segunda-feira, outubro 05, 2009

Filhos da Burguesia





Enquanto escrevo estas primeiras palavras em uma caneta-brinde da Oxford Press tento formular a linha que seguirá este texto. Por enquanto não tenho conclusões, apenas impressões.

Escrevo sentada em um puff preto em frente ao bar do salão de festas da casa de um embaixador. Mudei de lugar, agora sento em uma poltrona preta, à minha frente uma junkbox. Ao meu lado, um piano de cauda e, como minha companhia, uma taça de espumante nacional.

O espumante é uma das coisas que me lembra que não estou na França e uma das muitas que me lembra que estou entre a burguesia e, não, entre a aristrocracia. A ostentação salta aos olhos, como lhe é propósito. Os corredores mais se parecem com os labirintos de monastérios que levam à passagens secretas. No andar central, muitos salões separados por cortinas me fazem querer arriscar um palpite:

"Foi o Senhor Mostarda, com o castiçal, na sala de jogos".

O cenário decorado à Luiz XV é o ideal para um assassinato. Corrimãos patinados em dourado em uma tentativa patética de imitar palácios de ouro denunciam: é o assassinato do bom gosto pelo dinheiro. O homicídio do ser sufocado a gritos pelo ter.

Quando comecei a escrever acontecia um desfile.  Um "estilista" de "alta costura" da província exibia seus vestidos em cabides de meninas ricas que, completas da insegurança que acompanha os 16 anos,  não desfilavam, tropeçavam em pedaços de panos esvoaçantes. Sinto uma certa nostalgia de tempos que não vivi, onde os criadores chamavam-se costureiros e as criaturas, damas.

Esse é o retrato que faço de uma burguesia já não mais mecenas da arte e, sim, da frivolidade. Pinturas de uma província.

Primeiro de Outubro de 2009.
Porto Alegre.
Reunião do Catálogo de Brotos.

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