços de um texto em que ele escreveu que existem 2 tipos de profile: o love profile e o self profile.  Quando estamos em love profile, segundo ele, não produzimos, não escrevemos, deixamos de escorrer nossa personalidade através dos mais diversos meios. É como o personagem do livro que estou lendo em que o protagonista, que é um escritor obstinado, diz não ter um amor por uma mulher e declara: " em cada vagina, há a morte de um artista", ou algo do gênero. Já quando estamos em low profile, segundo ele, é quando mais produzimos, mais nos relacionamos com o mundo, mas escorremo-nos para o mundo. É mais ou menos como o estado de solitude e o estado de paixão que escrevi a uns dois textos atrás.

Quando li este texto dele (ele sempre pede uns pitacos) acrescentei mais um profile, o self profile, acabei o texto falando que, independente de estarmos sós ou acompanhados, o que não podemos abrir mão é de sermos nós e assim, a última frase foi "estando em low profile ou estando em love profile o devemos mesmo é ser self profile". E eu achei esse acréscimo ao texto genial da minha parte. Amar o outro sem abrir mão de si, a fórmula para o sucesso absoluto das relações. 

Estava me sentindo uma idiota imaginando que só eu passava por este tipo de sentimento quase humilhante, onde depositamos no outro mais energia do que em nós mesmo e esse: é o princípio do fim. Mas me senti menos idiota ao falar com tantas pessoas que me confessaram o mesmo comportamento e descobri que esse problema de medida do quanto se entregar e o quanto se preservar é o número 1 dos conflitos de relacionamento. O que me leva para outra conversa que tive, de onde tirei outro pedaço de verdade:

Falavamos exatamente sobre isso, um jovem de 60 anos, uma mulher de 34 e eu, do alto dos meus 23 anos, compartilhando experiências muito similares. Até que o senhor disse, "mas eu já muito passei por isso, e não vou mais passar, prometi a mim mesmo". E eu perguntei "e eu, que já me prometi isso, mas relação após relação, continuamos comentendo os mesmos erros". Os dois extremos em conflito, a experiência convicta e a juventude angustiada. Ai falou a doce mulher, o meio do caminho entre nós, e disse que isso é uma coisa que se conquista, mas que precisamos sentir com o coração. Disse que eu já tenho isso na cabeça, mas que ainda não sinto essa força, enquanto o senhor, com toda a sua experiência, já sente que não vai mais se perder. 

Acho esse um pensamento acolhedor: de que sempre podemos conquistar a nós mesmos e que é um processo de aprendizado, não se nasce sabendo a medida, se aprende a amar a medida que se ama. Adorei esse pensamento, ele nasceu agora, enquanto eu escrevia esse texto, não tinha programado ele e me fez sorrir por dentro e me acalmou: eu posso aprender a conquistar a mim mesma. Ufa, me caiu um peso dos ombros agora... 

Mas continuado, o último retalho de pensamento veio mesmo da pessoa que amo. Em um dos tantos descompassos da nossa relação, um dia ele me disse "eu me sinto sozinho". É claro que isso é ruim, sentir-se só quando temos um companheiro é assolador e muitas vezes nos faz pensar se a relação vale mesmo a pena. Mas acho que não falo só por mim quando digo que, ás vezes, depositamos na pessoa com quem nos relacionamos uma série de cargas que não são dela e acabamos esperando que ela ocupe todo aquele espaço vazio que temos e que, de certa forma, é o vazio que nos faz andar, que dá espaço para que surjam novas coisas. Não estou falando dele, estou falando de mim, eu faço isso. Me privo do meu próprio vazio, do meu próprio espaço. 

Acho que muito do que nos faz ir pra frente, querer coisas novas, é essa pequena angústia que carregamos, a angústia da qual falava o meu amigo quando disse que nos relacionamos mais com o mundo quando não estamos nos relacionando. Sim, buscamos preenxer nossos vazios por nós mesmo. 

Por que isso deveria mudar quando nos relacionamos? Por que essa carga tão pesada deve ser passada para a outra pessoa? Por isso que digo que há de se guardar sempre um pouco de solidão, há de se guardar sempre um espaço vazio para que a gente busque em si uma forma de completá-lo e, assim, não se perca no  outro. 

No momento, eu quero de volta pra mim todos os vazios que emprestei pra outros, pra poder enxer eles de coisas minhas e me conquistar, pra não entregar mais meus buracos pra outras pessoas. Só assim poderei me relacionar: comigo e com os outros.   

domingo, junho 06, 2010

Sobre finais

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Eu não devia, mas vou postar esse texto.

