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domingo, dezembro 20, 2009

A Casa dos Guardanapos de Pano


Um andar. Um andar só. Não, mentira minha, um andar e meio, contando aquela escada vazada e sem corrimão que levava pro quarto do tio mais novo. Aquele comodo sempre foi o mais misterioso pra mim, tinha um certo algo de quarto proibido no ar.

A entrada era pela garagem. À direita da porta, os janeloes que levavam ao patio, ao grande patio e, no pátio, o cachorro. O cachorro era um  dalmata com o rosto todo branco. Diz meu tio que isso é uma virtude em dalmatas, que manchas nos olhos são como defeitos para a raça. Não sei, só sei que não era um cachorro com olho de pirata. Diz meu tio, também, que era um tipo especial, bisneto de um dalmata campeão de uma criadora lá do Rio de Janeiro que diz que tinha criado um tipo especial de "dalmatas quadrados". Diz que até em livro tem o nome da família do cachorro. Quanta coisa...e eu que achava que cachorros eram só cachorros. Não lembro muito bem dos detalhes. Conta minha mãe que ele se levava para passear e que, ao voltar, batia com o rabo 3 vezes na porta para que a abrissem. 



Um dia o Tony sumiu. Minha família acha que ele foi roubado. Mas tudo isso eu não sei. Tudo que sei é do sentimento que eu tinha pelo cachorro. Ele era o meu melhor amigo na casa, meu fiel escudeiro contra os leões que moravam embaixo da mesa de jantar e meu comparsa em todas as minhas tentativas frustradas de pular o muro que dividia o pátio com, acho, a área de serviço. Lembro-me de brincar de cavalgar no Tony, isso é o que mais me lembro. E creio que me lembro que nos divertíamos muito, ele e eu, a brincar ao lado do grande banco de madeira que ficava à sombra do quarto do tio mais novo. O que mais me lembro do Tony é esse sentimento de amor velho, assim quase que perdido o fundo do baú mais antigo do meu peito. 


À esquerda da porta, um hall que levava a Sala de TV e a Sala de Jantar. Lembro-me pouco da Sala de TV: A disposição dos móveis, o sofá que fazia frente a lareira e a cadeira do avô, o lugar nobre da sala, fazendo frente a tv. Lembro-me pouco da Sala de TV, mas lembro-me perfeitamente da sensasão que tinha quando brincava de caminhar no encosto do sofá; lembro-me direitinho da visão dos meus pés e do esforco para manter o equilibrio; lembro-me da adrenalina de pensar que o sofá poderia virar e da graça que achava do medo que a avó tinha de que eu caísse.


Cruzando a sala de jantar se chegava a copa, era uma casa do tempo em que as casas ainda tinham copa e, passada a copa, entrava-se na cozinha, que era fina e comprida. Sobre a copa nao tenho muito a dizer, só que ela tinha gosto de pão com mateiga e mel. Pão com manteiga e mel que a Teresa fazia. Tereza era a negra que tinha sido criada pela minha bisa enquanto minha avó, menina de sociedade, tinha sido criada em um internato. Depois de velha, Tereza tinha ajudado a minha vó a criar seus filhos e, depois de ainda mais velha, estava ajudando a filha da minha avó a me criar; A cozinha era interessante, bem fina e bem comprida tinha um monte de fogões que nem me lembro bem. O que me lembro bem da cozinha era que tinha uns canos, canos compridos e de comprimentos diferentes na parede a direita da porta, parecia uma miniatura daqueles orgaos de igreja. Eram as campainhas. Cada cômodo tinha a sua campainha.

*    *    *


E tudo na casa me era absolutamente natural. Fantasticamente natural. A mesa com patas de leão, o cesto de ovos em forma de galinha no comedor, o orgão na cozinha que servia como campainha. O avô. A avó.

Passou-se o tempo. Primeiro, foi-se embora a casa: grande, imponente e acolhedora no alto daquele morro que me doía as pernas de subir; Mais tarde, já em um apartamento, também alto e em um morro, veio o computador. Computador melhor que o da minha casa. O computador melhor que eu já tinha visto. O computador que ficava no escritório do avô. E, depois, foi-se embora o avô. Na sequência, foi-se embora o apartamento e, com ele, a biblioteca do avô.

Idos a casa, o avô, o apartamento, a biblioteca, ficou-me a avó. Me pareço muito com a avó. Dela, aprendi a herdar o paladar. Se da negra, que depois de ainda mais velha tinha ajudado a a filha da avó a me criar, aprendi o gosto por pão com manteiga e mel, da avó, guardei o gosto por pêras e sopas. Gosto de sopas independente da temperatura, mesmo no verão, gosto de sopas.

E tudo na casa me era absolutamente natural. Fantasticamente natural. Levou-me bastante tempo: foi-se embora a casa, a negra, o avô, o apartamento, a biblioteca e o computador. E foi preciso que ficasse só a avó, as pêras e as sopas, para que todo o universo que conheci dentro das paredes daquela casa me parecesse menos natural. Era fantástica, eu mal sabia.



* * *



Notas sobre o avô: 


Como me doí não ter convivido mais com o avô. Olhando assim, para a foto que a minha mãe mandou fazer dele para toda a família, sinto uma ternura tão grande e, ao mesmo tempo, um grande pesar. Um pesar de não tê-lo comigo, um pesar de não ter suas opiniões para venerar ou, ainda, aquela aura de reverência que tinha o cruzar da porta para o gabinete.


Nunca mais vi gabinetes. Hoje os prédios tem paredes de gesso e chamam escritório aquele pequeno vão que sobra entre o lavabo e o corredor, onde mal cabe um laptop. O do avô não, o do avô era um cômodo inteiro, ainda maior que qualquer outro cômodo da casa. O avô nunca era só o avô. Era um avô, um par de óculos daqueles de armações grossas dos anos 60, uma biblioteca, uma poltrona e um cálice de vinho no braço, um cigarro  e, depois da década de 50, uma televisão.


Lembro-me da tv retrô da sala de Estar e das histórias que minha mãe contava sobre como cada filho tinha um dia seu da semana para escolher o que ver na tv. Conta ela que o dia dela era o sábado, mas, aos sábados, o avô estava em casa, logo, ela não tinha dia da tv. Já nos anos 90 meu avô comprou uma tv muito moderna: tinha duas caixas de som retangulares que saiam das laterais da tela, assim como duas orelhas. Ainda está aqui a tv, na casa dos guardanapos de pano versão 3.0, o apartamento da avó. Lembro-me exatamente do dia em que a tv chegou, o primeiro dia em que vimos a tv, uma das raras vezes em que o avô permitiu que meu pai entrasse no gabinete. Ficamos nós 3 lá, embasbacados com o brinquedo novo odo avô. A tv e o avô passavam os dias a conversar, como ele teria gostado de conhecer McLuhan.


