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domingo, dezembro 27, 2009

Sentimento #2: Convite a Loucura

A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa. Todos os convidados foram. Após o café, a Loucura propôs:

-  Vamos brincar de esconde-esconde?

- Esconde-esconde? O que é isso? - perguntou a Curiosidade.

 - Esconde-esconde é uma brincadeira. Enquanto conto até cem, vocês se escondem. Depois de terminar de contar, eu vou procurar e o primeiro a ser encontrado, é o próximo a contar.

Todos aceitaram brincar, menos o Medo e a Preguiça.

- 1, 2, 3.... - a Loucura começou a contar.

A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore enquanto a Alegria corria para o meio do jardim. Já a Tristeza de agarrou direto na Dúvida, e começaram as duas a chorar pois não conseguiam encontrar o lugar ideal para se esconder.

A Inveja acompanhou o Triunfo e se escondeu perto dele, debaixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e seus amigos iam se escondendo. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já ia contando o 99.

- 100! - Gritou a Loucura - Vou começar a procurar!

A primeira a aparecer foi a curiosidade, já que não aguentava mais de vontade de saber quem seria o próximo a contar. Ao olhar para o lado, a Loucura logo achou a Dúvida em cima de uma cerca, ainda sem ter decidido aonde se esconderia.

E assim foram todos aparecendo, a Alegria, a Tristeza, a Timidez. Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou:

- Onde está o Amor?

Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurar: procurou em cima da montanha; nos rios; debaixo das pedras; nada do Amor aparecer.  Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos quando, derrepente, ouviu um grito de "Ui!".

Era o Amor, gritando por ter furado o olho com um espilho. A Loucura enlouqueceu sem saber o que fazer: pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu seguí-lo para sempre.

O Amor aceitou as ofertas. Hoje, o Amor é cego e a Loucura o acompanha sempre.

Mil Novecentos e Dois Mil e Poucos, tipo 2003, acho eu.

domingo, dezembro 20, 2009

Caralho, fui mesmo eu quem escreveu isso? (da série: nem sabia que isso existia)

Fico imaginando um leitor perfeito. quero um leitor que já saiba de tudo, um leitor à quem não se precise explicar nada. explcações são perdas de tempo, são voltas que damos para fugir do óbvio, no inevitável, daquilo que pode nos apaixonar.

Quero um leitor eu. a única leitora dos livros que não vou escrever e, mesmo se escrevê-los, não vou ler, mas, ainda assim, quero que ele exista: o meu perfeito leitor imaginário. Isso me tira das costas um peso horrível de ter que escrever para alguém de determinada forma que este alguém tenha que entender. ai que saco. será que dá para não termos que entender. nem explicar. É porque é. Ponto. Já não é suficiente isso? Será que só Deus tem essa prerrogativa de somente ser. Mas que diabos, quero ter sentimentos que somente sejam. Quero ter textos que somente sejam. Quero ter prazeres que somente sejam.

O mais engraçado disso é que quero - falo no singular tendo certeza que que me refiro ao plural humano - tudo isso compartilhado. Fica esse sonho agudo no fundo da mente sonhando em compartilhar toda essa explosão de sentimentos, mas, então, eu teria que explicar, e conversar, e me esforçar em monitorar o sentimento da outra pessoa para ter certeza de acreditar que ela tenha entendido. E tudo isso é mesmo muito desgastante. Exercitar o silêncio. Exercitar o silêncio. Alguém, por favor, pode ensinar essas mil vozes dentro da minha cabeça a exercitarem o silencio?

E aí está outra contradição. Querer companhia, mas não querer vozes. Querer compreensão mas negar-se a explicação. E, assim, encontro conforto nesse quadrado mal layoutado do blogger, coisa que o word não me oferece (nem o conforto nem a feiura do layout). E assim, ocupada em falar com os dedos, calo a minha cabeça. Rá, te peguei dessa vez. Mas logo mais vem a preguiça outra vez. E desistem os dedos outra vez. E voltam as vozes outra vez. E me sinto sozinha, outra vez.

E aí está, mais um achismo. Ao reconhecer as vezes várias, acalmo a minha solidão, me dou conta de que não estou sozinha, estou acompanhada de todas as minhas vivências que já sentiram este mesmo sentimento. Olha quantas de mim me fazendo companhia. Será que alguma de mim me buscaria um copo d'água.

Como amo ficar vijando em textos descritivos e nada literários e, na minha ingênua fantasia, acreditar que isto tenha algum valor para a sociedade além dos meus eus. Acho que o próximo grande passo é eu assumir que não quero escrever para além de mim e, talvez assim, eu possa me devolver o meu prazer em escrever e me de a chance de ganhar muito mais do que algumas horas de uma madrugada perdida em caractéres.

Talvez eu escreva bobagens, talvez eu escreva a minha própria tábua de leis. De qualquer forma, estarei certa, basta escolher qual dos lobos irei alimentar.