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Em um dos tantos vai-e-vens da vida, acabei meu namoro há uns 2 dias. Ironicamente, eu chamava ele de “o namorado da vez” para alguns amigos, pensando nessas ações que se repetem - nos apaixonarmos, nos entregarmos, passarmos a passar mais tempo juntos do que deveríamos, passarmos a deixar nossas vidas “próprias” em segundo plano, descobrirmos que temos mais diferenças um com o outro do que supomos ao primeiro encontro, começarmos a sentir falta das nossas “vidas próprias”, começarmos a nos sentir sozinhos quando estamos acompanhados deles, começarmos a deixar as mais pequenas coisas tomarem grandes proporções, nos separarmos. Esse enredo que tende a se repetir relação após relação. 

Mas a verdade é que por trás dessa racionalidade de quem supostamente conhece a história, estou arrasada. Faz dois dias que acabamos e dois dias que não paro de chorar. Eu concordo que tínhamos que acabar, concordo que não dava mais e, sinceramente, o fato de eu não parar de chorar só prova o quanto as coisas já estavam passando dos limites. Eu não deveria chorar tanto assim, ainda mais se estava sofrendo, ainda mais, ainda mais... Mas estou chorando. Me sinto perdida, reconheço as qualidades dele que antes não via, passo a não dar tanto valor às coisas que me machucavam tanto, me dou conta do quanto o relacionamento se tornou  um alçapão que eu usava para não ver a bagunça do meu próprio sótão. Agora, sem ele, o sótão me parece totalmente vazio. 

O engraçado de tudo é que muitas, vezes, nesses momentos de final, onde choramos pelo amor que vamos deixar de compartilhar ao mesmo tempo em que ponderamos porque não podemos mais estar juntos, caem os muros que nos protegem e conseguimos ter as mais honestas conversas. Conversas que fazem com que realmente nos sintamos íntimos da outra pessoa, conversas que deveriam ser a base do relacionamento onde o silêncio toma conta. Nessa conversa, ele me falou coisas lindas. Contou seus segredos, o que agora pra mim, parece como uma grande prova de amor. 
Ele me falou que conseguia se ver traçando um caminho na vida e conseguia ter a certeza de que esse caminho levava à algum lugar, o cumprimento de um destino que era seu. Isso mexeu em mim tão profundamente. Acho que é por este trecho da conversa que ainda choro irracionalmente. Me dei conta de que não tenho essa certeza. Pra mim, neste momento, tudo me parece vão, tudo me parece sem sentido. Não vejo um propósito maior a cumprir, não sou motivada por uma grande paixão que me move a fazer o que gosto. No momento de transição em que me encontro, entre a vida jovem e a vida adulta, me pergunto: então é mesmo só isso? Trabalhar, voltar pra casa, talvez jantar, ver tv, dormir, trabalhar, voltar pra casa....
Consigo ver algumas alguma respostas possíveis: se o trabalho é recompensador, se você ama o que faz, então vale a pena. Se ao voltar pra casa, há alguém com quem dividir a rotina, alguém que se ame, então vale a pena. E quando nos damos conta de que não? E se as respostas forem: não, eu não sou apaixonada pelo que faço, faço o que tenho que fazer, faço pelas contas no final do mês e, pior ainda, não sou apaixonada por nada o suficiente para dizer que vou me dedicar a fazer o que gosto. E se não se encontrou o tão falado “amor” que faz as coisas todas valerem a pena? 

Não sei. É por isso que choro. Tento me consolar dizendo que o “o caminho se faz caminhando”, que não há como se saber ao certo para onde se vai, que há de se ter fé na caminhada.  Mas no momento não tenho. Como disse pra ele durante a conversa honesta: me sinto sozinha, à deriva em um mar a perder de vista, em um barco de papel. A resposta dele foi tão madura, tão carinhosa, tão difícil. Ele disse: por que tu não arruma o teu barco, deixa ele bem bonito e pára de esperar que alguém venha te salvar?

Que bela resposta. É um bom caminho. É difícil e solitário, e demorado e dolorido. Mas vou ter que seguir, e isso me convence do quanto ainda não posso simplesmente voltar para o relacionamento e parar de chorar. E isso me faz chorar. Sinto saudade. E tenho medo. E isso é o mais honesta que consigo ser.