Se ao meu pai não eram dadas muitas vindas ao santuário-biblioteca-gabinete do avô, a mim a história era diferente: cheia da inocência infantil dos idos dos 6 anos, desconsiderava as regras veladas e entrava na biblioteca a qualquer momento, de qualquer maneira, correndo a pular e colocar os pés nas poltronas de couro do avô. Para o formalismo silencioso que pairava do no ar da residência: heresia. Para mim, a risada gostosa do avô divertindo-se com o descumprir de suas próprias regras. Coisa boa ainda lembrar do riso do avô. Acho que consigo reproduzir. Acho que meu riso se parece com o dele.


O avô era Doutor. Professor Doutor, como nos divertimos ao lembrar no último natal. Virou até nome de praça. Era jurista, e a referência em ciência política no estado, mas, se me perguntassem, meu avô era a versão gaúcha de Vinicius de Morais. Acho que são os óculos e o nariz dele que me fazem pensar assim. Minha mãe conta histórias de que, na praia, ele batucava sambas em caixinhas de fósforos. Ora se isso não é digno de um garoto de Ipanema? 


Lembro-me de um diálogo lá pelos 8 anos quando, morrendo de medo de decepcionar o avô, liguei para dizer que não queria mais ser advogada. Estava a me desculpar. Meu mais novo sonho era ser doplomata.O avô, claro, achou muito graça. Também achou graça quando mais nova, lá pelos 6 anos, me informaram solenemente que ele iria fazer uma cirurgia no coração e eu, ajoelhada a sua frente na sala estranha que ficava em frente a sala de jantar, não exitei: sugeri que ele aproveitasse para fazer uma plástica e tirar um pouco da barriga que já ia bem grande. Ele, claro, caiu em riso e me disse que achava essa uma boa idéia. Acho que ele achava graça de mim, acho que eu o divertia.


A última lembrança que tenho do avô é do ano de 99, extato um ano depois da sua morte. Minha mãe sentada no chão, escorada no armário do nosso escritório, chorando a ausência dele. Não me lembro de ter chorado a sua ausência, mas isso não quer dizer que não a sinta. Em cada curva do caminho queria tê-lo comigo, a achar graça dos meus dilemas.


Vô, sinto falta da tua ternura. 


* * *

Notas sobre a avó: 



A avó tem cabelos curtos, usa-os claros, quase loiros. Hoje, pintados. Tem sempre as unhas feitas, usa-as claras, sempre discretas. É uma pessoa curiosa a avó, sempre vistosa, ao mesmo tempo, muito discreta.

Uma vez fui com minha irmã ao cinema, era um filme sobre a rainha da Inglaterra, mas bem que poderia ser um filme sobre a minha avó. Elas usam a mesma sineta, um pequeno sino sempre ao alcance das mãos, para chagar os empregados da casa. Imagine só, minha avó e a rainha da Inglaterra, dividem uma sineta. Que mundo curioso. Ao sair do cinema, encantadas, comentamos. Concluímos que eramos netas da rainha da Inglaterra.

Essa é a avó. Clara, nobre, filha de aristocratas do passado, ela e os guardanapos de pano. Mas, assim como as pêras e as sopas, de uma simplicidade encantadora. É doce, é suave, é apaixonante.


* * *

Enquanto escrevo a avó, já com cabelos brancos disfarçados pela tinta, dá aula. Fala de ciência e de filosofia a uma turma em uma faculdade. A avó é psicóloga e filósofa desde o tempo em que, aqui por estes trópicos, as mulheres nem trabalhavam, nem pensavam, nem ensinavam fora das paredes de suas casas. Mas a avó já pensava, já bem longe de casa, a avó pensava.

E esse é o fantástico por trás do normal. O fantástico que me levou anos para descobrir. Imaginem vocês que, tendo nascida neta da rainha da Inglaterra que dá aulas de filosofia eu, por tanto tempo, só me ative ao leões que se escondiam embaixo da mesa de jantar.


American Beauty (Draft 1)


Sao 4 chances para fazer 10 jardas.
Parece bastante simples: Uma "bola", um quarterback, um Forrest Gump e uma parede de gorilas para cada time.
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Do outra lado da tela eh onde o jogo realmente acontece: loiras em lata ou em tintura de cabelo, naturais ou em garrafa; meia duzia de ex-herois dos corredores de colegio com um desenvolto cinturao de cerveja ao redor dos musculos abdominais; alguns pares de airbags suspensos e acomodados em belas embalagens de renda; um ou dois ex-esquisitos que acabam por se revelar geniozinhos-icones-pop-cult-do-mundo-pos-prom e muita nostalgia.
Ja esta, eis pronto o elenco de mais um High School Musical de uma das tantas Broadways americanas de fundo de quintal. Em um cenario de jardins com churrasqueiras, safas, tvs de plasma e cookies sobre o balcao da cozinha.
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Pra todos os outros presentes, so mais uma noite na America. Pra mim, uma experiencia antropologica, a deliciosa confirmacao dos esteriotipos ou, simplesmente, assistir American Football.
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TOUCHDOWN!

About the Ends and How to Meet Andy Warhol

So, i'm on the bus, right, the A bus, coming back from the Magic Kingdom. The very last time I ever ride the A bus coming back from the Magic kingdom. Just chilling, trying to feel the moment, listen to some classic music on my friends ipod. We are the last ones to leave the bus, everyone says goodbye to the driver, he is really warm and replies them all politely. 


Then we drop off, he says goodbye and have a good night, to what I say, ' Have a nice life, 'cos this is the very last time i ride this bus, this is my last day at work', 'Have a nice life too', he says. I leave  the bus and hear a sound of a metal falling on the ground, do not mind, i keep my way. He calls and ask 'Is this yours?'. It was a pin, my Mickey Mouse pin, 'Yes, its mine and I want it! Thank you', I say. When I'm about to turn my back once more he says ' I met him once'. I wondered for a while: who did he meet, Mickey Mouse? Who? I asked. Andy Warhol - he replied me. I have this Andy Warhol pin on my purse, it took me a while to realize he had seen it and was talking about it. 


 - No way, you met Andy Warhol?! How come? Where?
 - It was at this party once, I was there and he was there, he was kind of the weird guy in the corner, minding his own work. It was not a long conversation, kinda 'hello, how you doing?" type, but, yes, I met him. 
 - Thats good enough for me. - I say. - Whereabouts? 
 - New York. - he tells me.  - I met Iggy Pop too. He was at the party. 


And then he tells me how he used to be a musician and said ' you know, you're a musician and then you're hanging out with your friends, all musicians, and next thing you know you're in the back scene, you're at these parties and meeting these people. Even if your not playing, you're in the back scene, you know"...