Por hoje, quero alimentar o guardião das memórias esquecidas. Que eu as esqueça, as memórias com outras e só lembre por hoje dos encontros que tive comigo. Foram alguns dos melhores encontros que já tive.

Era um texto. Virou auto-ajuda. Terminou em oração.
Amém

segunda-feira, outubro 05, 2009

Filhos da Burguesia - A redenção



Bed of Dreams
Artist: http://www.kathysart.com/Earth_Goddess_Art_Bed_of_Dreams.html


Sempre me senti um pouco perseguida pelo fantasma das boas idéias (minhas ou de outrem) que tornavam-se vapor por falta de investidores. Desejei muito um mundo de Venture Capitalists que se dedicassem a ser mecenas das artes e das pessoas de talento.  Lia livros sobre milionários extravagentes e desejava em segredo conhecer algum que acreditasse nos talentos que conheço e, algumas vezes, nos meus próprios talentos. Mas meus desejos de apadrinhamento, bem como minhas idéias, provaram-se sempre voláteis à economia.

Mas hoje a burguesia se redime. Há alguns dias escrevi um texto reacionário sobre a frivolidade da burguesia aos 16 anos e, no entanto hoje, me encontro contradita. Passa-se que fui hoje a um encontro de sociedade. Para a aniversariante, apenas uma reunião de amigas de longa data; para mim, dentro de um olhar de dentro, uma festa com boa comida, boa champagne, algumas caras conhecidas e muitas caras arrumadas e arrogantes; para mim, dentro de um olhar de fora, um encontro de sociedade, ou, como costumo brincar, um daqueles encontros onde, se se explodísse uma bomba, se mataria metade do PIB do estado em que resido.

Entre elas uma menina loira, bem apessoada, bonita e elegante, de bons traços e modos delicados. Estuda comigo na mesma escola, fomos colegas em algumas cadeiras e tivemos a chance de trocar algumas palavras além de cordiais cumprimeitos. Eu, um pouco bastante deslocada, estava sentada sozinha, aos cuidados de um queijo Brie e uma taça de espumante. Me dei conta então que estava incoscientemente me afastando, sentada com algumas cadeiras de diferença do resto das meninas. Resolvi me enturmar e ocupei um lugar vago no sofá, ao lado da menina loira. Por cordialidade, puxei conversa falando que fazia tempo que não nos víamos e, na falta de qualquer coisa mais interessante para falar, perguntei como estava a vida após a sua última viagem. Tentando recolher dados sobre o que sabia da menina, perguntei como andavam seus projetos artísticos. O que se seguiu daí foi uma conversa extremamente agradável e que me inundou com um quê de esperança.

Ocorre que a menina é de uma das, se não a mais influente, das famílias do meu estado. Vem de "alta estírpe" e foi criadas nos berços mais dourados em que alguém poderia ser. Os melhores colégios, as melhores babás, os melhores cursos, roupas, oportunidades, presentes de natal. Mas é irônica a vida e tem caminhos tortuosos para construir caráter, seja a pessoa nascida em berço de ouro ou em uma mangedoura de palha. No caso desta menina, posso dizer que o que lhe construiu foi a saúde. Nasceu com saúde frágil e um coração que necessitava cuidados, desde muito cedo, frequentou igualmente encontros de sociedade e salas de cirurgia e, destas, resultaram algumas sequelas que ainda guarda.

Mas quis a vida que além de dinheiro e um coração frágil, a menina tivesse, também, uma alma de artista. Desde muito cedo se dedica a pintura e tem pelas artes grande paixão. E agora, aproximado o momento da sua graduação universitária e de uma escolha mais objetiva por um futuro profissinal, a menina loira de modos delicados me confessou honestamente um sonho, aberta como só alguém em uma festa de amigos de infância e bem acompanhada por champagne e Brie poderia estar.

Me confessou ela que, após passar um tempo em uma escola de arte na Inglaterra, a qual ambas conhecemos e "frequentamos", voltou para o Brasil com o sonho de estabelecer moradia aqui, na nossa pequena província e, aqui, criar uma universidade totalmente dedicada as artes. A todos os tipos de arte.

Mais do que isso. Diz que está pensando no projeto a sério, que pretende viajar pela Europa e Estados Unidos buscando desvendar o que há de melhor nas escolhas de arte e, mais ainda, que já discutiu os planos com seu avô, que muito a apoia. Diz ele, ainda, "que investimentos se consegue e que dinheiro se dispõe".

E eu, que sempre me vi perseguida pelo fantásma das idéias (minhas ou de outrem) que tornavam-se vapor por falta de investidores, vi na menina loira de modos delicados a possibilidade de, enfim, poder realizar algo lindo, poder realizar algo grande, poder transformar uma idéia em algo além de um quadro, por todos nós, que tanto sonhamos e que, às vezes, tão pouco pudemos.

Os filhos da burguesia hoje se redimiram, me provando em palavras suaves e olhos brilhantes de sonhos que se pode acreditar e sonhar com algo maior e melhor do que corredores patinados que fingem ser ouro.

