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domingo, dezembro 20, 2009

A Casa dos Guardanapos de Pano


Um andar. Um andar só. Não, mentira minha, um andar e meio, contando aquela escada vazada e sem corrimão que levava pro quarto do tio mais novo. Aquele comodo sempre foi o mais misterioso pra mim, tinha um certo algo de quarto proibido no ar.

A entrada era pela garagem. À direita da porta, os janeloes que levavam ao patio, ao grande patio e, no pátio, o cachorro. O cachorro era um  dalmata com o rosto todo branco. Diz meu tio que isso é uma virtude em dalmatas, que manchas nos olhos são como defeitos para a raça. Não sei, só sei que não era um cachorro com olho de pirata. Diz meu tio, também, que era um tipo especial, bisneto de um dalmata campeão de uma criadora lá do Rio de Janeiro que diz que tinha criado um tipo especial de "dalmatas quadrados". Diz que até em livro tem o nome da família do cachorro. Quanta coisa...e eu que achava que cachorros eram só cachorros. Não lembro muito bem dos detalhes. Conta minha mãe que ele se levava para passear e que, ao voltar, batia com o rabo 3 vezes na porta para que a abrissem. 



Um dia o Tony sumiu. Minha família acha que ele foi roubado. Mas tudo isso eu não sei. Tudo que sei é do sentimento que eu tinha pelo cachorro. Ele era o meu melhor amigo na casa, meu fiel escudeiro contra os leões que moravam embaixo da mesa de jantar e meu comparsa em todas as minhas tentativas frustradas de pular o muro que dividia o pátio com, acho, a área de serviço. Lembro-me de brincar de cavalgar no Tony, isso é o que mais me lembro. E creio que me lembro que nos divertíamos muito, ele e eu, a brincar ao lado do grande banco de madeira que ficava à sombra do quarto do tio mais novo. O que mais me lembro do Tony é esse sentimento de amor velho, assim quase que perdido o fundo do baú mais antigo do meu peito. 


À esquerda da porta, um hall que levava a Sala de TV e a Sala de Jantar. Lembro-me pouco da Sala de TV: A disposição dos móveis, o sofá que fazia frente a lareira e a cadeira do avô, o lugar nobre da sala, fazendo frente a tv. Lembro-me pouco da Sala de TV, mas lembro-me perfeitamente da sensasão que tinha quando brincava de caminhar no encosto do sofá; lembro-me direitinho da visão dos meus pés e do esforco para manter o equilibrio; lembro-me da adrenalina de pensar que o sofá poderia virar e da graça que achava do medo que a avó tinha de que eu caísse.


Cruzando a sala de jantar se chegava a copa, era uma casa do tempo em que as casas ainda tinham copa e, passada a copa, entrava-se na cozinha, que era fina e comprida. Sobre a copa nao tenho muito a dizer, só que ela tinha gosto de pão com mateiga e mel. Pão com manteiga e mel que a Teresa fazia. Tereza era a negra que tinha sido criada pela minha bisa enquanto minha avó, menina de sociedade, tinha sido criada em um internato. Depois de velha, Tereza tinha ajudado a minha vó a criar seus filhos e, depois de ainda mais velha, estava ajudando a filha da minha avó a me criar; A cozinha era interessante, bem fina e bem comprida tinha um monte de fogões que nem me lembro bem. O que me lembro bem da cozinha era que tinha uns canos, canos compridos e de comprimentos diferentes na parede a direita da porta, parecia uma miniatura daqueles orgaos de igreja. Eram as campainhas. Cada cômodo tinha a sua campainha.

*    *    *


E tudo na casa me era absolutamente natural. Fantasticamente natural. A mesa com patas de leão, o cesto de ovos em forma de galinha no comedor, o orgão na cozinha que servia como campainha. O avô. A avó.

Passou-se o tempo. Primeiro, foi-se embora a casa: grande, imponente e acolhedora no alto daquele morro que me doía as pernas de subir; Mais tarde, já em um apartamento, também alto e em um morro, veio o computador. Computador melhor que o da minha casa. O computador melhor que eu já tinha visto. O computador que ficava no escritório do avô. E, depois, foi-se embora o avô. Na sequência, foi-se embora o apartamento e, com ele, a biblioteca do avô.

