quarta-feira, dezembro 30, 2009

Moldura para Sentimentos

* * *

O cheiro de solvente continua, mesmo muito depois de eu ter me despedido das tintas.
É o quadro, ainda se diluindo em mim.

Minhas cores andam confusas, voláteis como o solvente que uso.
Nem é tanto pelo obra, mas pelos comporadores.

É coisa muito íntima um quadro,
A gente produz assim, com tanto afinco, tanto suor;
para oferecer assim ao mundo?
Tão livres, tão desprotegidos?
Quem assegura os quadros?
Quem assegura suas pinceladas?

Fortes ou fracas,
intensas ou não,
são frágeis,
são castas.

Não se pode tratar assim,
com quaisquer olhos,
as cores.

Há de se haver cuidado,
há de se haver ternura.
Há de se entender a pérola rara que se tem a frente.
O risco é grande, ao não fazer:

do pintor, se vai a orelha
exausta de já ouvir  assim tantos disparates,
sem critério ou lucidez.

Mas uma orelha é pouco,
o que dizer dos olhos cegos de quem olhou,
mas privou-se de ver?

Bem como um quadro, este texto não fala de quadros.
Bem como quadros,
cada um pode ver nele o que bem lhe convier:

espero eu não precisar viver de vender óculos escuros...


Porto Alegre, 29/30 de Dezembro de 2009.

Um comentário:

Bibiana Xausa Bosak disse...

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