I ask him what happened to the music and if driving busses were any more exiting than playing, and he says 'no, but I need it' and tells me how he has a sun that was born with epilepsy and that it was hard and he was a single parent, but now the guy is better and when he turns 18 he, the father, is going to Japan to teach English and will meet a beautiful Japanese and marry her, and we talk about the Flaming Lips and Yoshimi and how they had to go to Japan to get recognized here in the US. He goes on a bit more about how you can teach for five years there and that, once there, he will, eventually, learn Japanese. 'Just don't get lost in translation', I said...


He says, "If you ever get into the music business, don't... Don't ever leave it. There will be a lot of times things will get hard, there's a lot of bad stuff in that business, depressions that go on for years and you think to yourself  'I wont want to do that when I'm forty...' - he says - " But, yes, you do, you will want to do that at forty, and fifty and at ninety two...".  


And then we split and I fail twice very badly in my attempts to light my cigarette. End up having to go back to the little bus drivers' center to ask for a lighter and, since I'm already there, used the time to say 'thank you' to the guys inside, even if they never drove me I thank them for doing it and say that their work made my work possible. We start conversing once more, Woody, the guy that had once met Andy Warhol, and I. 


He tells me "Don't ever let your boyfriend give up on music, even if times get hard". I say I wont, say I'll always be there for him, to support, to stop him from giving up when things get complicated.  I say goodbye and farewell for them and the A bus, the one I'll never more catch, and he says "and hey, maybe we will see each again", and I say "yeah, and you will be playing, I'll be in a bar and you and my boyfriend will be there, playing, and you guys are going to play together". 


 - I still have my guitar - he says, and tell me the name of the guitar, which, of course, I don't remember - Just like Jimmy Page's one. - He tells me. 
 - Is it a Fender? - I ask. 
 - No, its a Gibson. But I have a Fender as well, it wouldn't be Rock'n'Roll without a Fender! 
 - No, it wouldn't - I reply. - Well, bye then and it was very nice to have met you!
 - It was indeed very nice, too bad we only had this conversation now, at the very end. 

And then I say:


 - Yeah, but thats what ends are for, right? To bring  new beginnings... 


* * *


And yeah, thats what ends are for, to bring new beginnings, right? 

Do que se passa em Washington D.C (jan/2008)

Quarta- feira, congresso Norte-Americano. Senado em sessao. Dois representantes de cada estado, 49 representantes republicanos, 49 democratas, um "livre", um democrata livre. No livretinho que explica como funciona o sistema uma ilustracao da camara com os nomes de cada senador e seu lugar no congresso, nomes como Obama e Clinton, com indicacoes dos seus estados. Uma meia duzia de adolescentes engravatados e com espinhas sentados no chao, ateh onde deu pra entender, eles sao responsaveis por levar agua e repor os papeis das mesinhas. Senadores presentes: 1.   
 
***

Rua H, 3 quadras da Union Station. Meus amigos moram em um predio de 3 andares, no primeiro, um espaco vazio que serve como galeria; no segundo, 1 quarto, 1 banheiro, coz(inha); no terceiro, 1 quarto e o estudio ou, simplesmente, computadores com adesivos de "talk nerdy to me" e um sem fim de aparelhos eletronicos empilhados. 

***

Eh claro que eu esperava ver o congresso cheio. Senadores vorazes, afoitos por expor sua opiniao, cheios de ideias para fazer deste planeta um lugar melhor. 

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A geladeira eh daquelas frigideres antigas, redondinhas, tipo "eh assim que serao as geladeiras do futuro" dos filmes da decada de 60. Branca. Igual a vemelha que a Bruna tem no quarto. Fica bem melhor no quarto da Bruna, como armario, do que disputando espaco com o armario das panelas e a dispensa que soh tem comida pra gatos em um canto da pequena cozinha, como geladeira. 

***

"Faz sentido", pensei. Obama e Hilary nao estarem la, afinal, eles estao em campanha eleitoral e, discutivelmente, eh mais importante fazer campanha eleitoral do que manter a constancia diaria do trabalho no legislativo para tentar fazer algo. Sera o sonho de todo o legislativo eh ser executivo? Sera que o legislativo eh um executivo recalcado? 

***

O que me deixou mais aflita em todo o senario cozinha foi ter tido mais dificildade em achar comida de gente do que comida de gato. Dentro, na geladeira, tudo empilhado, sanduiches meio-comidos enrrolados em papel aluminio e pacotes de vegetais velhos pela metade. Ja consegui achar uma coisa ou duas e cozinhei, mas eh dificil, me toma tempo e serenidade. Nunca falta comida, mas tambem nunca tem eh como se fosse sempre uma caca a comida, entende? Eu sei que eh mimado e mesquinho eu reclamar, ou mesmo descrever, nao eh meu e tem me sido oferecido de graca e com amor, mas, ainda assim, essas sao as impressoes que fico. 

Essa ausencia da possibilidade de comida tem mexido bastante comigo, esta me fazendo rever meus conceitos e, espero eu, amadurecer.

*** 

De onde eu consigo ver eh um par de ombros de terno que sustenta uma cabeca careca no centro, rodeada por ralos cabelos brancos e maos que se movimentam frenetica e enfaticamente, marcando o ritmo de cada um dos "Mr. President", para o presidente do senado, enquanto este, disfarcadamente, manda mensagens pelo celular por debaixo da mesa. Um velinho que parece simpatico, senador pelo estado de Vermont, esta propondo uma reducao no impostos de nao sei o que la e no reeembolso de nao sei mais o que, que pelo que eu entendi e um reembolso dado pelo governo sobre os impostos pagos. O que acontece eh que quem paga mais impostos, sobre uma fortuna maior, acaba por receber um reembolso maior, o que acaba deixando a sua fortuna maior, e quem tem menos grana e paga menos imposto, ganha menos grana do governo e acaba ficando com ainda menos grana. "Isso foi feito durante a admistracao Regan, e teve efeito. Esta na hora de pararmos com palhativos e tomarmos medidas efetivas para reestabelercer a economia. Ano passado um ....... de trabalhadores da construcao civil perderam os seus empregos, e com esta medida teriamos nos cofres do governo em torno de 500 bilhoes a mais, e com 500 bilhoes a mais poderiamos devolver o emprego para uma boa parcela desta populacao e fariamos a economia girar. Temos que parar de governar para os Bill Gates e Warren Buffets. Eu considero esta uma proposta sensata e solida para reestabelecermos a economia deste pais". Fim da sessao, o senador  se retira, o presidente envia sua mensagem. 

***

Quinta-feira. Frio, bem frio. Pennsylvania Av, eu acho, algum lugar entre o Capitolio e  o Obelisco grande. Fui na National Gallery of Art, tudo free, duas visitas guiadas, uma sobre o seculo 19 na Franca, do Roccoco ao pos-modernismo na pintura, otima guia. Outra sobre arte moderna, nao tao otima guia, obras maravilhosas, Picasso de todos os jeitos, as sopas do Andy. 
Voltando pra casa depois de passar no Museu Aeroespacial pra saber a hora da visita guiada, pedi dinheiro na rua pra comprar chocolate. 