Idos a casa, o avô, o apartamento, a biblioteca, ficou-me a avó. Me pareço muito com a avó. Dela, aprendi a herdar o paladar. Se da negra, que depois de ainda mais velha tinha ajudado a a filha da avó a me criar, aprendi o gosto por pão com manteiga e mel, da avó, guardei o gosto por pêras e sopas. Gosto de sopas independente da temperatura, mesmo no verão, gosto de sopas.

E tudo na casa me era absolutamente natural. Fantasticamente natural. Levou-me bastante tempo: foi-se embora a casa, a negra, o avô, o apartamento, a biblioteca e o computador. E foi preciso que ficasse só a avó, as pêras e as sopas, para que todo o universo que conheci dentro das paredes daquela casa me parecesse menos natural. Era fantástica, eu mal sabia.



* * *



Notas sobre o avô: 


Como me doí não ter convivido mais com o avô. Olhando assim, para a foto que a minha mãe mandou fazer dele para toda a família, sinto uma ternura tão grande e, ao mesmo tempo, um grande pesar. Um pesar de não tê-lo comigo, um pesar de não ter suas opiniões para venerar ou, ainda, aquela aura de reverência que tinha o cruzar da porta para o gabinete.


Nunca mais vi gabinetes. Hoje os prédios tem paredes de gesso e chamam escritório aquele pequeno vão que sobra entre o lavabo e o corredor, onde mal cabe um laptop. O do avô não, o do avô era um cômodo inteiro, ainda maior que qualquer outro cômodo da casa. O avô nunca era só o avô. Era um avô, um par de óculos daqueles de armações grossas dos anos 60, uma biblioteca, uma poltrona e um cálice de vinho no braço, um cigarro  e, depois da década de 50, uma televisão.


Lembro-me da tv retrô da sala de Estar e das histórias que minha mãe contava sobre como cada filho tinha um dia seu da semana para escolher o que ver na tv. Conta ela que o dia dela era o sábado, mas, aos sábados, o avô estava em casa, logo, ela não tinha dia da tv. Já nos anos 90 meu avô comprou uma tv muito moderna: tinha duas caixas de som retangulares que saiam das laterais da tela, assim como duas orelhas. Ainda está aqui a tv, na casa dos guardanapos de pano versão 3.0, o apartamento da avó. Lembro-me exatamente do dia em que a tv chegou, o primeiro dia em que vimos a tv, uma das raras vezes em que o avô permitiu que meu pai entrasse no gabinete. Ficamos nós 3 lá, embasbacados com o brinquedo novo odo avô. A tv e o avô passavam os dias a conversar, como ele teria gostado de conhecer McLuhan.


Se ao meu pai não eram dadas muitas vindas ao santuário-biblioteca-gabinete do avô, a mim a história era diferente: cheia da inocência infantil dos idos dos 6 anos, desconsiderava as regras veladas e entrava na biblioteca a qualquer momento, de qualquer maneira, correndo a pular e colocar os pés nas poltronas de couro do avô. Para o formalismo silencioso que pairava do no ar da residência: heresia. Para mim, a risada gostosa do avô divertindo-se com o descumprir de suas próprias regras. Coisa boa ainda lembrar do riso do avô. Acho que consigo reproduzir. Acho que meu riso se parece com o dele.


O avô era Doutor. Professor Doutor, como nos divertimos ao lembrar no último natal. Virou até nome de praça. Era jurista, e a referência em ciência política no estado, mas, se me perguntassem, meu avô era a versão gaúcha de Vinicius de Morais. Acho que são os óculos e o nariz dele que me fazem pensar assim. Minha mãe conta histórias de que, na praia, ele batucava sambas em caixinhas de fósforos. Ora se isso não é digno de um garoto de Ipanema? 


