terça-feira, novembro 30, 2010

Hoje

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Hoje é terça-feira e, como é de costume para as terças-feiras, tive terapia.
Passei a sessão falando de coincidências felizes e dos movimentos sincrônicos das coisas: um e-mail que chega, uma ligação no momento exato, uma oferta "inesperada".

Pois, hoje, achei que tinha visto a minha avó na rua - o que é estranho, porque vejo pouco a minha vó e, na rua, nunca tinha visto. Então saí da terapia e me preparava para atravessar a rua quando vi a minha vó (a mesma que achei que tinha visto pela manhã) do outro lado da rua, na frente do meu prédio. Até agora não entendi muito bem o que a minha avó fazia na frente do meu prédio, mas sei que fui almoçar com ela na casa da minha tia. 

Enquanto falava com a minha vó, encontrei meu ex-colega de trabalho que passava, também, pela frente do meu prédio. 

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Hoje, 3 dos meus melhores amigos, os quais, costumeiramente, sou eu quem procura, me ligaram ou escreveram para dizar que estavam com saudade.

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Hoje é meu último dia de trabalho e hoje, muito aleatoriamente, meu celular - que tem uma personalidade forte e muita vontade própria - auto-colocou-se em modo avião e ligou o bluetooth e o GPS.

Será que meu celular quer que eu vá viajar? 

Mas imagino que, caso queira, quer que eu faça isso mantendo "os meus" informados sobre meu paradeiro. Concluo isso pelo GPS ligado e pela estranha sobreposição de pessoas que, hoje, apareceram para saber de mim.

Concluo também que meu celular quer que eu me mantenha conectada com as pessoas e continue a trocar. Concluo isso pelo bluetooth ligado e pela estranha sobreposição de pessoas que, hoje, apareceram para saber de mim.

Além disso, fruto de uma associação que agora não consigo mais reproduzir, pensei na caixa de Pandora e concluí que, apesar de todos os males, onde há curiosidade, há esperança.

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Não sei exatamente o que tudo isso significa, nem concluo nada a respeito deste texto. Mas muitas coisas curiosas aconteceram, hoje.



(Hoje, 30 de Novembro de 2010)

sábado, novembro 27, 2010

Às vezes, velhos pensamentos ganham novos sentidos

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Posto esse texto outra vez. Não porque não tenha mais nada pra postar (ainda que isso possa ser verdade), mas porque antigos pensamentos andam ganhando novos sentidos por aqui.

Só que, dessa vez, a Fernanda sou eu.

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Quando estamos batidos


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Começa aqui mais um texto na “língua do uma vez”.

Acabo de voltar da tabacaria, sai de uma consulta médica e me calhou passar por ali.
Sentei na rua, estava quente e abafado. Sentaram ao meu lado duas senhoras muito simpáticas e, com as duas mesas disponíveis ocupadas, uma menina vestidas com roupas meio hippies pediu licença para sentar à minha mesa.

Começamos a conversar, seu nome é Fernanda, ela é psicóloga mas há tempos não atua. Está aqui passando férias, acabou de voltar de uma missão de proteção a civis no Siri Lanka, onde trabalhou durante 1 ano.

Falamos sobre como encontros casuais as vezes definem nossas vidas mais do que imaginamos e me contou como ela largou tudo para o alto e foi fazer um curso na Romênia, onde conheceu um americano que é o amor da sua vida.

Ela me perguntou se eu conhecia algum professor de espanhol, pois seus planos são ir para a Argentina, tem um curso que ela quer muito fazer, mas está com medo de chegar lá direto para o curso e não entender a língua. Ao me contar isso, eu perguntei porque ela não ia antes, já que não estava fazendo nada aqui mesmo, e isso me lembrou de uma velha história que vi uma vez e me marcou muito:
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Uma vez eu ainda veraneava em um hotel muito simpático em Xangri-lá. O hotel tinha um ótimo corpo de recreacionistas, os quais eu adorava.

Uma vez eu olhava enquanto uma das recreacionistas jogava Canastra com um hóspede. Enquanto jogavam, chegou um outro recreacionista e falou que ela precisava sair, que estava sendo chamada. Ela, interessada no jogo, falou que já estava indo. Foi assim que aconteceu ou, pelo menos, é assim que me lembro.

O outro recreacionista pô-se a olhar para o jogo dela e, apontando para algumas cartas e mudando-as de posição disse:

Tu está batida. 

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Fernanda já está batida, ela pode ir para Argentina quando quiser e apenas não tinha se dado conta disso.

E quantos de nós não estamos batidos sem nem perceber??

Às vezes estamos tão atentos às canastras, ao adversário, aos jogos jogados, que não nos damos conta que estamos batidos e nem percebemos.

É preciso estarmos atentos. E, vez por outra, ajuda bastante sentar em um café e deixar que um amigo nos mostre o nosso próprio jogo.... Boa sorte, Fernanda. Boa sorte, jogadores.


Bibiana Xausa Bosak, Porto Alegre, 06 de Janeiro, 2010