Nao me incomoda a humilhacao de pedir, me incomoda a incapacidade e a ansiedade de nao conseguir ficar sem chocolate, me incomoda o desespero que pensar em ficar sem chocolate me gerou, mas me fez pensar, e muito, acho que me fez crescer.

A imagem figurada do chocolade mostra mais do que o vicio infantil, representa um pouco da crenca infatil e ingenua que eu, ainda e ainda que envergonhadamente, ostento.  

Incrivel como sempre fui ingenua e, de alguma maneira ainda mais incrivel, eu ainda sustentava minha ingenuidade sobre argumentos que, para mim, pareciam bastante racionais. Verdade eh que sempre me ideintifiquei mais com a nacao de Warrent Buffets do que com a nacao de pessoas que fica mais pobre ao pagar impostos, sempre romanciei a vida e achei que no final, no meio, no caminho, eu de uma forma ou de outra seria ou continuaria a ser parte dos um por cento da populacao mundial da qual nasci parte e me criei como. 

Mas hoje, desesperadade pela ausencia da possibilidade de chocolate, me dei conta do que a grande maioria dos meus amigos ja sabe: Nao, eu nao nasci Warren Buffet, Warren Buffet nao nasceu Warren Buffet e se eu, algum dia, me tornar um centesimo de Warren Buffet, sera por muito, muito trabalho arduo, muito mais disciplina do que eu jamais exercitei em toda a minha pequena e ingenua vida e muito auto-controle para conter meu desespero e enterder que eu nem sempre terei chocolate. 

***

Quinta-feira. Rua H, frio, muito frio. Chego em casa encolhida e rabugenta, meu amigo me abre a porta com um sorriso, diz que eu "look hot", me conta que acabou de editar o video, me oferece um cigarro e chocolate.   

João e o Navio Mercante (da série: contos sem fim)


A vida era simples de onde ele vinha: Uma jangada. Um peixe. Um almoco. Uma rede. Um livro, as vezes, mas nem sempre. E era assim que se vivia por la, o sol a nascer e a se por no marcar das horas, fora isso, um incontar de minutos sem pressa a passar. E nesse ritmo se passavam os dias, os meses, os anos. 


Um sorriso de pirata ao meio dia, um violao ao fim da tarde e uma sensacao concreta de completude. Dancava no vazio em meio as ondas e isso lhe fazia feliz. Quando chovia:Banhava-se. Quando fazia sol: Secava-se. Assim era joao. 
Filho de pai pescador e mae rendeira, joao nascera perto das quatro da tarde em um dia qualquer de marco, daqueles que faz tanto calor que mal se sabe o passar do tempo. passou a infacia a subir e descer coqueiros e, aos quatro, já conhecia pelo nome todos os passaros e todas as ondas do vilarejo. Aos quatorze já tinha na rede sua melhor amiga e, nos pescados, seus maiores confidentes. Via no vilarejo um comeco, um conforto, um abrigo. Mas via no mar um horizonte, um não limite, um desafio, uma paixao. 


Se perguntava joao o que haveria depois das ondas que teimavam em bater no ultimo rochedo ao sul e não lhe sessava a curiosidade  nunca ao pensar de onde vinha o forte vento do norte que durante as noites lhe botava a dormir cantando cancoes de ninar. Queria saber as historias do vento, os conselhos que ele teria a lhe dar, de todas as aventuras, as terras visitadas, os perigos encontrados e os beijos conquistados. Trofeus de uma vida e suas inscricoes em cicatrizes. Assim era Joao, um pescador por oficio, um sonhador por vocacao. 


Parou de contar os anos ao completar dos 24 e, so tendo conhecido do mundo pouco mais do que dois quarteiroes da sua casa e o mercadinho que ficava na cidade vizinha, alimentava a sua inquietude e a sua ansiedade a cada dia, durante as longas horas solitarias de pescaria onde se paravam a conversar, ele, as ondas que teimavam em bater no rochedo sul e o aventureiro vento norte. Naquela abundacia de vazio os tres juntos pareciam não ter tempo suficiente pra tantos assuntos inacabados, impesando, inabordados, insonhados. 


Um dia, la pelas seis da tarde, como soube joao pois assim lhe disse o ceu que comecava a ficar rosa por ordem do sol, apareceu no horizonte uma figura estranha, indistinta mancha branca que se aproximava de forma suave e ininterrupta. O ceu avisava a chegada na noite e, como se em reposta a isso, a tal coisa a branca passou a ser uma figura estranha, indistinta mancha branca agora toda pontilhadinha, com pontos brancos a brilhar no horizonte como se fossem estrelas, como se, de repente, alguem por diversao tivesse roubado um pedaco de manto do ceu e o estivesse a fazer velejar. Algumas luzes coloridas faziam a dita mancha se parecer com uma arvore de natal, não que joao conseguisse reconhecer, pois não fazia ideia do que era uma arvore de natal; mas posso quase apostar que, se joao soubesse o que era uma arvore de natal, acharia que aquela mancha que crescia era uma arvore de natal a velejar perdida vinda de terras distantes. 


Embriagado pelo piscar de luzes o pescador perdeu a nocao do tempo, a muito o sol já se fizera lua e ainda assim o homem continuava la, a ignorar a noite, hipnotizado. Acabou por pegar no sono com o balanco do mar. Naquela noite não foi o vento a lhe cantar, mas as ondas a lhe contar historias. Acordou com o sol a berrar bom dia na face babada e amassada de uma noite mal durmida e, ao olhar pro lado, estremeceu ao ver a tal mancha transformada em um objeto branco de forma esquisita que tinha dois homens, ou coisa que se pareca, a abanar os bracos aos berros, pedindo-lhe por ajuda. 

sexta-feira, outubro 16, 2009

No Mar de Janeiro

O Rio desaguou estórias

E, em um Outubro de prazeres a gosto

Cada palavra é um ramo

De patas ainda por nascer

E asas ainda por voar.

No Mar de Janeiro:

No Mar de Janeiro:

 - Fecundei Ideias



- Tive conversas de valores impagáveis

 


- Tomei tragos homéricos




- Recebi  elogios desconcertantes

 


 - Conversei com artistas e diplomatas




- Me interessei por  pessoas interessantes




- Vi, vivi e escrevi arte




- Fui descoberta por um tatuador nas primeiras linhas de um diálogo




- Senti o cheio verde e branco do mar




- Vivi o luxo sem pretenção





- Vivi um incrível presente e vi a vida melhor no futuro




- Redescobri o Brasil




- Reencontrei uma irmã





 - Aproximei um pouco mais minhas patas de minhas asas.

sexta-feira, março 02, 2007

Retrato de Pessoa

Lisboa é um magrinho de óculos. Não há músculos que se veja logo de cara. Lisboa não é um corpo que indique as direções. É uma cidade para ser descoberta em uma conversa tranqüila, ao sabor de Pasteis de Belém com canela, a beira do Tejo e com o bebericar de um Vinho do Porto, onde, em pequenos detalhes, acabamos por nos apaixonar.