Lembro-me de um diálogo lá pelos 8 anos quando, morrendo de medo de decepcionar o avô, liguei para dizer que não queria mais ser advogada. Estava a me desculpar. Meu mais novo sonho era ser doplomata.O avô, claro, achou muito graça. Também achou graça quando mais nova, lá pelos 6 anos, me informaram solenemente que ele iria fazer uma cirurgia no coração e eu, ajoelhada a sua frente na sala estranha que ficava em frente a sala de jantar, não exitei: sugeri que ele aproveitasse para fazer uma plástica e tirar um pouco da barriga que já ia bem grande. Ele, claro, caiu em riso e me disse que achava essa uma boa idéia. Acho que ele achava graça de mim, acho que eu o divertia.


A última lembrança que tenho do avô é do ano de 99, extato um ano depois da sua morte. Minha mãe sentada no chão, escorada no armário do nosso escritório, chorando a ausência dele. Não me lembro de ter chorado a sua ausência, mas isso não quer dizer que não a sinta. Em cada curva do caminho queria tê-lo comigo, a achar graça dos meus dilemas.


Vô, sinto falta da tua ternura. 


* * *

Notas sobre a avó: 



A avó tem cabelos curtos, usa-os claros, quase loiros. Hoje, pintados. Tem sempre as unhas feitas, usa-as claras, sempre discretas. É uma pessoa curiosa a avó, sempre vistosa, ao mesmo tempo, muito discreta.

Uma vez fui com minha irmã ao cinema, era um filme sobre a rainha da Inglaterra, mas bem que poderia ser um filme sobre a minha avó. Elas usam a mesma sineta, um pequeno sino sempre ao alcance das mãos, para chagar os empregados da casa. Imagine só, minha avó e a rainha da Inglaterra, dividem uma sineta. Que mundo curioso. Ao sair do cinema, encantadas, comentamos. Concluímos que eramos netas da rainha da Inglaterra.

Essa é a avó. Clara, nobre, filha de aristocratas do passado, ela e os guardanapos de pano. Mas, assim como as pêras e as sopas, de uma simplicidade encantadora. É doce, é suave, é apaixonante.


* * *

Enquanto escrevo a avó, já com cabelos brancos disfarçados pela tinta, dá aula. Fala de ciência e de filosofia a uma turma em uma faculdade. A avó é psicóloga e filósofa desde o tempo em que, aqui por estes trópicos, as mulheres nem trabalhavam, nem pensavam, nem ensinavam fora das paredes de suas casas. Mas a avó já pensava, já bem longe de casa, a avó pensava.

E esse é o fantástico por trás do normal. O fantástico que me levou anos para descobrir. Imaginem vocês que, tendo nascida neta da rainha da Inglaterra que dá aulas de filosofia eu, por tanto tempo, só me ative ao leões que se escondiam embaixo da mesa de jantar.


Do Pequeno Reino de Porto Alegre (totalmente inacabado)


    Aos, aproximadamente, 30 graus sul do equador e 51 graus a oeste de Greenwhicth existe um peno reino chamado Porto Alegre. Este pequeno reino tem em torno de um milhao e meio de suditos, mas, como compartilho da teoria que o mundo inteiro eh formado por milhares de grupos de 500 pessoas, as quais se conhecem todas e estao destinadas a passar a vida esbarrando-se umas nas outras, ao pequeno reino de Porto Alegre cabe a sua parcela dos grupos de 500as pessoas no mundo, portanto, há, no reino, em torno de 500as pessoas, entre suditos, reis, rainhas, varias princesinhas e princepesinhos e não muitos plebeus, os quais se conhecem todos, ou se não todos, conhecem alguem que conhece alguem que conhece alguem, e estao destinados a passar a vida inteira esbarrando-se uns nos outros.


A*(?) primeira olhada não se diria que há algo em especial sobre o que se falar do pequeno reino, eh um pequeno reino como tantos outros pequenos reinos por ai. Mas não, o pequeno reino eh cheio de peculiaridades e micro universos; e eh um pouco comico; e eh encantador. Há de se destinar algumas linhas a* geografia do lugar, mas geografia e cultura logo se entrelacam, assim, passado um primeiro estagio descritivo, logo passamos a parte mais deliciosa na observação do pequeno reino de Porto Alegre: O relato dos habitos e habitantes do lugar. 

