Anda-me falando o corpo, pois sim.
Ora me cegam os olhos.
Ora me doem as pernas.
Ora, criança, acordes!
Deixa dessa história de sofrer sonhando.
Hoje tive a melhor sessão de terapia que jamais tive.
Entre tantas coisas que me disse e que já não me lembro,
me disse o médico:
"A coisa mais difícil de um tratamento é conseguir
que o paciente se despeça da doença"
Ora, MULHER, acordes!
Deixa a criança,
solitária e fúnebre,
que se vá.
Deixa-a viver só com sua solidão,
e vais viver tu o que é teu de direito.
Não te esquece nunca do dia de hoje,
do amigo que te desejou cuidado,
das pessoas que por ti oraram
e desejaram a deus clareza para que conseguisses ver o caminho.
Não te esquece nunca do olhar do teu médico
e da imagem da criança negra que carregas contigo.
Deixa a criança.
Abandona teus fantásmas.
Vive tua plenitude adulta.
Mulher, livra-te do peso que tanto te faz doer as pernas.
Lembra-te sempre deste dia e da sensação súbita de ter mais espaço nos pulmões.
Lembra-te sempre do riso que te veio, sem hora e sem razão, e vai viver tua vida.
Permite-te brilhar como só tu sabes que és capaz
e também, somente tu é capaz de impedir
Sabes que sentes que és um tanto bem maior.
Ora, seja!
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