sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Milano #1 - Paralelos e Meridianos

* * *

Poltrona 36A, janela esquerda, ainda no finger. Portão 6, aeroporto Salgado Filho, Porto Alegre, RS, BraSil. 19:50, voo atrasado. Do meu lado, 2 italianos fedidos. 20:00. O comandante começou a fazer barulhos imcompreensíveis em uma sonoridade que se asemelha ao inglês. Vamos decolar.

Me bateu um cansaço tão grande. Desde hoje a tarde, uma exaustão que só me faz querer ficar quieta. Vai entender... pensei tantas coisas, comecei tantos textos mentalmente, só esperando o momento em que eu poderia finalmente deitá-los sobre essas folhas de papel e, agora, por algum motivo que não sei, me esquivo deles. Assim como me esquivo das lágrimas.

Um dos textos que pensei chamave-se "Paralelos & Meridianos"e começava assim: despeço-me mais uma vez do paralelo -30. Viajo a nordeste, vou ao encontro do paralelo 45 e meridiano 9.

(Soa muito glamouroso (?), mas, neste momento um bebê não pára de chorar e os italianos ao meu lado continuam fedendo...)

Esperei muito por este reencontro. Retorno a nordeste para acertar as contas com o continente; botar a prova antigos amores; me ver comigo.

(Decolamos. A criança parou de chorar, os italiano ainda fedem.)

Isso é diferente da outra vez: não viajo agora para provar-me aos outros e explorar o mundo, se não para provar e explorar a mim. 

(O sol se põe nas minhas costas, deixou o reflexo da janela dourado; viajamos a leste. Vejo que aprendi geografia, a criança chora outra vez.)
(Que interessante: estou assistindo "TV TAM Nas Nuvens"  - realmente, a demanda cada vez mais gritante pela produção de entretenimento permeia a "todos" os mercados. Isso e o barateamento do custo da produção audiovisual...)
(Posso atirar o nenê e os italianos pela janela?)
(O céu está rosa e lilás. É quase como o clipe da Björk. All is Full of Love. Como eu. Mesmo estando muito cansada, ainda all é full of love. E full of beauty.)

Ao chegar lá, tenho poucas ideias do que vou fazer. Não sei ainda se vou direto para o hotel ou se vou deixar as malas em casa, mas o que tem me deixado mais ansiosa é pensar em como vou falar o endereço para o taxista. Quero que a minha primeira frase em italiano seja uma oração completa: tenha sujeito, verbo e predicado. E, ai... eu me atrapalho tanto nos verbos...

(Chegou a comida. Como vou comer com o fedor desses caras do meu lado? Pedi cerveja :] )
(Super parlei italiano com os fedorentinhos agora. Realmente, tenho que aprender verbos.)

Vim com o máximo do que tinha direito. Não excedi nenhum limite, mas usei meus direitos à plenitude. 2 volumes de 31kg e 32kg + bagagem de mão. O Gaspar disse que sou livre porque vim leve e "a liberdade é leve ou não é liberdade".  Mas eu não acho que vim tão leve assim. Acho que o mérito mesmo está em os pesos estarem bem distribuídos.

Vim com os pesos bem distribuídos e isso, confesso, tem pouco de mérito meu. Grande parte deve-se ao Gaspar, que deu grandes dicas de como fazer a mala. A outra metade "étudoculpadamãe", que arrumou tudo no limite do amor. Um mérito, porém, é meu: o de ter me deixado aprender e o aprendizado de começar a me deixar amar.




Deixo Porto Alegre repleta de amor: com todos os nós desfeitos e com laços muito fortes. Deixo Porto Alegre tendo aprendido que se pode ser leve e ainda forte e que se velejarmos a favor da corrente e contra o vento ele sopra agradavelmente nos cabelos e o barco desliza macio. Ao contrário, parece que velejamos sobre paralelepípedos e a combinação de vento forte empurrando + água contra ainda é capaz de nos deixar todos molhados.

(Já começo a escrever torto por linhas retas...)

Aprendi tanta coisa sobre amadurecer neste...

(Nossa! Acendi a luz. - fiat lux! - Eu não sabia que estava tão escuro!)

Mas eu ia dizendo que aprendi muita coisa sobre amadurecer neste último mês. Aprendi que entusiasmo não é sinôninimo de euforia e que euforia em excesso só faz sufocar. Aprendi que um intenso gostar pode ser, ao mesmo tempo, profundo e leve; e começo a acreditar que posso ser gostada e que isso significa que quem me gosta pode ter prazer genuíno em me agradar e me bem-tratar e até me mimar; como eu aos que gosto.

E, com isso, começo a entender que há espaço para os trânsitos de chegadas e partidas e que também a liberdade pode - e deve - ser compartilhada.




Bibiana Xausa Bosak
Sobre águas internacionais
18/19.01.2011



Um comentário:

clarissa motta nunes disse...

ai minha amiga,não vale,ou melhor vale!muito!!!como é bom te ler,já que não posso te ver...
mas quantas gargalhadas dei lendo isso e mini choradinhas de emoção?
aumentou a saudade...obrigada por dividires tua experiência de um modo tão natural,nos reaproximando da tua essência moleque e safada(Marrom)hahahahha....amei!