quinta-feira, setembro 09, 2010

21 gramas

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Terças-feiras, nas minhas regras, é dia de poesia. Às vezes é eufemismo, às vezes, poesia. Em uma dessas tantas, foi poesia. Falávamos sobre os pesos de cada um. 

Falar em pesos me faz lembrar de uma amiga que uma vez, lá do estrangeiro, escreveu que acreditava que a gente engordava para caber na gente. E, então, voltamos aos pesos. Quais são os pesos que nos constroem? De quantos traumas, quantas cicatrizes, quantos quilos se faz nossa essência?

A minha andou variando bastante. Alguns remédios, muitos términos, outros tantos começos fizeram do meu corpo um depósito de histórias. Tantas, que se refletiram em quilos, ora pra mais, ora pra menos. Mas não sou feita de quilos! Minha essência não é feita de causos. Somos todos, em horas diversas, doces, salgados, amargos, ácidos. Em calorias incontáveis, que aquecem, energizam, mas não engordam.

O que engorda é o sobrepeso que nos permitimos carregar. Todas as cargas que não são nossas, mas às quais nos rendemos: os estresses, os desamores, os desafetos, os descontínuos do quotidiano. Encontrar nossa gravidade interna e estabilizar a balança é mera e pura consequência de estabilizar o espírito e não permitir que se deposite em nós mais do que o peso que nos é próprio.

E, então, eu volto às terças-feiras de eufemismos e poesias. Foi quando, em uma dessas, me disseram que não é uma questão de caber na gente, é uma questão de aceitar carregar os pesos: "o único peso que devemos carregar são os 21 gramas. Os 21 gramas da nossa alma. O resto, querida, o resto é sobrepeso".

E assim encerro. O resto, queridos, o resto é sobrepeso. 

(Quinta-feira de escrever em cafés, 09, Setembro, 2010)

Um comentário:

Bibiana Xausa Bosak disse...

Do meu queridão (que anda um pouco menos queridão ultimamente) Mário, O comparsa:

"As 21 gramas é só na hora do desprendimento do corpo, depois é vazio, é vácuo, enfim é a leveza eterna.

Enquanto isso, ficamos com todos os pesos, mas em movimento, ainda que lentamente, tentando aprender que não sabemos nada".