Um lugar que não combina com pressa, onde as direções são conquistadas, não indicadas. Mas é um magrinho encantador, daquele tipo que nunca é o centro das atenções, mas que é capaz de manter uma bela mulher ao seu lado por horas só com sua fala e seu olhar.

Não por acaso Lisboa são as pessoas de Pessoa, o coração quente e o sorriso acolhedor da latinidade européia com o sotaque de impecável correção gramatical, porém tão comicamente doce que se torna completamente despretensioso, mesmo que seja falado por um Camões de roupas pomposas ou com a ranzinzisse tipicamente lusitana de um dos tão humanos personagens de Queiroz.

As ruelas apertadas em sobes e descem, com um odor de urina já instaurado e já parte da paisagem, de tão portuguesas deixam de ser inóspitas de se caminhar por, mesmo depois de já se doerem as nádegas de tanto subir. Mas tal magrinho conhece também bem o emprego de palavras eruditas e nem tudo é miudezas. Uma arquitetura riquíssima marcada pelo original manuelismo e a herança de monarquias se mistura com a tentativa clara do país de modernizar-se, ser pólo de cultura e nivelar-se ao resto do que hoje forma a, esta sim bastante esnobe, dama que é a União Européia.

Portanto, não é falácia que se diga, por exemplo, que Lisboa é um poeta e heterônimos. Uma personalidade, e muitas. Na delicadeza e acolhimento sem perder o brilho e genialidade que formam esta, hoje moderna, cidade secular. Correndo o risco de ser piegas ao parafrasear clichês, ouso dizer que, ao sentar-se sobre os tijolos das ruínas do Castelo de São Jorge, no topo de uma das 7 colinas lisboetas e observar o Tejo encontrar o mar e o velho encontrar o novo, qualquer um diria que a não pequena alma de Lisboa faz tudo valer a pena.

Bibiana Xausa Bosak – Lisboa 05.05.06

O grito da Lua

(A Luz do Dia no Cairo)

Cairo é uma cidade amontoada. A falta de cuidado e o estado deteriorado de todas as coisas se fazem notar a todo instante. As pirâmides, sendo engolidas pela cidade trazem a tradução visual da sensação constante de que a agressividade do islã sufocou completamente o misticismo dos antigos deuses. É como se a Lua e as estrelas gritassem, ou melhor, tossissem, sufocadas pela poluição do céu. Gritos esses emudecidos, infelizmente, pelo ruído ensurdecedor das buzinas.

Engraçado como toda essa bagunça generalizada parece não se encaixar. É como se o Egito fosse dois filmes sobrepostos, que não se relacionam de maneira alguma. Não sei se fui eu ou se foi o Egito, mas, com certeza, algo mais foi perdido com os livros de Alexandria.

A sensação é de que a globalização é um gigante visivelmente fazendo força para se impor sobre outro gigante que, por detrás da negra burca, se mantém irredutível e imutável. Toda esta guerra sobre o manto cor Areia que ainda mantém no céu estrelado e no que sobrou do deserto o misticismo da música dos velhos deuses.

E eu, no meio disso? Eu pinto a minha cara e ponho o meu turbante, como um tuaregue, atravessando meu próprio deserto...

Um pensamento me ocorreu agora: Que essa perda das suas próprias raízes parece, pouco a pouco, levar o país a repetir a sua própria história e, como Cleópatra, acabar por liderar a serpente contra o seu próprio peito.

(Isto é o que me revela a luz do dia no turbulento e caótico Cairo, a luz que mostra mais do que deveria. Mas nem tudo esta perdido, ainda há a noite no Egito, aaaa a noite e, durante a noite, Osíris e Isis ainda cantam mais alto.)

Bibiana Xausa Bosak - Cairo - set/2006

La vità a italiana

Seguimos em direção a Trastevere para achar as dicas de comida que as italianas tinham nos dado. Caminhando pela beira do rio podemos ter uma
idéia mais próxima do que é Roma para os romanos. Protegidos pelas vias
bastante arborizadas casais namoravam à beira do rio; “ragazzas” corriam para
entrar em forma pro verão; motoristas desrespeitavam sinais de trânsito;
mendigos pediam dinheiro para comprar lasanha e turistas compravam
badulaques em feirinhas... Enfim, um dia com cara de domingo qualquer...

Chegamos a Piazza Trilussa, onde ficava o restaurante indicados pelas
italianas, para descobrir que, com toda a aptidão dos italianos para ganhar
dinheiro, ele estava fechado em pleno domingo de feriadão. Partimos para a
segundo opção: Pizza a kilo. Na esquina da praça, cada um de nós comeu um
”supli” e um pedaço de pizza que estava ótimo. Na parede um certificado dizia:
"Campeonato Mundial de Pizza, 4º colocado". Acho que fizemos uma boa
escolha...

Passamos a pontezinha e descemos as escadinhas para aproveitar o
pôr-do-sol no Tevere. Foi como aproveitar que a cidade é eterna para parar o
tempo por alguns instantes. O sol se esconde por trás da cúpula da Basílica
de São Pedro e deixa o friozinho do entardecer no Mediterrâneo chegar.

Voltamos à praça para cumprir mais uma das dicas das italianas: Friends. Pede-se um drink - quem estiver sentado paga mais caro - e tem-se
direito a um buffet com pães e salames e tomates e molhos, de graça. Não
preciso dizer que o lugar lota. A italianada toda se amontoando na fila para
comer de graça. Como "em Roma haja como os romanos", nos amontoamos na fila também. Bebi uma taça de Prosseco e o Antônio, uma cerveja. Depois de devidamente bebidos e comidos, demos uma volta pelo bairro para ter uma
idéia do que é a boêmia na terra de César.

Sentamos numa muretinha de um bar próximo onde tinha um aglomerado de italianos que ao se cumprimentarem davam beijinhos uns nos outros e falavam com as mãos. Ficamos um tempo conversando, falamos como na Itália os cabelos finalmente eram bem cortados (diferente de Portugal e Espanha) e de como a avarage people there era muito mais bonita do que no resto da Europa. Reconcluimos que o Rio Grande do Sul realmente tem as mulheres mais bonitas do mundo e falamos sobre a vida de ‘erasmus’ na Europa.

