Hoje é o primeiro dia dos últimos 9 anos. Hoje é o primeiro dia sem Passargada. Minha passargada morreu, e isso é literal. Morreu esse final de semana um dos grandes amores da minha vida e foram com ele o que restavam dos vínculos com os sonhos de uma terra distante, um mundo ideal, a passagem só de ida, a fuga, ser o rei e seus amigos.
Morreu uma pessoa - tão idealizada, que nem ele mesmo era ele - ele era um sonho.
Foi o menino, que eu infelizmente não vi virar homem.
Foi a minha necessidade de perfeição.
Foi o quem pra quem eu achava que tinha que ser algo.
Se eu fosse, quando eu fosse, então eu ia. E então seríamos. Antes não, imperfeita não, com sobrepeso não, humana não.
Foi com ele o balão das expectativas de mim que eu carregava nas costas.
Que eu carreguei com amor verdadeiro pelos últimos quase 10 anos.
E quem ficou?
Quem ficou fui eu, mortal, sobrepeso, sensível, humana, defeitos e indefeitos juntos. Adulta, mulher. Talvez até mais próxima do homem que eu não vi nascer do que o menino idealizado.
Fiquei eu, sozinha, aqui, com memórias reais e ideais imaginários, com a tarefa de tornar-me eu e de parar de fugir de mim.
Meu trem partiu, minha Passargada virou pó de estrela.
Agora só existe aqui.
E isso dói.
E é libertador.