Filhos da Burguesia





Enquanto escrevo estas primeiras palavras em uma caneta-brinde da Oxford Press tento formular a linha que seguirá este texto. Por enquanto não tenho conclusões, apenas impressões.

Escrevo sentada em um puff preto em frente ao bar do salão de festas da casa de um embaixador. Mudei de lugar, agora sento em uma poltrona preta, à minha frente uma junkbox. Ao meu lado, um piano de cauda e, como minha companhia, uma taça de espumante nacional.

O espumante é uma das coisas que me lembra que não estou na França e uma das muitas que me lembra que estou entre a burguesia e, não, entre a aristrocracia. A ostentação salta aos olhos, como lhe é propósito. Os corredores mais se parecem com os labirintos de monastérios que levam à passagens secretas. No andar central, muitos salões separados por cortinas me fazem querer arriscar um palpite:

"Foi o Senhor Mostarda, com o castiçal, na sala de jogos".

O cenário decorado à Luiz XV é o ideal para um assassinato. Corrimãos patinados em dourado em uma tentativa patética de imitar palácios de ouro denunciam: é o assassinato do bom gosto pelo dinheiro. O homicídio do ser sufocado a gritos pelo ter.

Quando comecei a escrever acontecia um desfile.  Um "estilista" de "alta costura" da província exibia seus vestidos em cabides de meninas ricas que, completas da insegurança que acompanha os 16 anos,  não desfilavam, tropeçavam em pedaços de panos esvoaçantes. Sinto uma certa nostalgia de tempos que não vivi, onde os criadores chamavam-se costureiros e as criaturas, damas.

Esse é o retrato que faço de uma burguesia já não mais mecenas da arte e, sim, da frivolidade. Pinturas de uma província.

Primeiro de Outubro de 2009.
Porto Alegre.
Reunião do Catálogo de Brotos.

terça-feira, agosto 25, 2009

Hoje é Quarta-Feira

Hoje é quarta-feira de acalmar os ânimos, um dia antes de quinta-feira de pensar e de sentir. E, só hoje as coisas começam a se assentar.

Talvez tu não saiba, mas essa semana nós brigamos muito. Ou melhor, eu briguei muito contigo. Até ontem "nós" estavamos de mal. Mas hoje algo acordou diferente em mim.

Ontem passei o dia fazendo tabelas, calculando quantas horas trabalhei no mês . Hoje consegui cobrar umas horas que faltavam do meu chefe, tudo muito tranquilo, muito feliz. E me senti diferente em relação a ti. Como diria o meu repudiado ex-chefe Pablo, "quem organiza por fora, organiza por dentro" e acho que ontem acabei, sem querer, organizando algumas coisas por dentro também.

Na última sexta-feira, 3 gatos cruzaram o meu caminho. E dois eram pretos. Não sei se foi prenúncio de azar ou, como são as cartas, somente uma reafirmação do meu estado de espírito. Sei que a semana foi turbulenta e, não tenho nenhum problema em dizer, foi turbulenta ainda por causa da quinta-feira.

Nossa, como foi um churrasco pesado aquela quinta, demorei muito pra digerir. De noite eu ainda esta brava, triste, chateada. Escrevi. Passaram-se os dias e continuei confusa, em dúvida, sem saber o que pensar, o que sentir ou como agir na próxima quinta-feira.

Foram dias onde muitas coisas se definiram e eu me dividi entre a vontade e o medo de te contar. A insegurança de quem não faz a menor idéia de como agir. Eu esperava reagir de alguma maneira, mas como tu sempre, bastante deliberadamente, me força (ou dirige) a agir, enfrentar o início constrangedor de cada inicio de sessão, passei muito tempo tentando achar uma resposta para como agir hoje. Foi muito confuso. Mas hoje me sinto estranhamente diferente. Sinto uma certa paz e volto a sentir somente a vontade de dividir as coisas contigo. Vontade sem medo.

Enquanto eu dirigia entre uma aula e outra hoje, investi meu tempo tentando entender porque chorei tanto. O que me abalou tanto nessas últimas semanas. Na verdade nem pensei muito, uma conclusão me veio meio derrepente (já na nova ortografia): Era o medo de ficar sem chão.

Tanto falamos em cair, o medo de cair, do DNA constante. Falamos muito em cair, mas pouco em chão e eu acho, Júlio, que esse é meu medo, perder o chão. Cair e continuar caindo e não ter quem, ou o que, me segurar.

Falamos muito em "por quê será?" na sessão passada. Tu indagativo. eu irônica. Mas agora me encontro sugestiva, aberta e proponho uma hipótese: Porque sempre achar que sempre vão me pedir DNA?

Será que não é por medo de não ter DNA. Talvez seja, talvez meu medo seja esse. Quem é o meu pai? Em ambos os sentidos: Se meu pai não for meu pai, então quem é? E meu pai sendo meu pai, quem ele é? Para ambas as perguntas: não sei.