Logo de cara nota-se o quanto os italianos curtem a sua própria cidade,a sua comida, as suas pessoas. Por qualquer lugar que se ande por Roma há pessoas conversando, gritando, gesticulando. Percebe-se logo que os bares não são os reis da noite por lá. Na Piaza di España andamos quadras e quadras sem nenhum sinal sequer de um lugar que vendesse cerveja e, ainda assim, haviam multidões lá, juntas simplesmente pelo prazer de estarem
juntas, ao ar livre, sob os cuidados de Júpiter. Esse clima torna Roma uma
cidade viva e amiga e mostra o outro lado da cidade que, indiferente às
ruínas, não vive de história e de monumentos e, sim, de pessoas.
Os romanos
independem das ruínas.

No hostel de Barcelona uma das inscrições presas na parede diz:" To me traveling is about finding roots that want to grow, meeting people along
the way and touching their lives as well as them touching yours ".
Talvez tenha sido o sangue, gerações de antepassados me acompanhando no
caminho, mas estar em Roma, pra mim, foi um pouco como estar em casa.

E este é o que eu acredito ser o grande segredo da viagem: Saímos pelo mundo buscando asas e altos vôos, mas quando a liberdade (e a solidão) se tornam parte de nós, o que achamos de fato são raízes. As nossas próprias
raízes. Vamos descobrindo em cada esquina pedacinhos do que é o nosso
próprio quebra-cabeças e tudo que descobrimos sobre o mundo não passa apenas de um pano de fundo para tudo que descobrimos sobre nós mesmos.

Ainda cansados das nossas aventuras para chegar em Roma, decidimos voltar para o hostel, onde, naquele dia , finalmente, teríamos camas. No caminho passamos por Campo di Fiori, uma praça boêmia. Um sorvete, uma cerveja, alguns sorrisos, algumas novas palavras em italiano e pegamos o ônibus sem pagar para voltar ao que mais se aproxima de casa por essas bandas daqui.

Bibiana Xausa Bosak – Roma – 25.04.06

La Cova e solução para ‘Onde foi parar a alma de Barcelona’

La Cova foi um divisor de águas. Mudou minha visão sobre música eletrônica e sobre Barcelona: Agora eu acho música eletrônica ótima para dançar e me anima muito. A noite foi maravilhosa, pulei durante toda ela, frenética, irradiava energia e, as 6 da manhã, quando pegávamos o ônibus para voltar para o hostel eu ainda estava disposta a passar horas lá, pulando como uma criança. E sobre Barcelona, bom, o melhor conceito que consegui formular ficou gravado em um guardanapo, com a caligrafia trêmula de energia de quem escreve do meio de uma festa, lá pelas quatro da manhã.

Dizem os guardanapos:

“Barcelona é uma cidade (mulher) sem alma. Ela vendeu para o Diabo por 3 pastilhas e 2 ácidos.

3 pastilhas: Uma cidade energética, anfetamínica, que não pára um segundo e vive ao ritmo alucinante da música eletrônica.

2 ácidos: Uma cidade que vive no surrealismo, com imagens muito alem das vulgares, com cores muito alem das comuns.

Mas como na caverna: Todos dançam juntos, mas no final, todos dançam sós.

Barcelona vendeu a alma para o Diabo. Aqui, quem manda é ele. De dia Barcelona é o vazio das multidões, de noite, o melhor do inferno.

Uma cidade da noite e do Diabo, aqui, quem manda é ele!”.

Bibiana Xausa Bosak – Barcelona – 30.04.

Fernando Meirelles e a Ignorância dos Educados

Sempre achei que Cidade de Deus fosse, sim, um ótimo filme, muito bem feito e etc, mas somente mais um filme sobre a miséria do nosso país. Parecia-me miserável só falar sobre a nossa miséria. Sei lá, eu achava que eles deveriam internacionalizar o nosso cinema, hollywoodezá-lo, se preferirem. Torná-lo mais clássico e comercial, mostrar o Leblon ao invés de Cidade de Deus, é ali do lado mesmo... E eu não me considerava ignorante.

Então eu, que não me considerava ignorante, fui viajar e me aventurar e descobrir e aprender e acabei por descobrir e aprender que eu ignorava a própria ignorância, em um sentido bastante estranho. Nós, terceiro-mundistas, subdesenvolvidos e o escambau costumamos entender muito e palestrar e até ignorar (no sentido de fingir inexistente) a ignorância dos não educados, dos quase 90% da nossa população que não tem acesso a escola, livros, bons lençóis, saneamento básico, comida não podre ou dignidade. E esta condição era bastante conhecida e, devo admitir, banalizada, por mim, assim como por, ouse dizer, 99,9% das nossas classes Média e Alta que, por comodismo, ou hipocrisia, continua a culpar o governo.

Porem viajar me fez conhecer a ignorância dos ricos. Não ricos alienados e estúpidos, pessoas inteligentes, bem informadas e educadas, meus amigos. “La crèm de la crèm” em seus paises de origem, e que, exatamente por serem destes países, desenvolvidos e evoluídos em condições sócio-culturais e estruturais, simplesmente desconhecem pura e completamente não o significado (pois este todos aqueles que não vivenciam desconhecem) mas, num sentido muito mais básico, desconhecem o próprio visual da miséria. Consideram favela um conceito e não uma realidade.

E então a minha opinião sobre Cidade de Deus e Fernando Meirelles mudou radicalmente. Tive que sair do meu país para entendê-lo e deixar de ignorar a ignorância para passar a compreender que o nosso cinema ficcio-documental vale muito e que mostrar a parte mais suja e feia da nossa realidade não é expor o nosso país de maneira negativa e, sim, expor a humanidade à sua própria sujeira e feiúra. É um passo a mais para tornar o mundo consciente do estado de total deterioração social que vivemos e que não é somente brasileiro, mas mundial. E é não função periférica, mas o dever primordial da arte em si, fazê-lo, ainda mais quando feito com maestria e sensibilidade, juntando o drama social e real ao drama humano e ficcional que dá interesse a trama, como fez Fernando.

Portanto e enfim, um viva ao cinema brasileiro por um mundo melhor, um viva a Fernando Meirelles e um viva a uma Bibiana um pouco menos ignorante.

Bibiana Xausa Bosak – Cairo – set/2006

Crise de Porto Alegre - Um olhar triste sobre Barcelona

... Bom, mas voltando a Barcelona: Não sei. É linda, cheia de vida, mas, pra mim, falta algo. Talvez seja porque acabo de vir de Roma, mas pra mim, falta alma. A alma disso aqui são os turistas, sinto tudo um pouco artificial, com as noites, como a praia. Tudo construído de maneira perfeita para agradar, mas eu sinto a cidade inacabada, como uma obra de Gaudí: Perfeita; artificialmente feita; mas um tanto inacabada. Acredito que há realmente um pouco disto aqui, tanto que Gaudí sentiu que precisava construir algo que imitasse a natureza.

