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Vou poder contar para os meus netos que, certa vez, conheci um rei. É bem verdade que somos todos um pouco reis dos nossos castelos do imaginário, mas este rei que conheci tinha uma vantagem competitiva sobre nós: ele era Rei dos Reis. Não só vou dizer aos meus netos que conheci um rei, mas também que beijei seus lábios. Ora, vejam só, eu beijei - e bem mais de uma vez - os lábios de um rei.
O meu rei falava muito, tinha infinitas estórias das terras distantes pelas quais passou. E eu passava horas e horas, encantada, ouvindo suas aventuras. Meu rei gostava de falar que falava muito para dizer pouco, mas qualquer um que passasse com ele um par de horas saberia que isso não é totalmente verdade, pois meu rei, com uma simplicidade quase irritante, em curtas e belas frases, me presenteava ensinamentos de uma vida. Meu rei era também artistas, era frasista, era poeta.
O que mais gosto nessa história é a maneira como nos conhecemos. Conheci-o por acaso, amigos em comum - eu tinha uma amiga que era amiga do rei - na primavera em que eu tornava-me mulher e ele, rei. Vínhamos de um inverno rigoroso, nós dois: meu rei, ainda príncipe, sentia as dores profundas dos príncipes que, muito antes de estarem prontos, devem tornar-se reis. Ele assumia seu reino e eu vivia todas as dores e os prazeres dos primeiros passos como mulher.
No pouco tempo em que convivemos, meu rei me ensinou tesouros raros e caros. Com ele aprendi um pouco mais sobre ser mulher e quero crer eu que ele, comigo, aprendeu um pouco mais sobre ser rei. Vai-se a arrogância do príncipe juvenil e o que resta é a majestade do homem rei. E eu vi isso acontecer.
Um dia vou poder contar para os meus netos que vi um príncipe tornar-se rei.
Bibiana Xausa Bosak
Brasil - em trânsito
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