O reino tem um rio. Não eh bem um rio, eh um lago, mas não importa, todos chamam de rio e, assim, para tudo que interessa, o reino tem um rio. Isso eh algo importante, um reino que tem um rio mal reino não eh.  Perto do rio fica a parte mais antiga do reino, um emaranhado de ruelas e ruelitas que desembocam umas nas outras e escondem lugarejos magicos. Bem na beira do rio tem uma usina que a muito já não eh mais uma usina e, hoje, se quarteia entre ser um burgo efervescente para artistas marginais, uma galeria marginal para grandes exposicoes burguesas e um refujo dos enamorados, burgueses e marginais. A usina ainda divide com o rio a guarda do por-do-sol, oficio que exercitam, ambos, já há tempos, com grande maestria e delicadeza. Atravessando a rua da usina chega-se numa rua de lamparinas douradas e essa leva a uma praca e, entre a primeira lamparina da rua e a praca, uma variedade de coisas variadas, assim, reduntante mesmo, como um hotel-poeta-casa de cultura, um banco-museu-centro cultural e um museu-terraco-cafe. 


Poderia falar aqui de cada bairro, poderia falar do bairro de judeus que virou bairro dos artistas e dos alternativos e do bairro pra onde todos os judeus ricos se mudaram e que acabou virando um bairro de ricos artistas e alternativos, poderia falar que estes dois bairros são inundados  por cafes e livrarias-cafes e bistros-cafes e video-locadoras-cafes, mas não, vou falar das pessoas que habitam estas cafes-livrarias-bistros-video-locadoras-cafes. Embora elas se achem muito diferentes, pra mim, todos no pequeno reino de porto alegre são muito parecidos. a unica diferenca eh que uns passam horas na frente do espelho se arrumando para parecerem arrumados diante das mesmas pessoas que os viram, a uma hora atras, desarrumados, enquanto outros passam horas na frente do espelho para parecer desarrumados, possivel e muito provavelmente, para as mesmas pessoas que os viram, a uma hora atras, arrumados no trabalho. Mas enfim, arrumados ou desarrumados, todos, mesmo os que dizem que não, arrumam-se e desarrumam-se para ver e serem vistos pelas mesmas pessoas que vem e são vistos todos os dias, arrumados ou não, pelas ruas da do pequeno reino de porto alegre. 


Ainda sobre as pessoas arrumadas. Preciso dizer que o pequeno reino de porto alegre tem as mulheres mais bonitas que já vi em qualquer reino que tenha, mesmo que em transito, passado e, sem falsa modestia, devo dizer que já passei por alguns varios reinos no caminho e por alguns reinos de mulheres muito bonitas, mas nenhum, digo, nenhum, com mulheres tao bonitas e tao alheias a belaza dos outros reinos, como as mulheres do pequeno reino de porto alegre. Alheias não no sentido de ignorantes, pois se tem uma coisa que os cidados do pequeno reino de porto alegre gostam de se gabar (sem ofensas) eh de que não são ignorantes, digo alheias no sentido de que, as mulheres do pequeno reino de porto alegre acompanham o que se passa em termos de moda e beleza nos grandes reinos de milao e paris e nova iorque e são paulo e ateh pequim, mas ainda assim, de alguma maneira, emitem seu proprio julgamento sobre isso, adequanto os conceitos de beleza vindos dos grandes reinos ao seu proprio e regional conceito, subjulgando o coletivo universal ao coletivo pessoal, vigente na pequena querencia. 


Acho que a cobri boa parte das temporadas. Recapitulando: Nas primaveras e outonos os habitantes do pequeno reino trabalham, e celebram e premeiam seus trabalhos para si mesmo e, quando saem do trabalho, vao para cafes e bares e cinemas e livrarias, e confraternizam com as mesmas pessoas que com quem passaram a tarde inteira falando no trabalho e aprofundam os mesmos assuntos em que tocaram, superficial ou delongadamente, com as pessoas com as quais passaram a tarde conversando e, porque nestes encontros há alcool, chamam a isso de 'happy hour', enquanto se houvese café, chamariam de 'break' e, se fosse meio dia e houvesse comida, chamariam de  'almoco de negocios'. Admito que talvez as ironias sejam um pouco por venenosas, mas, por favor, me não me entendam mal, não falo aqui com desdem, pelo contrario, se ostento aqui algum sentimento, este eh, ou são, puramente, de admiracao e ternura. 