Mas de uma coisa eu sei: eu chorei na sessão (escrevi aula antes, que ato falho) passada, foi de medo de perder o chão. Medo de perder o DNA da relação que construímos. Medo de perder o Júlio.

E daí talvez fique mais fácil tu não ficar tão brabo. E se a gente tentar entender não como "quero mais, quero mais, quero mais" e sim como "preciso muito, preciso muito", o que será que muda? Na sessão passada chorei por uma possibilidade de perda e acredito que seja essa possibilidade que me move tanto.

No meio de tudo isso, uma coisa fica clara: temos aqui um sentimento, Júlio. Acho que vemos o exemplo mais forte do quanto tu te tornou importante e, se um dia tu te dispôs a quebrar os pratos e desistir de uma paciente que "não confiava" em ti, passados alguns meses, vemos uma gigante diferença. E esse foi o choro. O choro de quem nutre algo e que tem medo de perder, muito. Agora só falta ajustar o sentimento a hora e o local exatos, colocar a flor dentro da cúpula.

E falando em Pequeno Príncipe, me ocorre o pensamento de que agora tu também está envolvido. Terapia é um "jogo" que parece unilateral. Alguém só um se apresenta vulnerável. Mas talvez não, agora eu percebo, ou talvez sinta que "tu te torna eternamente responsável por aquilo que cativas". E, sendo assim, tu também não está imune. Já que cativaste, Júlio, com o perdão do trocadilho, agora toma, que o filho é teu.

DNA.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Eu queria sentir só nas quintas-feiras.

Talvez a vida fosse bem mais fácil com horário marcado. Talvez fosse bem mais enfartante também, com todos os sentimentos e pensamentos reservados para os 45 minutos das 14:00 as 14:45.

Mas infelizmente eu penso e sinto mais do que somente as quintas-feiras. Penso (quase) todos os dias e sinto diáriamente, as vez mais de uma vez por dia, entre e inclusive durante as refeições. Eu sinto em horários esdrúxulos e sem hora marcada, e insisto em sentir mais durante as madrugadas. Eu sinto sem lógica marcada também, e quando sinto que sinto, dou graças a Deus e me permito sentir, qualquer coisa que seja.

Eu me atraso sempre e quando eu não quero estar em algum lugar, e demorei 22 pra descobrir isso. Eu quero mais, eu sempre quero mais, e não demorei 22 anos pra descobrir isso, sei que sei disso mais ou menos desde os 15 anos, quando nada me era completo. Mas demorei 22 anos pra descobrir que me sinto julgada quando tu fala sobre voracidade, direto e seco, daí da cadeira do doutor. Ainda não consegui muito bem fazer a diferença entre voracidade e ambição. Existem pessoas que são ambiciosas e não são vorazes? E pessoas que são vorazes e não ambiciosas? Eu não sei. Eu até hoje não sei se sou ou não ambiciosa... E mais importante de tudo, ainda não me decidi se isso é bom ou ruim. Só não quero ser julgada antes de decidir qual é o meu julgamento. Isso já traz outra discussão, mas essa fica para uma próxima quinta-feira.

Mas fato é, daí, da cadeira do doutor, às vezes vem lógica inegável. Lógica tão lógica que as vezes chega a ser chata e ferir o meu pequeno besta orgulho. Mas inegável lógica. Só que às vezes vem julgamento. Às vezes vem valor tão cheio de juízo que me dói, muito. É quando mais me dói a cadeira do paciente. O paciente deveria ter paciência, não? Ou seria o doutor que tem que ter paciência? Português é uma língua confusa.

Confusão. "Tu gosta da confusão porque tu sente que tem uma vantagem". NAO! Aí como isso me dói. Como isso me doeu na quinta-feira em que eu tinha que sentir e ao mesmo tempo te deixei puto da cara porque não estava "sentido do jeito certo". Porra, eu tava só chorando. Vamos tirar o juízo de valor por um momento? Eu não fico acéfala quando choro. E gostaria muito que as pessoas ao meu redor não perdessem a sensibilidade quando pensam. E isso inclui a ti. Ok. I get it. É o choque do paciente, é o grito do diretor ditando o clima do set. I get it. É o teu jeito. Ficar puto com ladaínha, acho até que vez por outra tu grita pra conter a vontade de virar as costas e bater a porta. Ai como gente é um bixo chato, tu pensa. E lá se foi a paciência do doutor.... Talvez eu seja de fato bem confusa. Talvez eu faça graça com isso. Talvez um monte de coisas. Mas dizer que eu gosto, que me sinto em vantagem? Não sei não, Júlio. A antítese eu já concordei. Já entrei em paz com o gostar dos extremos e bla bla bla. Mas essa da confusão acho que vem mudando. Eu gosto muito de pão, pão; queijo, queijo. Gosto que as coisas sejam tão distintas a ponto de se fazer sanduíche.

