Tomava um conhaque num canto da cidade. A cada trago, fazia cara feia. Sentia mesmo era falta de chocolate, mas disfarçava. Ela era um mulher fatal, pois era e, portanto, o conhaque era o seu melhor amigo.
Cabelos curtos, lisos, um castanho avermelhado. Vestido preto, de alcinhas, cruzava nas costas. Costas magras. Mas não se enganem, não era uma deusa: Era uma mulher que tomava um conhaque.
Distribuiu sorrisos para uns conhecidos. Para outros, envergonhou-se, virou o rosto rápido.
Deu um gole, curto, seco. Fez cara feia, pensou: “Queria um chocolate”.
Queria também que ele se aproximasse. Imbecil, continuava com os amigos. Olhava bastante, mas lhe oferecer um chocolate que era bom...lhufas.
Olhou pro conhaque. Girou o conhaque. Pensou no conhaque.
* * *
Fazia nada naquela noite, como de costume. Pensou: “Hoje era um bom dia para mudar minha vida...”. Resolveu ir para o banho. O banho sempre lhe clareava as idéias.
- Ui, tá frio!
- Droga, não esquenta.
- Ai! Ai! Tá quente! Ta quente!
Shampoo. Sabonete. Viu seus rastros no sabonete. Os homens sempre deixam rastros... Começou a ensaboar-se.
- Bonecão do posto, tá maluco ta doidão...
- Besa-meeee! Besa-meeee muchoooo...
Largou o sabonete. Escreveu sei nome no box embassado. Virou o rosto para cima. Deixou que a água lhe tocasse a face, lhe levasse os cabelos.
- Besa-meeee! Besa-meeee muchoooo...
- Brrrrrr!
Sacudiu a cabeça. Pegou a toalha. Se secou. Passou a mão no espelho para poder se enxergar. Fez cara de galã, de mau. Contraiu os músculos. Se vestiu.
Havia decido ir no João, ia encontrar o pessoal, eles sempre estão lá.
Olho pro perfume, ponderou... “Ná, pra que gastar? Só vou ali no Jõao.”.
Abre a porta. Sai. Fecha a porta. Desce a escada. Caminha. Abre a porta. Sai. Fecha a porta. Cai no degrau. Caminha. Abre o portão. Sai. Fecha o portão. Caminha.
Dobrou a direita na esquina. No meio da quadra, direita de novo: o João. O pessoal estava lá, eles sempre estão lá.
Sentou. Riu.
- Ô Marcão!
- Fala chefe!
- Mais uma, por favor.
Ele queria algo mais forte, afinal, hoje era um bom dia para mudar sua vida. Mas todos bebiam cerveja, pediu uma.
- Ô Catraca, vê mais uma aí. E um conhaque para a mesa dois. Ô Zé, dá um chocolate aí!
“Conhaque. Era exatamente o que eu queria”.
Era exatamente o que ele queria. Virou-se pra ver quem era a mesa dois.
* * *
- Brigada Marcão. – Ela disse.
Viu o chocolate.
- Pra quem é esse chocolate?
- Alí pra mesa quinze.
“Chocolate. Era exatamente o que eu queria”. Era exatamente o que ela queria. Virou-se para ver quem era a mesa quinze.
Queria também que ele se aproximasse. Imbecil, continuava com os amigos. Olhava bastante, mas lhe oferecer um chocolate que era bom...lhufas.
Olhou pro conhaque. Girou o conhaque. Pensou no conhaque.
* * *
“Vou? Não? Vou! Não... Vou! Ai merda, to sem perfume.”.
* * *
- Tchau, Marcão.
E ele olhou a tempo de ver o X do vestido desaparecendo na porta...
Aquele era um bom dia para mudar sua vida. Se ao menos ele estivesse de perfume...
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