Mas há ainda o verao e o inverno. Não me levem a mal, mas o verao eh absolutamente insuportavel no pequeno reino: O clima eh quente, por demais quente, e humido, muito, muito humido. Inclusive, me deixe aqui fazer um parenteses sobre a percepcao do clima no pequeno reino de porto alegre. Fica no brasil, certo?! Eu a havia mencionado que fica no brasil? Bem, por certo, fica no brasil, no extremo sul do brasil e, por se tratar de brasil, os habitantes tem, de alguma maneira, a ilusao de que não há frio. O que se passa eh que no extremo sul do brasil, no inverso, faz muito frio, mas como há a ilusao de no brasil não faz frio os lugares não são preparados pra isso e a calefacao não eh tao difundida quando deveria e os restaurantes e bares, nem de longe e com ajuda do vinho, tao aconchgantes quanto se esperaria. Sendo assim, acredito eu, que no pequeno reino de Porto Alegre eh um dos lugares onde mais se passa frio no mundo. já no verao, como eu dizia, faz muito calor, mas, como fica no sul, no extremo sul do brasil, acredita-se que não faz tanto calor no pequeno reino, sendo assim, os lugares publicos e  de uso comum não dispoem da refrigeracao necessaria e os bares e restaurantes, nem de longe e com a ajuda da cerveja, tao refrescantes como se esperaria, sendo assim, no pequeno reino de porto alegre, acredito eu, eh um dos lugares onde mais se passa calor no mundo.  Mas eu ia falando sobre o verao, logo, voltemos ao muito quente e humido verao. 


Não me levem a mal, mas o verao eh absolutamente insuportavel no pequeno reino: O clima eh quente, por demais quente, e humido, muito, muito humido. Ninguem que não absolutamente necessite, normalmente por questoes de trabalho ou de extrema falta de dinheiro, permanescer no pequeno reino durante os meses de verao, permanesce por vontade propria no reino. Sendo assim, nos dois principais meses de verao, o pequeno reino, quase como que se fosse amarrado em cordas e movido por helicopteros superalimentados, transporta-se para outra localidade. há uns 3 ou 4 nomes provaveis de localidades pra onde se transporta o pequeno reino, mas um em especial se faz salientar: Chama-se Atlantida. Nem um pouco afundada supostamente nas aguas que dividem o atlantico e o mediterranio, nem um pouco super-tecnologicamente desenvovida nem que tenha alcancado o topo absoluto do desenvolvimento social da raca humana, mas, ainda assim com toda a sua muito mais humanidade do que divindade, um lugar encantador. Um lugar praias, e de pessoas definitivamente muito mais bonitas do que as praias. Onde todas as pessoas mais bonitas, como se em 


No verao – praia, jazz,champagne. 
No inverno – cinema, fondue, cachecois.
Nas ruas – as mulheres mais bonitas de todos os reinos que há. Se arrumar para se arrumar, sair do reino soh para poder voltar para o reino e dizer que saiu do reino. 


     Não existe lugar no mundo como o pequeno reino de porto alegre. La as pessoas gostam de andar de mercedes ou ferraris ou porsches tanto quanto gostam de andar a cavalo e, não raro, os que andam a cavalo são os mesmos que andam em ferraris. No pequeno reino de porto alegre o campo se mistura com a praia, que se mistura com a cidade, que se mistura com a montanha. não que em outros lugares do mundo pessoas não tenham casas na montanha e na praia e no campo, mas eu aposto a minha mao, em um jogo do osso, que não existe outro lugar no mundo onde existam mais pessoas que tenham casa na praia e na montanha e no campo e no morro quanto no pequeno reino de porto alegre. 

João e o Navio Mercante (da série: contos sem fim)


A vida era simples de onde ele vinha: Uma jangada. Um peixe. Um almoco. Uma rede. Um livro, as vezes, mas nem sempre. E era assim que se vivia por la, o sol a nascer e a se por no marcar das horas, fora isso, um incontar de minutos sem pressa a passar. E nesse ritmo se passavam os dias, os meses, os anos. 