Ter as coisas claras foi o que me levou a, no blog, fazer um post sobre assuntos do blog. Fazer um comentário secreto pedindo ajuda. E fazer outro comentário falando do tema, da política do mundo. Era sobre isso mesmo que se falava ali: confusão. Aquele era um post. Uma opinião. Uma participação clara. Cada um no seu quadrado. Para mim, um diálogo. Não vi confusão ali. Nem monólogo. Talvez tu tenha visto mais do que eu. Eu me preocupei ali em dialogar com o que tu dizia, com o que a outra criatura dizia e ainda com o que eu dizia, no caso do post político e este não ter sido publicado, sim, me causou confusão. Foi pra mim uma mensagem clara e direta de: "área restrita para pessoal autorizado". Difícil restringir uma área em um espaço público. Difícil ter uma vida pública privada sem ter a vida privada pública. Não, Júlio? No caso do de ajuda foi diferente, a minha tentativa foi estabelecer um diálogo, dizendo : oi! preciso de ajuda! me ajuda? Inclusive pedindo uma consulta extra para falar no consultório sobre coisas do consultório. Foi mesmo tão confuso? Foi mesmo tão solitário. Da minha parte não.

Infelizmente, foram sentimentos que não vieram na quinta-feira.

Já os que vieram na quinta-feira seguinte, esses sim, foram confusão pura. "É o que acontece no processo criativo" tu diz. É a prática posta a prova que não funciona. Great. Acho lindo. Beleza. Mas será que alguém podia me avisar antes? Pra mim o que aconteceu foi contradição. E me desculpa por pensar que poderia ter afetado o inafetável Julio, me desculpa por ousar pensar que tu poderia entrar em uma defensiva qualquer. Talvez defensiva tenha sido a palavra errada. Mas que tu foi mais ríspido, foi. Que tu foi mais duro, foi. E que eu sai de lá me sentindo acusada de crime inafinaçável por talvez sentir por alguém um carinho paterno, sim, eu saí.

E aí eu me sinto a coitadinha por ter feito tuuuuuuudo certo e bla bla bla. Que diabos de certo ou errado está acontecendo? Tu, quando não entende, fica horas olhando pras coisas. Eu, choro. Adoraria ser o cérebro racional e inabalável e ainda assim ser artista sensível e ator mestre marionete dos meus próprios sentimentos. Talvez se eu fosse assim meu nome fosse Júlio César cheio de acentos e eu fosse imperador de Roma. Eu não alcanço a tua racionalidade Júlio, não consigo, tenho as pernas curtas eu quando não estou a uma determinada distância, não consigo nem ver a tua reação na porta do consultório sem olhar pra cima. Foi o que aconteceu na última quinta-feira. Distância de menos, gap demais entre o teu pensar e o meu sentir. Acabei olhando pra baixo, agora só consigo imaginar possíveis reações tuas.

Isso foi um desabafo, mais do que qualquer outra coisa. Não quero ofender, acertar, ganhar perder, certo errado. Nada disso. Vim tentar escrever pra ver se acendia a luz. Acabei escrevendo pra alguém, ainda tenho uma semana pra decidir se te entrego ou não. Essa é uma das vantagens de só se pensar nas quintas-feiras....

De uma maneira ou de outra, acho até poético tudo isso. Um caminho bem torto pra se chegar a um possível resultado incrível, já que estamos tendo a oportunidade de estudar os meus "problemas de relacionamento" de dentro de um relacionamento, de determinado tipo, com e sem problemas. É como a neurocientista que teve um derrame e fez um livro de neurociência analizando um derrame "de dentro".

O personagem acabe de ler. Coloca o papel sobre a mesa. A sessão acaba. A Paciente sai da sala.

FIM

O final perfeito de uma ficção sem confronto. Certamente não vai ser assim. Agora é a hora eu que eu respiro fundo e me preparo pra mais um choque de realidade vindo da cadeira em frente.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Confession

Forgive me father, 'couse I have sin...

Lendo está frase assim, eu me pergunto, a quem não tem religião, pra quem está frase está sendo dita?

Não sinto que seja eu a ter que pedir perdão a um dos pais, o menos pai, o que eu mais sonho que fosse pai (e note bem a coragem de conjugar o verbo no presente, pois me foi preciso muita para fazê-lo)

De qualquer maneira há a quem eu deva pedir perdão, pois pequei, contra tudo que acredito, mas nem contra tudo que sinto. Ainda que a quem mais deva perdão não seja ao Pai e sim a uma ovelha, tão pura e dão cheia de maldade quanto todas as outras...

Na verdade talvez acredite que use meu pecado como forma de não me sentir tão patética frente ao mundo, talvez fira fundo para não me sintir a única ferida em batalhada de não guerra, em luta pela sobrevivência (ainda que da maneira nada selvagem como concebemos está sobrevivência), em um mundo selvagem em palavras e em segredos, com instintos contidos a cada instante, com instintos seguidos a cada instante e, com a certeza de que, a cada instinto seguido há uma racionalidade ferida, um regra quebrada, no complexo sintema não formalizado denominado hipocrisia, no qual vivemos.

