sábado, outubro 23, 2010

Tá faltando ótimo na praça



Esses dias caminhava com minha irmã e uma amiga, saíamos de uma dessas padarias com status que agora estão na moda por aqui, quando vivmos uma janela com uns adesivos de passarinhos colados. Fez barulho na paisagem aqueles passarinhos, inseridos ali, alheios aos cimento. Imediatamente comentamos: "Que ótimo aquilo!", ao que minha amiga disse: "Finalmente uma coisa ótima".

É esta a sensação. Muitas vezes me pego a olhar para o navegador da internet pensando o que eu poderia procurar, desejando encontrar alguma coisa ótima. Fico a procura de estímulos, coisas inteligentes, relevantes, sensíveis, engraçadas, inspiradoras. Espero por algo que seja capaz de mudar de alguma maneira o meu humor. Sabe aquelas pequenas fagulhas que nos levam para outros universos? Dão vontade de viajar, de ligar pros amigos, de sair para um bar, dão vontade de ficar horas no quarto lendo. Essas coisas que dão vontade de viver.

Mas, infelizmente, tenho encontrado poucas dessas. Acabo sempre nos mesmos blogs, procuro pelo twitter,  leio todos os status do facebook, todo esforço em busca de alguma coisa ótima. E não acho. Acho algumas coisa bem legais, divertidas, engraçadinhas, mas ótimo mesmo, tá faltando na praça. 

Enquanto escrevo esse texto me deu uma luz. Fiquei pensando que fico procurando uma foto ótima, uma frase ótima, pequenas coisas ótimas. Mas coisas ótimas são difíceis de fazer. E deve estar aí o segredo. Estou tentando comprar ótimo como quem compra pão, mas não é em toda fornada que encontramos ótimo. Essa coisa da internet, essa coisa da ansiedade, essa coisa da vida rápida assim, dos trailers que só mostram a parte boa tudo em 30 segundos, faz a gente ficar mal acostumado com as coisas. Faz a gente esquecer que ótimo exige esforço, pra fazer e pra encontrar. 

Agora fico me sentindo uma palhaça, que espera que o ótimo caia no seu colo sem o menor esforço. Isso nem é merecido. Pobres de nós, humanos, que tendemos a não dar valor àquilo que nos acontece sem esforço. Tenho certeza que se eu passar mais tempo procurando o ótimo e menos tempo reclamando por não encontrá-lo, vou dar mais valor pras pequenas coisas que me aparecem na frente.

Esse texto não é ótimo, nem perto disso. Mas é, pelo menos, um texto honesto, sem firulas, que nasceu sem nenhuma pretenção de ser ótimo. E, pelo menos isso, é ótimo sobre ele. Honestidade é outra coisa que anda faltando na praça. Tudo anda muito rebuscado e pouco verdadeiro e, quando falo em ótimo, talvez eu esteja falando é mesmo sobre isso: verdadeiro, humano. Coisas que tocam fundo. A internet (e não só ela) tá cheia de engraçadezas superficiais, mas parece que tem uma preferência geral por fazer piadinhas imbecilóides a tentar falar sobre coisas de verdade. 

Virei uma velha resmungona, vou acabar o texto por aqui, mas que tá faltando "ótemo" na praça, isso tá. 

sexta-feira, outubro 15, 2010

Acasos e seus casos

*** 
(onde o pensamento meu encontra a fronteira do mundo e, encantado, cruza a alfândega)


 Do meu lado senta a escritora mais famosa da cidade. Do lado dela, quero crer eu, uma das redatoras publicitárias de maior renome, também escritora. Essas pessoas de grandes nomes, tendemos - ou tendo - a pensar, tem tudo resolvido - all figured out. Ocorre que estou aqui sozinha, esperando que o evento comece e, na minha condição de Godot a espectar o tempo, não posso me furtar a furtar algumas conversas...

Uma conta causos da sua vida; a outra dá conselhos; e é estranho ser ouvinte desse diálogo: causos iguais aos que passei, medos como os que eu tenho, conselhos como os que eu daria. Curioso. Me pergunto se é arrogância da minha parte me identificar com elas ou se é pura humanidade de todas nós, vivendo dos mesmos acasos. Agora, vamos todas silenciar. Vem falar um escritor maior que todas nós. Um escritor que é tão grande que, quando o leio, não me sinto distante, mas compreendida, encontrada. 

Vai ver ser grande é, no fundo, ser mesmo bem pequeno. Pequeno de ter medo, de pedir conselho, de não saber o que fazer. Pequeno de entender que somos todos do mesmo tamanho, igualmente grandes; e grande, tão grande, de tornar grande e universal o que é o pequeno particular de cada um. Grande de sofrer dos mesmo acasos de todos nós. E de viver de narrar seus casos.  

(uma noite entre escritores, prefeitos, figurões e figurinhas - Vargas Llosa, Porto Alegre, Out/2010)