sexta-feira, março 02, 2007

La vità a italiana

Seguimos em direção a Trastevere para achar as dicas de comida que as italianas tinham nos dado. Caminhando pela beira do rio podemos ter uma
idéia mais próxima do que é Roma para os romanos. Protegidos pelas vias
bastante arborizadas casais namoravam à beira do rio; “ragazzas” corriam para
entrar em forma pro verão; motoristas desrespeitavam sinais de trânsito;
mendigos pediam dinheiro para comprar lasanha e turistas compravam
badulaques em feirinhas... Enfim, um dia com cara de domingo qualquer...

Chegamos a Piazza Trilussa, onde ficava o restaurante indicados pelas
italianas, para descobrir que, com toda a aptidão dos italianos para ganhar
dinheiro, ele estava fechado em pleno domingo de feriadão. Partimos para a
segundo opção: Pizza a kilo. Na esquina da praça, cada um de nós comeu um
”supli” e um pedaço de pizza que estava ótimo. Na parede um certificado dizia:
"Campeonato Mundial de Pizza, 4º colocado". Acho que fizemos uma boa
escolha...

Passamos a pontezinha e descemos as escadinhas para aproveitar o
pôr-do-sol no Tevere. Foi como aproveitar que a cidade é eterna para parar o
tempo por alguns instantes. O sol se esconde por trás da cúpula da Basílica
de São Pedro e deixa o friozinho do entardecer no Mediterrâneo chegar.

Voltamos à praça para cumprir mais uma das dicas das italianas: Friends. Pede-se um drink - quem estiver sentado paga mais caro - e tem-se
direito a um buffet com pães e salames e tomates e molhos, de graça. Não
preciso dizer que o lugar lota. A italianada toda se amontoando na fila para
comer de graça. Como "em Roma haja como os romanos", nos amontoamos na fila também. Bebi uma taça de Prosseco e o Antônio, uma cerveja. Depois de devidamente bebidos e comidos, demos uma volta pelo bairro para ter uma
idéia do que é a boêmia na terra de César.

Sentamos numa muretinha de um bar próximo onde tinha um aglomerado de italianos que ao se cumprimentarem davam beijinhos uns nos outros e falavam com as mãos. Ficamos um tempo conversando, falamos como na Itália os cabelos finalmente eram bem cortados (diferente de Portugal e Espanha) e de como a avarage people there era muito mais bonita do que no resto da Europa. Reconcluimos que o Rio Grande do Sul realmente tem as mulheres mais bonitas do mundo e falamos sobre a vida de ‘erasmus’ na Europa.

Logo de cara nota-se o quanto os italianos curtem a sua própria cidade,a sua comida, as suas pessoas. Por qualquer lugar que se ande por Roma há pessoas conversando, gritando, gesticulando. Percebe-se logo que os bares não são os reis da noite por lá. Na Piaza di España andamos quadras e quadras sem nenhum sinal sequer de um lugar que vendesse cerveja e, ainda assim, haviam multidões lá, juntas simplesmente pelo prazer de estarem
juntas, ao ar livre, sob os cuidados de Júpiter. Esse clima torna Roma uma
cidade viva e amiga e mostra o outro lado da cidade que, indiferente às
ruínas, não vive de história e de monumentos e, sim, de pessoas.
Os romanos
independem das ruínas.

No hostel de Barcelona uma das inscrições presas na parede diz:" To me traveling is about finding roots that want to grow, meeting people along
the way and touching their lives as well as them touching yours ".
Talvez tenha sido o sangue, gerações de antepassados me acompanhando no
caminho, mas estar em Roma, pra mim, foi um pouco como estar em casa.

E este é o que eu acredito ser o grande segredo da viagem: Saímos pelo mundo buscando asas e altos vôos, mas quando a liberdade (e a solidão) se tornam parte de nós, o que achamos de fato são raízes. As nossas próprias
raízes. Vamos descobrindo em cada esquina pedacinhos do que é o nosso
próprio quebra-cabeças e tudo que descobrimos sobre o mundo não passa apenas de um pano de fundo para tudo que descobrimos sobre nós mesmos.

Ainda cansados das nossas aventuras para chegar em Roma, decidimos voltar para o hostel, onde, naquele dia , finalmente, teríamos camas. No caminho passamos por Campo di Fiori, uma praça boêmia. Um sorvete, uma cerveja, alguns sorrisos, algumas novas palavras em italiano e pegamos o ônibus sem pagar para voltar ao que mais se aproxima de casa por essas bandas daqui.

Bibiana Xausa Bosak – Roma – 25.04.06

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