É uma pena saber que, em certas ocasiões, ao quebrarmos com as regras, quebramos também com pedaços de sentimentos.

Os teus sentimentos, os meus sentimentos. Nos partimos todos.
E, ao final do texto, já não sei mais sobre quem escrevo...
Me faz mal, muito mal.

Passo a atribuir pensamentos que não pertence a pessoas, simplismente pelo fato de não conseguir parar de sentí-las.

Raiva, de mim, também.

Conto de Fadas

Neste espaço tão só meu, me sinto livre para me revelar; ainda que fantasie visitas planejadas.
Mais ou menos como meu sentimentos: Demostro distância e mantenho barreiras fantasiando, intimamente, com ver estas barreiras quebradas, com ver a lutra para quebrárem-nas.

* * *

É como se eu fosse todo o conto da Bela Adormecida em uma só pessoa.

Sou a própria buxa a amaldiçoar a princesa. Me levo ao extremo da falta de respeito próprio a destruir-me com pensamentos viciados.
E então aprincesa, que, a quem adormecida, não resta nada se não sonhar com o prícinpe; Logo, sou também princesa que sonha em se acordada de seu mundo de sombra para ser levada para o reino encantado. Embora hoje o que eu realmente sonha, seja com não sonhar.

* * *

Tenho medo de dormir, meu sono hoje traz a tona os sentimentos que durante o dia me ocupo em esconder de mim, ocupando.
Meu sonhos revelam pensamentos continuos, teimando em lembrar-me o que, tão intensamente, teimo em querer esquecer.
Um mundo inteiro que gostaria de esquecer; toda a amargura que gostaria de não viver; de tantos não queres, canso, fico exausasta de querem com tanta força não querer o que insiste em querer acontecer. Logo, hoje, me resumo a não querer dormir... Mas o sono vem e vem. Constante, devastados, querendo mais uma vez acontecer por cima do meu desejo.

* * *

Logo está lá, aqui, a bela, não tão bela (a sentir-se), a sonhar e não querer sonhar, a lutar contra o veneno do sono. A desejar, unicamente, acordar de um sonho ruim. De uma vida de sonho ruim. A desejar acordar da sua realidade, sonhando intensamente que está seja um sonho, para então acordar em uma realidade de contos de fadas.
Mas hora que contradição. Deseja um mundo de conto de fadas sendo que está a viver um, pois a que desejar um mundo de contos de fadas, se neles a pricesa sempre e sempre sofre durante toda a história para chegar enfim as 5 palavras finais: Eles viveram felizes para sempre.


* * *
Logo, para o desejar pelo final da história, quero logo ouvir tais palavra. Quero que a história acabe, com o final onde a pricesa em uma carruagem deixa seu lugar de origem e vai viver em algum lugar onde eles viverão felizes para sempre.

E isto me leva a outra coisa, quero logo o final da história para saber quem são eles. Sempre eles, o plural tão reconfortante e assuntador, saber que não se está só, o conforto máximo e, o contrário, sentir-se só, traz a ânsia incessante de desejar encontrar as peças que encaixam, as notas que faltam para completar a melodia.

Quem são eles?

Quem são meus eles?

* * *
Mas, na torre, a sonhar com o final da história e com quem ira salvá-la há alguém, porém lá fora, a traçar o árduo caminho está outro alguém, e no meio há o dragão.
E então, me torno o próprio dragão que assombra o caminho até mim, dura, rispida e venenosa a afastar todos aqueles que tentam se aproximar. Logo, só chega até mim, o vencedor da luta, CONTRA MIM.... um tanto triste, a fada madrinha diria, assim não há prícinpe que resista.
Pois a forma importa, se há um dragão, luta-se contra ele, agora se este é bruxa, pricesa e monstro, se confundem os papéis e, quando se dá por conta, estamos a nos sentir pricesas: frágeis e desprotegidas, porém, estamos a ser jungadas com dragões: Maus, não dignos de compaixão, e violentos por motivos cujas razões não são consideradas dignas de atenção.

* * *

Enfim, me desdobro a exercer milhões de papeis de mim, agindo como quem agride e machuca e, ao mesmo tempo, como quem é agredida e machucada. Agindo como quem sonha em se deixar levar e, ao mesmo tempo, como monstro que impede que se chegue perto.

Me falta aprender ainda a ser minha própria fada madrinha...

* * *
E, no meio deste conto, só me restam algumas certeza. A de que não quero lembrar, não quero pensar e, pricipalmente, não quero dormir.

Conseguindo com extrema destreza, dentro da minha canhotisse, não atingir nenhuma das coisas que tanto desejo...




quinta-feira, dezembro 01, 2005

Patologias Comunicativas

Diz a psicologia que as profissões reproduzem suas próprias patologias.
Eu sempre achei que era bem verdade.
Mas não verdade pra mim.

