quarta-feira, setembro 07, 2005

Diário de Bordo

Diário de Bordo


7 de Setembro de 2005


Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Sobre a terra descobri: Que é um lugar muito árido, nada aconchegante e que requer prática para que se consiga andar com maestria por entre seus tortuosos e inóspitos caminhos. E, embora a legislação local preze liberdade total a seus cidadãos, tenho observado que os nativos desse lugar parecem aprisionados. Andam por entre ruas de caras amaradas, poucos sorrisos nos lábios e passou ligeiros de quem vai de algum lugar para algum lugar, sem se interessar pelo caminho, sem esperar nada novo ao virar da esquina.
Vim para cá com muitas expectativas, pois tive contato com um nativo daqui que teve, sobre meu mundo, imensa vantagem, devido as suas características tipicamente kriptonianas.
Porém, sobre o povo, descobri: Que tudo o que fazia, do meu amigo, especial, aqui não se faz mais que necessário e é característica banal e imprescindível para sobrevivência nestes trópicos. É um povo dotado, sim, de muitas qualidades. São privilegiados, se não todos, a grande maioria com grande sabedoria, mas receio ter que salientar que esta sabedoria se apresenta para mim na forma de pura ranzinzisse. Andam todos por entre companhias e, embora, eu não converse diretamente com eles, ouço, ao passar do ouvido palavras que versam sobre como cada um deles já havia previsto que toda esta mal feitoria aconteceria; que com seus poderes de olhar de raio X (que aqui não são poderes, pois todos possuem) já haviam visto e previsto que isto estava por vir; ouço, enfim, se gabarem, a cada punhado de palavras, o quanto são insurpreendíveis. E então, eu, pobre de mim, que não tenho olhar de raio X, que não tenho super poderes, formulo palavras tortas e os olho com certa pena, pois o que realmente parece a mim é que, se eles julgam serem bons demais para surpreenderem-se, o que em realidade ocorre é que perderam, eles mesmos, a capacidade de surpreender e de se surpreender com qualquer coisa que seja, talvez um belo canto de passaro ou o formato de uma nuvem e, se isso para eles é sabedoria, guardo para mim as palavras infames de que prefiro minha infantil ignorância.
Uma coisa se fez notar: Em Kripton não vi crianças. Aparentemente já nascem todos adultos... E também não vi cachorros, parece me que dentro da total liberdade deles, o sacudir alegre de um rabo canino deve ser proibido.
Mas nada disso é realmente relevante, depois do que vi, assim de passagem, e que só eu devo ter visto, pois estava de passagem e, diferente de todos eles, estava muito preocupada em olhar para os lados, em me surpreender, em descobrir algo que não sabia. Diferente de todos eles que já sabem tudo.
Eu andava, nada distraída. Uma esquina, direita. Outra esquina, esquerda. Na próxima, sigo reto e, então vi, em não uma pessoa, mas em algumas, lágrimas.
Vi kriptonianos que não sabiam tudo.
Vi kriptonianos que não haviam visto e previsto tudo.
E, embora, fossem lágrimas naqueles olhos, naquele momento senti que talvez naqueles kriptonianos pudesse haver sorriso e que, talvez eles possuíssem, escondidos, cães com rabo que balançam...
Naquele momento percebi que os kriptonianos não sabem de tudo.
Que os kriptonianos não são capazes de ver e prever tudo...
E que exatamente por isso, nesses lapsos de inconsciência, talvez ainda sejam capazes de sorrir, talvez ainda sejam capazes de se surpreender...


7 de setembro de 2005

Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Sobre a terra descobri: Que é um lugar muito árido, nada aconchegante e que requer prática para que se consiga andar com maestria por entre seus tortuosos e inóspitos caminhos.
Porém, sobre o povo, descobri: Que são carrancudos e que escondem atrás da arrogância sua fragilidade. Presumo que a aridez do solo tenha tornado árido seus próprios corações e que, hoje além de se protegerem das maldades do frio, se protegem também das maldades que deixaram cultivar no estágio mais profundo da sua estrutura social.
A festa mais famosa de Kripton é um baile de máscaras, acontece todo ano ao entrar da Primavera, e neste pequeno tempo é quando, mascarados, se deixam livrar das mascaras que carregam todos os dias e se libertam um pouco das grades de sua liberdade juramentada em lei.
Sinto falta da minha terra natal, mas quando embarquei na viagem fui alertada – “a ida para Kripton é um caminho sem volta, a entrada em sua atmosfera destrói a nave que protege os viajantes, sendo assim, aos que lá chegam é impossível retornar”. – A principio não me preocupei, pois quem iria querer retornar de uma terra de Super - Heróis??
E foi só quando cheguei a Kripton que descobri: Não existem Super - Heróis.


7 de setembro de 2005

Já Faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Mas já me assemelho cada vez mais com os Kriptonianos, ou melhor, já pelo menos os decifro, os desvendo, por trás de suas máscaras.
Os Kriptonianos são tão frágeis, ou mais frágeis, do que nós.
Os Kriptonianos aprenderam a esconder-se.
Os Kriptonianos são um povo dotado, sim, de muitas qualidades. São privilegiados, se não todos, a grande maioria com grande sabedoria, o que os torna mais aptos e ao mesmo tempo os limita imensamente, em uma amplitude que, a muito, perderam a noção.
Vasculhando, entre arquivos antigos, fiz uma descoberta um tanto alarmante que, admito, me encheu de imensa preocupação. Descobri que não existem nativos de Kripton, que todas as pessoas que aqui vivem vieram, como eu, de um lugar chamado Terra. Isso explica o fato de aqui não se encontrarem crianças.
Sinto falta da minha terra natal, mas quando embarquei na viagem fui alertada – “a ida para Kripton é um caminho sem volta, a entrada em sua atmosfera destrói a nave que protege os viajantes, sendo assim, aos que lá chegam é impossível retornar”. – A principio não me preocupei, pois que iria querer retornar de uma terra de Super - Heróis??
E foi só quando cheguei a Kripton que descobri: Não existem Super - Heróis.
Destruo, assim, minhas ilusões.
Receio que me abandonem junto com a minha inocência.
Agarro-me agora com toda a força as poucas recordações que tenho do lugar de onde vim. Sofro hoje em abandoná-lo, mas luto para que se mantenha em mim, parte do lugar florido de onde vim.


7 de setembro de 2005

Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Começo a pensar em constituir residência aqui e, como uma das primeiras providências, decido-me: Terei, mesmo que escondido em casa, um cão que abane o rabo.


9 de setembro de 2005

Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.

Este texto é um tratado sobre infantes – adultos – e o fim dos Super-Homem.