Um sorriso de pirata ao meio dia, um violao ao fim da tarde e uma sensacao concreta de completude. Dancava no vazio em meio as ondas e isso lhe fazia feliz. Quando chovia:Banhava-se. Quando fazia sol: Secava-se. Assim era joao. 
Filho de pai pescador e mae rendeira, joao nascera perto das quatro da tarde em um dia qualquer de marco, daqueles que faz tanto calor que mal se sabe o passar do tempo. passou a infacia a subir e descer coqueiros e, aos quatro, já conhecia pelo nome todos os passaros e todas as ondas do vilarejo. Aos quatorze já tinha na rede sua melhor amiga e, nos pescados, seus maiores confidentes. Via no vilarejo um comeco, um conforto, um abrigo. Mas via no mar um horizonte, um não limite, um desafio, uma paixao. 


Se perguntava joao o que haveria depois das ondas que teimavam em bater no ultimo rochedo ao sul e não lhe sessava a curiosidade  nunca ao pensar de onde vinha o forte vento do norte que durante as noites lhe botava a dormir cantando cancoes de ninar. Queria saber as historias do vento, os conselhos que ele teria a lhe dar, de todas as aventuras, as terras visitadas, os perigos encontrados e os beijos conquistados. Trofeus de uma vida e suas inscricoes em cicatrizes. Assim era Joao, um pescador por oficio, um sonhador por vocacao. 


Parou de contar os anos ao completar dos 24 e, so tendo conhecido do mundo pouco mais do que dois quarteiroes da sua casa e o mercadinho que ficava na cidade vizinha, alimentava a sua inquietude e a sua ansiedade a cada dia, durante as longas horas solitarias de pescaria onde se paravam a conversar, ele, as ondas que teimavam em bater no rochedo sul e o aventureiro vento norte. Naquela abundacia de vazio os tres juntos pareciam não ter tempo suficiente pra tantos assuntos inacabados, impesando, inabordados, insonhados. 


Um dia, la pelas seis da tarde, como soube joao pois assim lhe disse o ceu que comecava a ficar rosa por ordem do sol, apareceu no horizonte uma figura estranha, indistinta mancha branca que se aproximava de forma suave e ininterrupta. O ceu avisava a chegada na noite e, como se em reposta a isso, a tal coisa a branca passou a ser uma figura estranha, indistinta mancha branca agora toda pontilhadinha, com pontos brancos a brilhar no horizonte como se fossem estrelas, como se, de repente, alguem por diversao tivesse roubado um pedaco de manto do ceu e o estivesse a fazer velejar. Algumas luzes coloridas faziam a dita mancha se parecer com uma arvore de natal, não que joao conseguisse reconhecer, pois não fazia ideia do que era uma arvore de natal; mas posso quase apostar que, se joao soubesse o que era uma arvore de natal, acharia que aquela mancha que crescia era uma arvore de natal a velejar perdida vinda de terras distantes. 


Embriagado pelo piscar de luzes o pescador perdeu a nocao do tempo, a muito o sol já se fizera lua e ainda assim o homem continuava la, a ignorar a noite, hipnotizado. Acabou por pegar no sono com o balanco do mar. Naquela noite não foi o vento a lhe cantar, mas as ondas a lhe contar historias. Acordou com o sol a berrar bom dia na face babada e amassada de uma noite mal durmida e, ao olhar pro lado, estremeceu ao ver a tal mancha transformada em um objeto branco de forma esquisita que tinha dois homens, ou coisa que se pareca, a abanar os bracos aos berros, pedindo-lhe por ajuda. 

Mulheres: Taís (da série: contos sem fim)

Estava parada no meio da roda. Era imune à autoconsciência, pois tinha total consciência do seu papel. Enfim, estava lá, no meio da roda.

Tinha o braço metade enfiado no quadrado verde que se entendia como sua própria bolsa. Na segurança do ato, demonstrava total domínio de seu próprio universo. Dispensava os olhos, conhecia tão bem seu interior que enxergava usando somente as mãos. Achou o cigarro.

Sobmergiu o braço. Sobmergiu também o fogo. Os braços magros cortaram o ar: rarefeito e abafado.

***

Narrativa de um tempo em que eu, sendo menina, me encantava ao admirar mulheres.