quinta-feira, maio 26, 2016

Escreva Música

Eu tinha ainda 14 anos.
"Tu escreves em compasso quaternário, como Érico Veríssimo".
Foi uma da primeiras críticas que recebi. Era das primeiras vezes que ousava expor meus escritos a um leitor crítico.
Eu não entendia de compassos, nem na música, nem na escrita.
Mas havia acabado de ler Érico e inconscientemente reproduzi o ritmo da sua escrita, sem saber que sequer que escrita tinha ritmo. 
Com essa crítica aprendi que livros contam músicas.
E músicas cantam histórias.
Livros mais tarde descobri que me importa tanto a música como os fatos.
Não me lembro muito dos detalhes d'O Grande Gatsby, mas sua melodia nunca saiu da minha cabeça.
Aí reside, na música das palavrinhas, um de meus grandes amores.
Os outros estão nos cheiros, nas pinceladas, nas telas de paisagem e de retrato, e nas narrativas de cabarets que vivem dentro das orações, tão insubordinadas.
Tradução da imagem:
"Essa frase tem cinco palavras. E aqui vão mais cinco. Frases assim são ok. Mas muitas juntas tornam-se monótonas. Ouça ao que está acontecendo. A escrita se torna chata. O som vira um zunido. É como um disco travado. Os ouvidos exigem alguma variedade.
Agora escute. Eu vario o comprimento das frases e crio música. A escrita canta. Tem um rítmo, melodia, uma harmonia. Uso frases curtas. Depois crio frases de tamanho médio. E às vezes, quando estou certa de que o leitor está descançado, eu convidarei ele para uma frase de tamanho considerável, uma frase que queima com energia e e ganha corpo com toda a impetuosidade de um 'crescendo', o rufar dos tambores, o encontro dos pratos - sons que dizem ouça isso, é importante.
Então, escreva combinações de frases curtas, médias e longas. Crie um som que seja prazeiroso aos ouvidos do leitor. Não apenas escreva palavras. Escreva música."



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