terça-feira, janeiro 25, 2011

Presente de Aniversário - A Coroação


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Vou poder contar para os meus netos que, certa vez, conheci um rei. É bem verdade que somos todos um pouco reis dos nossos castelos do imaginário, mas este rei que conheci tinha uma vantagem competitiva sobre nós: ele era Rei dos Reis. Não só vou dizer aos meus netos que conheci um rei, mas também que beijei seus lábios. Ora, vejam só, eu beijei - e bem mais de uma vez - os lábios de um rei.

O meu rei falava muito, tinha infinitas estórias das terras distantes pelas quais passou. E eu passava horas e horas, encantada, ouvindo suas aventuras. Meu rei gostava de falar que falava muito para dizer pouco, mas qualquer um que passasse com ele um par de horas saberia que isso não é totalmente verdade, pois meu rei, com uma simplicidade quase irritante, em curtas e belas frases, me presenteava ensinamentos de uma vida. Meu rei era também artistas, era frasista, era poeta. 

O que mais gosto nessa história é a maneira como nos conhecemos. Conheci-o por acaso, amigos em comum - eu tinha uma amiga que era amiga do rei - na primavera em que eu tornava-me mulher e ele, rei. Vínhamos de um inverno rigoroso, nós dois: meu rei, ainda príncipe, sentia as dores profundas dos príncipes que, muito antes de estarem prontos, devem tornar-se reis. Ele assumia seu reino e eu vivia todas as dores e os prazeres dos primeiros passos como mulher. 

No pouco tempo em que convivemos, meu rei me ensinou tesouros raros e caros. Com ele aprendi um pouco mais sobre ser mulher e quero crer eu que ele, comigo, aprendeu um pouco mais sobre ser rei. Vai-se a arrogância do príncipe juvenil e o que resta é a majestade do homem rei. E eu vi isso acontecer.

Um dia vou poder contar para os meus netos que vi um príncipe tornar-se rei.


   

Bibiana Xausa Bosak
Brasil - em trânsito
29.12.2010 - aniversário do rei. 

Botando a coisa em dia

Blog anda miles desatualizado, então vamos lá que piano piano botamos tudo em dia.
Vou começar pelo começo então, o começo de 2011: 


MilNovecentos&DoisMileDez

O ano acaba com o mar de Santa Catarina acolhendo meu corpo, que boia no azul confortavelmente frio das águas de Dezembro no sul dos trópicos. Ondas calmas, o esforço para que conseguíssemos jogar frescobol por um tempo minimamente razoável, a família. Um ano que acaba assim só pode ter sido um bom ano. Independente do que aconteceu, boiar no mar azul do dia 31 de Dezembro mostra que sobrevivemos, que sobrevivi. 

Não foi um ano de derrotas, muito, muitíssimo pelo contrário. Mas não foi um ano de glórias douradas. Não. Foi um ano de muitas batalhas...

Como um roteiro de filme argentino, a trama de 2010 foi feita de conflitos internos, onde heróis e anti-heróis confundem-se e trocam de papeis a todo o momento; me fazendo entender que ficaram para trás as películas em preto e branco e dicotômicos contrastes. Descobri em 2010 que a vida é nunces... de cinza.

Uma das últimas lições que aprendi (e será que já aprendi?) é que as cores são muito, muito raras e que são muito, muitíssimo caras e que tenho que parar de sair por aí entregando minhas poucas cores feito arco-iris. Há um motivo para que os arco-iris só se mostrem de quando em vez!

Sempre fui mais dada ao universo dos hábitos intensos aos hábitos eternos, mas, neste ano, me aventurei pela constância, pela rotina, e é na constância que reside o eterno. Ainda não sou muito boa nisso, mas estou me esforçando. Estou me esforçando para muitas coisas: para perder 20kgs que adquiri por não ser mais seletiva aos pesos que me permiti carregar; para recuperar o equilíbrio do qual descuidei por já o considerar conquistado; e para diminuir a disparidade entre a flexibilidade que eu acho que tenho e a distância que minhas pernas, de fato, alcançam.

Essas coisas doem mais fundo do que as palavras lhes faz parecer e perturbam tanto este mar azul aqui na frente que a vontade que dá é de fazer uma auto-trepanação e jogar meu cérebro ao mar. Talvez assim minha cabeça fique mais leve. Quanto dos kilos que tenho que perder não serão em consciência? Acho que só meu travesseiro, e o tenho visto pouco, conseguiria responder.

Mas foi um bom ano. Um ano em que carreguei este peso a mais e ainda assim boiei no amor das águas de Dezembro. Conquistei muito também, e começo a aprender que as mais importantes conquistas são silenciosas e que, também eu, devo silenciar mais.

Já acreditando que encerrei o relato, talvez por estes sentimentos tanto estarem gritando em mim que mal consigo ouvir minha caligrafia, termino também este texto, desejando que no próximo ano haja menos paixões e mais amor, menos ilusões e mais realizações. E que, no meio de tudo isso eu consiga, de alguma forma, não perder a ternura.

Deixo alguns pesos para trás. Encerro milnovecentosedoismiledez. O próximo ano será, levemente, 2011. 



Bibiana Xausa Bosak
31 de Dezembro de 2010
bar a beira mar, Garopaba, SC, Brasil