Em um livro de Elisa Lucinda encontrei algumas palavras de Mário, o Quintana. E esse texto começa assim, com palavras de outros. Disse o poeta:
"Não faço versos a ti,
faço versos de ti."
Faz tempo que estou para postar aqui um poema que não é meu. Eu ia postar agradecendo e fazendo honras ao poeta que havia feito um poema a mim. Mas não me soava bem, algo me impedia de escrever. Algo que Mario, ahora, traduz.
O poema não foi feito a mim. Um poema nunca é feito a ninguém, ele é feito ao vento, às páginas, é feito ao universo dos enamorados e dos solitários, o bom poema é feito das entranhas do autor para as estranhas lentes do leitor.
Portando, agora sei que tenho algo muito mais valiosos do que um poema para mim. Tenho um poema feito de mim. Do meu barro e das minhas costelas saiu, pelas mãos de outro, poesia. Imagino poucos coisas mais carnais do que isso.
Poema de mim:
"As primas não deixarão de ser veras
Teu bote ainda me matará
Tua língua não deixará de falar
Importantes recados
Diz-me tu
Que alma é essa?
Fala-me dos teus acasos
Já não és quem nunca foste
Já, amante, és errante
E erra feio em ser só
Amante."
(Lucas DallaCosta. Um dia sem hora. Deitados.)