E hoje pensei.
Talvez faça comunição para suprir minha patologia crônica de ter sido sempre tão desastrada comunicadora de mim.

um tanto transparente demais

Sou transparente demais para esse mundo tão cheio de segredos..
Pode ser que me sinta tão frágil pois talvez conheça bem demais minhas prórpias verdades.

Estão muito a vista.
Muito mais do que eu gostaria que estivessem.

Estão muito a vista pra mim,
muito mais do que eu gostaria que estivessem.

O que fazemos quando se rompem todas as crenças?

O que se faz quando jogam pedras em nossos valores de vidro?

Quanto tempo leva pra que nos levem embora toda a inocência?

Preciso desesperadamente acreditar em algo e tudo que me oferecem são mentiras a descoberto...

Já perdi minha virgindade:

Da virgindade do corpo me desfiz com prazer;

Já a da alma me arrancaram do meio do peito sem nem ao menos pedirem licença.

Um ano, menos, e tudo ruiu.

Vi meus super-herois chorarem de dor;

Vi daqueles que me ensinaram o certo fazerem errado;

Vi a quem dei tudo, jogar pela janela, embora não sem dor e, ainda assim, me vi voltar.

Vi mentiras em todos os lugares.

Recebi mentiras, só mentiras de quem me ensinou que devia falar a verdade sempre.

Via a inveja;

Vi o conflito entre o melhor de mim ser o ruim pros outros que, por isso, me fizeram mal, logo, vi o melhor de mim, ser o pior pra mim...

Perdi mais uma vez meu chão, meu norte.

Todos me decepcionam aos poucos, ainda que de maneiras diferentes.

Estou dilacerada, decepcionada, fragilizada.

Em um processo longo e doloroso e aprender a contar comigo, apenas.

Vi a lei.

Vi a justiça.

Vi quem foi injustiçado por medo de cara-feia.

Estou farta. Farta. Farta.

De tudo.

E de alguém em especial.

18 anos foram insuficientes para construir qualquer sinceridade porque acho que no fundo a inocência infantil que teimam em me roubar me dizia que não havia verdade ali para que eu pudesse acreditar. Enfim descubro que nem laços de sangue unem pessoas ou garantem qualquer coisa, qualquer que seja, carinho, compreensão, sinceridade, racionalidade, flexibilidade...

Paternidade.

sábado, outubro 01, 2005

moments of truth in my lies

Uma mentira dita muitas vezes torna-se uma verdade.

Há momentos em que vivo tão intensamente as ilusões que criei de mim que, por instantes, minhas ilusões se tornam quem sou.

São espaços de tempo quando o que sou se aproxima ao máximo do que desejo ser.

Momentos em que os dois paralelos se encontram, se fundem, se confundem... E nesse espaço de confusão sorrio meu sorriso mais sincero.

Quando minhas mentiras se tornam verdades.

* * *

Minhas mentiras são o que há de mais verdadeiro em mim e as ilusões do que pretendo ser, o retrato mais fiel do que sou.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Diário de Bordo

Diário de Bordo


7 de Setembro de 2005


Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Sobre a terra descobri: Que é um lugar muito árido, nada aconchegante e que requer prática para que se consiga andar com maestria por entre seus tortuosos e inóspitos caminhos. E, embora a legislação local preze liberdade total a seus cidadãos, tenho observado que os nativos desse lugar parecem aprisionados. Andam por entre ruas de caras amaradas, poucos sorrisos nos lábios e passou ligeiros de quem vai de algum lugar para algum lugar, sem se interessar pelo caminho, sem esperar nada novo ao virar da esquina.
Vim para cá com muitas expectativas, pois tive contato com um nativo daqui que teve, sobre meu mundo, imensa vantagem, devido as suas características tipicamente kriptonianas.
Porém, sobre o povo, descobri: Que tudo o que fazia, do meu amigo, especial, aqui não se faz mais que necessário e é característica banal e imprescindível para sobrevivência nestes trópicos. É um povo dotado, sim, de muitas qualidades. São privilegiados, se não todos, a grande maioria com grande sabedoria, mas receio ter que salientar que esta sabedoria se apresenta para mim na forma de pura ranzinzisse. Andam todos por entre companhias e, embora, eu não converse diretamente com eles, ouço, ao passar do ouvido palavras que versam sobre como cada um deles já havia previsto que toda esta mal feitoria aconteceria; que com seus poderes de olhar de raio X (que aqui não são poderes, pois todos possuem) já haviam visto e previsto que isto estava por vir; ouço, enfim, se gabarem, a cada punhado de palavras, o quanto são insurpreendíveis. E então, eu, pobre de mim, que não tenho olhar de raio X, que não tenho super poderes, formulo palavras tortas e os olho com certa pena, pois o que realmente parece a mim é que, se eles julgam serem bons demais para surpreenderem-se, o que em realidade ocorre é que perderam, eles mesmos, a capacidade de surpreender e de se surpreender com qualquer coisa que seja, talvez um belo canto de passaro ou o formato de uma nuvem e, se isso para eles é sabedoria, guardo para mim as palavras infames de que prefiro minha infantil ignorância.
Uma coisa se fez notar: Em Kripton não vi crianças. Aparentemente já nascem todos adultos... E também não vi cachorros, parece me que dentro da total liberdade deles, o sacudir alegre de um rabo canino deve ser proibido.
Mas nada disso é realmente relevante, depois do que vi, assim de passagem, e que só eu devo ter visto, pois estava de passagem e, diferente de todos eles, estava muito preocupada em olhar para os lados, em me surpreender, em descobrir algo que não sabia. Diferente de todos eles que já sabem tudo.
Eu andava, nada distraída. Uma esquina, direita. Outra esquina, esquerda. Na próxima, sigo reto e, então vi, em não uma pessoa, mas em algumas, lágrimas.
Vi kriptonianos que não sabiam tudo.
Vi kriptonianos que não haviam visto e previsto tudo.
E, embora, fossem lágrimas naqueles olhos, naquele momento senti que talvez naqueles kriptonianos pudesse haver sorriso e que, talvez eles possuíssem, escondidos, cães com rabo que balançam...
Naquele momento percebi que os kriptonianos não sabem de tudo.
Que os kriptonianos não são capazes de ver e prever tudo...
E que exatamente por isso, nesses lapsos de inconsciência, talvez ainda sejam capazes de sorrir, talvez ainda sejam capazes de se surpreender...