Não me parece completa uma cidade que, por mais recluso que ele fosse, não reconhece seu próprio gênio e é capaz de enterra-lo como indigente. Se nem Gaudí era reconhecido aqui, eu me pergunto quem se conhece?

Sempre idealizei a Catalunya como berço dourado dos gênios: Dali, Gaudí, Picasso. Um lugar aberto a toda loucura e genialidade. Hoje enxergo de maneira um pouco mais deprimente: como um local vazio, que permite que a loucura se instale, cresça e tome conta, sem ninguém que se dê, por ela, conta.

Bibiana Xausa Bosak – Barcelona – 30.04.2006

A última nota azul do meu Jazz

Última noite no Cairo.

Um barco. No Nilo.

Música árabe tocando ao fundo. De leve.

O vento no meu cabelo. De leve.

A água negra do Nilo. De um quente negro, e leve.

Mais uma vez, pela última vez, a ar quente da noite da arábia.

O sentimento de conforto é tão grande , como se o calor do ar e a cor e o barulho da água envolvessem o corpo em um casulo de sensações agradáveis.

Encosto a minha cabeça no casco e, estando na popa, consigo ouvir o barulho do ferro quando as peças do barco se movem na água. Soa como Jazz. Fecho a porta para qualquer outro mundo que não seja o meu neste momento e me concentro no meu Jazz náutico e no meu Nilo aveludado.

As luzes na margem são prateadas, mas o reflexo na água é dourado.

Entro o sax.

O vento é a bateria, dando o ritmo não em sons, mas em sensações e, leve e macio como o Nilo, num piscar de olhos todas as sensações se misturam, tudo converge em jazz, na noite quente do Egito e eu já não preciso mais fechar meus olhos para sonhar.

Bibiana Xausa Bosak – Cairo – Set/2006

Shakespeare & CO

“...Pensei que ia encontra em Paris uma cidade de sonhos,

No entanto não encontrei uma cidade menos bela, mas mais real.

Achei Paris linda, mas não vi nela tudo que dizem,

Pois vi Paris com os olhos de uma criança e não de um adulto.”

Bibiana Xausa Bosak – Jun/1997

“Run! Run! Fast you go!

Now, here! Under the stairs! Shhhhh!”

Suddenly there is silence

Sparking in the eyes

And a childish smile

Suddenly there is a door

I am back to the age of five, hidden in a tiny space under a book-crowded stairway, listening carefully to adults wispers and innocently smiling to what have become my very own fairy tale.

“Shhh! Quiet!”

More a couple of stories and here I go? Almost a women, playing of being a child who is pretending to be an adult.

The stairs: up I go, mesmerized with new each step of my wonderland. I feel like I’ve just found out Narnia inside de cupboard.

Some steps further: “the books in this section are not for sell, you are welcome to read them here”, said the sign. A look around revels a couple of beds: you are welcome to lay down. Further on I can see a foot; thoughts crossing; I kinda whish it was… but it is not, and I am glad…

Foot turns out to be a young brunette sitting down comfortably writing a letter, I ask for a piece of paper and a pen: Here I am. This other guy comes to join us. Tell some ghost story: A Adolf Hitler’s book felt over his head from no where, there was nobody else but him in the entire floor, bla bla bla… Few minutes more and some drunk fellow enters the room. He is drunk, he is kinda funny, but, hmmm, not really…

THE KID HAS LEFT BUT THE SMILE IS STILL HERE.

We are going to some place, 2,50 euros a pine, whatever… let’s go!

Its funny: We come here to find a magnificent city and what we ended up finding out is that Paris lives in the narrow allies, that Paris lives in the squares of sugar that we put in the coffee. And now that I can see Paris with the eyes of an adult what I like the most about Paris is that it brings me back my five years old smile and my mesmerized sparking eyes.

There is no point of coming to Paris as a child, part because one wouldn’t understand, and part because as a child one still have the capability of impress and enjoy oneself with every single detail. And the point about Paris is exactly that when you think you have seen beauty enough Paris presents you lights, Eiffel Tower, Sacre Couer, Louvre, Alexander III bridge, Champs-Elysèe…and when you think there is nothing else you can find joy in, Paris makes the corner and presents a nice Café with soul-warming drinks and comfort-generating smiles. There is no point of coming to Paris as a child because you need the eyes of an adult to see Paris not as a beautiful city, but as a dream like one.

Bibiana Xausa Bisak - Paris Jul/2006

sábado, novembro 04, 2006

About me ida para Portugal

Partida: Lar

Destino: Mundo

Futuro: Presente

Saudades: Muitas
Grandes
Pequenas
Doces
Suaves
Intensas
Constantes
Saudades

Paixões: Infinitas

Amores: Alguns

Amores: Eternos

Desamores: Lições

Medo: Bastante

Ansiedade: Faz o medo parecer uma formiguinha

Ir: Uma certeza

Voltar: Uma possibilidade

Certezas: Nenhuma

Possibilidades: Todas

Essa cidade: Casa

Amigos: A certeza de que tenho para onde e, principalmente, porque voltar.

Familia: A certeza de que nunca vou estar sozinha.

Eu: Inteira

terça-feira, outubro 31, 2006

Era, noite, meia-noite, horário de contos de fadas. Foi até o seu jardim, a noite estava bonita, piscava uma estrela lá no céu.

A estrela lhe disse qualquer coisa, não conseguiu ouvir direito, tinha ruído, muitos cometas gritando, aparentemente alguém no céu tinha batido em não sei quem, coisa muito estranha, sei que nessa um cara se fudeu. Não entendi bem o nome dele, de novo, os cometas faziam muito barulho (também pudera, meia noite, ninguém espera silencio a esta hora...) sei lá, horário de pico, todo mundo junto... Mas, voltando a historia, ela já conhecia um pouco, hiii, isso era historia antiga, todo mundo já sabia que um dia ia dar merda.

