quinta-feira, dezembro 23, 2010

Retrato de Pessoa (revisitado)

Texto turístico escrito por paixão e editado para a revista Noize nos tempos longuínquos de 2006. Ainda que com um caráter "guia do mochileiro das galáxias europeias" demasiado pro meu gosto, gosto. 

Republico-o porque uma amiga vai a Lisboa e sorrio porque quero ouvir o passaredo. Quero sempre ouvir o passaredo. Voa, voa... 

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Retrato de Pessoa



“Pois...”

Lisboa é um magrinho de óculos. É uma cidade para ser descoberta em uma conversa tranqüila, ao sabor de Pasteis de Belém com canela; no pôr do sol, a beber uma “imperial” no Adamastor ou um Vinho do Porto a beira do Tejo; onde, em pequenos detalhes, acabamos por nos apaixonar. 
Um lugar que não combina com pressa, onde as direções são conquistadas, não indicadas. É um magrinho encantador, daquele tipo de gajo que nunca é o centro das atenções, mas que é capaz de manter a atenção de uma mulher por horas só com sua fala e seu olhar. 
Não por acaso Lisboa são as pessoas de Pessoa, o coração quente e o sorriso acolhedor da latinidade européia de impecável correção gramatical, moldado pelo sotaque tão cômico que chega a ser doce mesmo que falado por um Camões de roupas pomposas ou com a ranzinzice tipicamente lusitana de uma das demasiado humanas personagens de Queiroz. 

“É pá, tais a ver?”

Na infinidade de bares do Bairro Alto alocam-se os pontos de encontro da boemia lisboeta; da boemia de todas as idades lisboeta: amores e desamores em bebericos e conversetes. Bares, restaurantes, lojas, estúdios de tatuagens, mais dezenas de bares, tapas, imperiais: um universo em ruelas apertadas em “sobes-e-desces”.

“Fixe. Muito giro!”

Mas tal magrinho conhece também o encanto de palavras eruditas e nem tudo é miudezas. A arquitetura mesmo muito rica do Monastério dos Jerônimos – santuário que transborda paz - marcada pelo original Manuelismo e a herança de monarquias se misturam com a tentativa do país de modernizar-se, o que pode-se ver ao visitar a Videoteca de Lisboa, onde se assistem filmes de graça; ao CCB, lugar que acolhe grandes exposições de arte ou, ainda, em alguns dos concertos, que vão do Fado ao Rock, no Castelo de São Jorge.
A cidade é um poeta e heterônimos. Uma personalidade, e muitas: na delicadeza e acolhimento, não perdendo o brilho e genialidade que formam esta, hoje moderna, cidade secular. Correndo o risco de ser piegas ao parafrasear clichês, arrisco-me dizendo que: ao sentar-se nas ruínas do Castelo, no topo de uma das suas das 7 colinas e observar o Tejo encontrar o mar e o velho encontrar o novo, qualquer um diria que a não-pequena alma de Lisboa faz tudo valer a pena.

Tasse bém. Tasse muita bém!”