7 de setembro de 2005

Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Sobre a terra descobri: Que é um lugar muito árido, nada aconchegante e que requer prática para que se consiga andar com maestria por entre seus tortuosos e inóspitos caminhos.
Porém, sobre o povo, descobri: Que são carrancudos e que escondem atrás da arrogância sua fragilidade. Presumo que a aridez do solo tenha tornado árido seus próprios corações e que, hoje além de se protegerem das maldades do frio, se protegem também das maldades que deixaram cultivar no estágio mais profundo da sua estrutura social.
A festa mais famosa de Kripton é um baile de máscaras, acontece todo ano ao entrar da Primavera, e neste pequeno tempo é quando, mascarados, se deixam livrar das mascaras que carregam todos os dias e se libertam um pouco das grades de sua liberdade juramentada em lei.
Sinto falta da minha terra natal, mas quando embarquei na viagem fui alertada – “a ida para Kripton é um caminho sem volta, a entrada em sua atmosfera destrói a nave que protege os viajantes, sendo assim, aos que lá chegam é impossível retornar”. – A principio não me preocupei, pois quem iria querer retornar de uma terra de Super - Heróis??
E foi só quando cheguei a Kripton que descobri: Não existem Super - Heróis.


7 de setembro de 2005

Já Faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Mas já me assemelho cada vez mais com os Kriptonianos, ou melhor, já pelo menos os decifro, os desvendo, por trás de suas máscaras.
Os Kriptonianos são tão frágeis, ou mais frágeis, do que nós.
Os Kriptonianos aprenderam a esconder-se.
Os Kriptonianos são um povo dotado, sim, de muitas qualidades. São privilegiados, se não todos, a grande maioria com grande sabedoria, o que os torna mais aptos e ao mesmo tempo os limita imensamente, em uma amplitude que, a muito, perderam a noção.
Vasculhando, entre arquivos antigos, fiz uma descoberta um tanto alarmante que, admito, me encheu de imensa preocupação. Descobri que não existem nativos de Kripton, que todas as pessoas que aqui vivem vieram, como eu, de um lugar chamado Terra. Isso explica o fato de aqui não se encontrarem crianças.
Sinto falta da minha terra natal, mas quando embarquei na viagem fui alertada – “a ida para Kripton é um caminho sem volta, a entrada em sua atmosfera destrói a nave que protege os viajantes, sendo assim, aos que lá chegam é impossível retornar”. – A principio não me preocupei, pois que iria querer retornar de uma terra de Super - Heróis??
E foi só quando cheguei a Kripton que descobri: Não existem Super - Heróis.
Destruo, assim, minhas ilusões.
Receio que me abandonem junto com a minha inocência.
Agarro-me agora com toda a força as poucas recordações que tenho do lugar de onde vim. Sofro hoje em abandoná-lo, mas luto para que se mantenha em mim, parte do lugar florido de onde vim.


7 de setembro de 2005

Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.
Começo a pensar em constituir residência aqui e, como uma das primeiras providências, decido-me: Terei, mesmo que escondido em casa, um cão que abane o rabo.


9 de setembro de 2005

Já faz algum tempo que cheguei em Kripton.
Minha aterrisagem foi turbulenta e ainda estou sofrendo um pouco com a difícil adaptação.

Este texto é um tratado sobre infantes – adultos – e o fim dos Super-Homem.