Fato foi, aparentemente um tal de Sensibilidade se puteou, dizem que ele vivia reclamando, era um cara meio 8 ou 80 assim, o tipo de cara que todo mundo diz que é amigo, mas ninguém quer ser de verdade e quem é vive se fudendo por causa dele... mas enfim, sei que ele se puteou, todo mundo sempre falando dele, falando mal, falando bem, e ele na miséria, foda isso, dai foi lá resolver o problema, bateu na porta dela, iiii, quando viram ele não rua todo mundo já sabia que ia dar coisa feia, eles tinham essa coisa, se detestavam, mas não conseguiam viver um sem o outro, dai um dia ele disse:

- Que se foda, eu sei que ela pode mais do que isso, fica ai toda bibibi, bobobo, aaa, bobobo o caralho, sei que nem ela gosta dessa situação, sabe, ta todo mundo sempre junto dela, mas sempre reclamando, sempre a fim de fugir dela (o olha que nem é caso de mau hálito...) e eu sei que ela não gosta disso, mas se rende neh. Também, aquele marido dela, um merda, mas traz Conforto neh, e no final, todo mundo adora o tal de Conforto, andam muito amiguinhos esses dois. Até a felicidade as vezes se bandeia pro lado deles, a cara, vou desabafar, as vezes me decepciono com a Felicidade, muito de lua, não se decide... As vezes ela mesma se perde, tem um pouco de mania de grandeza assim, fica no vai não vai, as vezes parece que vai casar com o Conforto, mas dai eles se juntam e a irmã dela seeeempre vem atrapalhar, ta tudo lá muito confortável na casa da Felicidade e do seu Conforto e vem a Infelicidade... Iiii, essa dai estudou na escola da Discórdia né, não pode ver a irmã que já vem fazer uma fofoca, tá, não posso negar que ela não é bem informada, sempre tem noticias, até dos mais sumidos, e é ai que ela entra. Sempre que a Felicidade parece que vai se acertar com o Conforto ela vem trazer noticias da Liberdade, e putz, coitada da Felicidade neh, todo mundo sabe da tendência bissexual dela, ela adora, não adianta, ela sempre foi apaixonada pela Liberdade, não é novidade pra ninguém... E se tem alguém que sabe aproveitar os pontos fracos dos outros, é aquele trio... A Discórdia, a Infelicidade e a Inveja, quando se juntam, sai da frente. Nem a felicidade agüenta. Também, ela é frágil neh, eu sempre digo, essa nossa amizade não faz bem pra ela, até rima e tudo, mas Sensibilidade e Felicidade juntos? Pior que absinto... Mas enfim, eu não ia falar sobre a Felicidade. O que eu ia dizer é que cansei... Já falei pro Sonho, ele ta nessa comigo, vou seqüestrar a realidade e nós vamos montar uma comunidade hippie, eu sei que ela quer, coitada, passa a vida fazendo terapia, na certa tentando fugir dela mesma, garanto. Não tem como falhar, porque se tem alguém que sabe mais da Liberdade do que a Infelicidade, é o Sonho, ele sabe coisas sobre a Felicidade que nem ela mesma sabe, e eles já se falaram, a Liberdade vai emprestar o carro e tudo, rá, e dai, quando a Liberdade for, dai não tem jeito, a Felicidade não resiste. Eu sei, eu sei, o Conforto vai incomodar, ele não é um cara que se renda assim fácil, e o problema é que ta sempre de conchavo com o Costume né, mas eu falei com a Adaptação, ela disse que vai ajudar, não tem nada que essa dai não consiga... Se tem dois caras que eu acho foda são esses dois, a Adaptação e o Tempo, nunca vi igual, que poder de persuasão eles tem.... Enfim meu, a gente se fala depois, vou lá, cansei dessa lenga lenga.

E foi ai que tudo aconteceu neh, não preciso nem dizer. O sensibilidade chegou na casa e a Realidade abriu a porta. Ela foi fria, obvio, ela é boa nesse joguinho de sentimentos, o cara quase se abateu, mas se levantou rápido, ele logo notou, ela não mandava mais nada ali dentro, o marido dela tinha tomado conta já, era evidente, não dava nem pra esconder, cada esquina daquele lugar cheirava a Dinheiro, ele tinha dominado. AAA, mas foi ai que o cara se puteou, ninguém é otário neh, ver a mulher que tu ama sendo subjugada assim, ele entrou quebrando já, e a gente sabe, o Sensibilidade parece uma mulherzinha, vive sofrendo e rindo e chorando, ninguém leva muito a sério, mas o cara é foda, forte pra caralho. Entrou de sola no Dinheiro, quebrou a cara do cara, e ainda falou umas boas verdades, deixou o cara sem moral total, com as calças na mão, e pro Dinheiro a gente pode imaginar o quanto isso é foda.

E a Realidade? Desmaiou né, também, não podia se esperar menos, isso era uma coisa muito impensada, fora de questão assim, tá, é verdade que o Sonho já tinha tentado abordar o assunto com ela uma vez, o olhinho dela brilhou ele disse, deu pra sentir, mas ela tinha muito medo, muitas amarras, muitos padrões, conceitos, prazos a cumprir, contas a pagar, fortunas a administrar, dividas a cobrar, dores a fazer, dores a sofrer... Jura, a realidade não tinha tempo para aquele tipo de idéia loca. Alias, se tinha uma coisa que amedrontava a realidade era a loucura, imagina, a Realidade e ela jamais conseguiram conviver, a Realidade não suporta ela, e isso é muito engraçado, considerando que foi o Sensibilidade que criou a Loucura, ele perdeu os pais muito nova, e ele, obvio, a adotou. Também com o coração daquele tamanho... Mas enfim, se perguntarem a minha opinião a realidade tem é medo, medo de provar e gostar da Loucura, e u consigo ver as duas muito parecidas, pra começar não existe no mundo ninguém mais obsessivo que a Realidade né, nossa, me irrita...

Mas enfim, continuando, foi um bafafa do cão né, dispensável entrar em detalhes, sei que a realidade quase entrou em coma, colapso total assim, e aí a Adaptação entrou em cena, falou que tava na hora de ela se posicionar, e foi assim, incrível, passaram meses as duas juntas. Não sei muito bem o que foi que a Adaptação fez, mas sei que a Realidade era outra quando saiu de lá, tava mudada, uma nova Realidade. Bá, o Sensibilidade, esse andava com um sorriso no rosto que não tinha tamanho. Fundaram a tal comunidade hippie lá, dizem que ta dando certo. De vez em quando o Tempo me conta alguma coisa, esses dias me disse que até o Conforto tava pensado em se mudar pra lá, disse que sentia falta da Felicidade, que tinha repensado e que estava aceitando ter uma relação aberta (também, pra ele não caía nada mal ter duas mulheres lindas como a Felicidade e a Liberdade dormindo com ele, até acho ele burro de não ter pensado isso antes...) enfim, tava querendo dar uma chance pra história de amor livre... A única regra da comunidade era que o Dinheiro estava banido de lá "for good". Mas eu que ele nem voltaria, depois de ter sido humilhado, desmascarado daquela maneira.. Acho que ele vai mais é ficar quietinho, andei ouvindo que ele foi se tratar com um terapeuta, um tal de Marx aí, dizem que o cara ta abrindo os olhos dele, vamos ver se vai dar em alguma coisa né...

Bom, depois de ouvir a estrela ela não cabia mais em si. Ficou extasiada, amou a história, de amor sem fronteiras, de lutas, de não limites. Queria se mudar pra comunidade hippie. Adormeceu lá mesmo... não entendi direito, mas acho qeu os cometas a cantaram canções de ninar...

Acordou com o sol bruto a queimar-lhe os olhos. Lhe doíam as costas. Era Segunda-Feira...