domingo, junho 06, 2010

Sobre finais

***

Eu não devia, mas vou postar esse texto.

***


Em um dos tantos vai-e-vens da vida, acabei meu namoro há uns 2 dias. Ironicamente, eu chamava ele de “o namorado da vez” para alguns amigos, pensando nessas ações que se repetem - nos apaixonarmos, nos entregarmos, passarmos a passar mais tempo juntos do que deveríamos, passarmos a deixar nossas vidas “próprias” em segundo plano, descobrirmos que temos mais diferenças um com o outro do que supomos ao primeiro encontro, começarmos a sentir falta das nossas “vidas próprias”, começarmos a nos sentir sozinhos quando estamos acompanhados deles, começarmos a deixar as mais pequenas coisas tomarem grandes proporções, nos separarmos. Esse enredo que tende a se repetir relação após relação. 

Mas a verdade é que por trás dessa racionalidade de quem supostamente conhece a história, estou arrasada. Faz dois dias que acabamos e dois dias que não paro de chorar. Eu concordo que tínhamos que acabar, concordo que não dava mais e, sinceramente, o fato de eu não parar de chorar só prova o quanto as coisas já estavam passando dos limites. Eu não deveria chorar tanto assim, ainda mais se estava sofrendo, ainda mais, ainda mais... Mas estou chorando. Me sinto perdida, reconheço as qualidades dele que antes não via, passo a não dar tanto valor às coisas que me machucavam tanto, me dou conta do quanto o relacionamento se tornou  um alçapão que eu usava para não ver a bagunça do meu próprio sótão. Agora, sem ele, o sótão me parece totalmente vazio. 

O engraçado de tudo é que muitas, vezes, nesses momentos de final, onde choramos pelo amor que vamos deixar de compartilhar ao mesmo tempo em que ponderamos porque não podemos mais estar juntos, caem os muros que nos protegem e conseguimos ter as mais honestas conversas. Conversas que fazem com que realmente nos sintamos íntimos da outra pessoa, conversas que deveriam ser a base do relacionamento onde o silêncio toma conta. Nessa conversa, ele me falou coisas lindas. Contou seus segredos, o que agora pra mim, parece como uma grande prova de amor. 
Ele me falou que conseguia se ver traçando um caminho na vida e conseguia ter a certeza de que esse caminho levava à algum lugar, o cumprimento de um destino que era seu. Isso mexeu em mim tão profundamente. Acho que é por este trecho da conversa que ainda choro irracionalmente. Me dei conta de que não tenho essa certeza. Pra mim, neste momento, tudo me parece vão, tudo me parece sem sentido. Não vejo um propósito maior a cumprir, não sou motivada por uma grande paixão que me move a fazer o que gosto. No momento de transição em que me encontro, entre a vida jovem e a vida adulta, me pergunto: então é mesmo só isso? Trabalhar, voltar pra casa, talvez jantar, ver tv, dormir, trabalhar, voltar pra casa....
Consigo ver algumas alguma respostas possíveis: se o trabalho é recompensador, se você ama o que faz, então vale a pena. Se ao voltar pra casa, há alguém com quem dividir a rotina, alguém que se ame, então vale a pena. E quando nos damos conta de que não? E se as respostas forem: não, eu não sou apaixonada pelo que faço, faço o que tenho que fazer, faço pelas contas no final do mês e, pior ainda, não sou apaixonada por nada o suficiente para dizer que vou me dedicar a fazer o que gosto. E se não se encontrou o tão falado “amor” que faz as coisas todas valerem a pena? 

Não sei. É por isso que choro. Tento me consolar dizendo que o “o caminho se faz caminhando”, que não há como se saber ao certo para onde se vai, que há de se ter fé na caminhada.  Mas no momento não tenho. Como disse pra ele durante a conversa honesta: me sinto sozinha, à deriva em um mar a perder de vista, em um barco de papel. A resposta dele foi tão madura, tão carinhosa, tão difícil. Ele disse: por que tu não arruma o teu barco, deixa ele bem bonito e pára de esperar que alguém venha te salvar?

Que bela resposta. É um bom caminho. É difícil e solitário, e demorado e dolorido. Mas vou ter que seguir, e isso me convence do quanto ainda não posso simplesmente voltar para o relacionamento e parar de chorar. E isso me faz chorar. Sinto saudade. E tenho medo. E isso é o mais honesta que consigo ser.   

Nenhum comentário: