domingo, novembro 05, 2006

Lembranças

"A vida é a infância da nossa imortalidade."
Goethe

Lá estava e
Sentada sobre a janela
Com um sorriso sapeca de equem ainda é criança
A não se preocupar com as marcas do tempo
Declarava, com o movimento dos pés no ar que
Alí houvera energia, energia cumulativa de sorrisos e lágrimas.

E, no profundo azul daqueles olhos castanhos,
Que ainda procuravam no final do arco-íris o pote de ouro,
Instalava-se o sentir.

Como em um sonho,
Despercebida de si,
Se se mirasse no espelho
Enxergaria-se a chorar,
A rir,
A rir e chorar.

Agora olhava para o mar,
Mas não era o mar,
Era apenas mais uma janela.

Olhando para esta agora enxergou
Lembrou-se da vida,
Da não vida
O que agora sobrou?
Pois agora é tudo o que lhe resta

Ontem tivera olhos violeta
Nesta manhã foram rosa
Agora, estão a refletir azul

"É mentira,!" - o Espelho diria
E, se essa conversa existisse,
Ela responderia:
"Pouco me importa o que dizes tu, ó Espelho
Não me interessam mais as cores que vejo
Só me interessam hoje as cores que sinto".

Pois agora era chegado o tempo em que,
Se olhasse para trás,
Enxergaria infinitas pegadas suas:
Em linha reta;
A andar tortas pela praia;
Aqui e ali sumiam, desviavam-se;
Desapareciam...

Em partes alegres se encontravam com pegadas de outros,
Desenhvam sorrisos.
Horas havia em que, sozinhas, pareciam chorar.

Pegadas que, em silêncio, falavam.
Cantavam, em acordes mudos, a história de uma vida,
Daquela vida que,
Agora, a balançar os pés do alto da janela,
Ela contemplava.

Melodias soltas soavam no ar,
Músicas que falavam sobre a infância e diziam:
"A gente cresceu na beira do mar".

E pensou sobre "a gente".
Quem era "a gente"?
Pensou naqueles com quem, ainda hoje, se sentia "a gente", nós.

Não sei o que constatou,
Mas sei que sorriu,
E sei também que, sem palavras, conversou com suas lágrimas.

No fervoroso concílio que viviam seus sentimentos,
Naquele instante, consetiram, todos.

Fechou os olhos,
Suspirou
E, neste momento,
Deixou a infância e deu mais um passo
Em direção a adolescência da sua imortalidade...

porto alegre/ 2002


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