terça-feira, novembro 03, 2009

Cigarros em Trânsito



A sinaleira está verde, mas os carros não andam.
É a volta do horário de almoço marcada pelos trânsitos lentos da vida.

Demorei para comoçar a escrever esse texto, estava fumando um cigarro.
Eu gosto de fumar em trânsito.
É um mau hábito, eu sei, mas não me julguem mal.
Eu não sou uma má pessoa, sou só uma boa pessoa com alguns maus hábitos. Acontece.

Mas falavamos de cigarros.
Esses palitos brancos de fixação oral recheados de veneno me parecem mais que chocolates para gente adulta. Parecem, a mim, como doses homeopáticas de cicuta para o dia a dia. Sublinhando, como caneta marca-texto, as pequenas mortes da minha rotina.
São marcadores de tempo. São terapeutas. São o trânsito dos estados.

14:00 horas. Morte de mais um intervalo de almoço. Um cigarro.
19:00 horas. Engarrafamento. Morre mais um dia de stress. Um cigarro.
Pausa para esfriar a cabeça (cigarro é o álibi dos estafados). Um cigarro.
Sexo. Para os franceses, mais uma pequena morte. Um cigarro.

Cigarros vivem em nossos momentos de trânsito,
a ouvir, atentos, nossas emoções oscilantes.
E são bons companheiros, participam, interagem, aconselham.
Como falam os cigarros.

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