segunda-feira, setembro 13, 2010

Conversas de Poetas

* * *

Há tempos escrevi um poema, inspirada por um final de semana incrível e pelas rimas de Elisa Lucinda, me valendo da ajuda de Mário Quintana. Neste último final de semana, lendo Eduardo Galeano, encontrei uma proza do autor com um título quase igual e a tratar do mesmo tema que eu. Portando, achei que valia, aqui, colocar minha conversa com os poetas, por isso, republico meu poema, o de Quintana e a prosa de Galeano. Me senti parte da literatura. Felicidade.

* * *

Poema a Pequenas Mortes


É  tanta vida
É tanto sonho
Que me explode o peito
E a vontade que dá
É de virar letra
Errada e errante
E viver de pequenas mortes
Em livros de poesia.

Um amigo em um bar me disse:
Sabes como é orgasmo em fracês?
Petite-Mort.
E o que é a vida
Se não viver de pequenas mortes?

Já dizia o poeta
"Todos os poemas são o mesmo poema.
Todos os tragos são o mesmo trago.
Não é de uma vez que se morre..."


E não é.
Se morre a cada instante
E, a cada instante,
Se explode novamente em vida.
Como fênix incandescente
A vida é o exercício do acender de flamas
E do apagar
De chamas.
E viver como letra errante
Morrendo a cada ponto
Num virar de páginas.


Um pequeno morrer a cada estante.
Um grande viver
A cada nova sílaba entrante.
O prazer constante do afogar-se
E pela força soberana da onda,
Tragar-se.

Já que "todos os poemas são o mesmo poema
E todos os tragos são o mesmo trago"
Graças aos deuses!
"Não é de uma vez que se morre.
Todas as horas são horas extremas"




(Une petite mort pour vous tous les jours, Outubro, 19, dois mil e nove, Bibiana)

* * *

PEQUENO POEMA DIDÁTICO

O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconseqüente conversa.

Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre…
Todas as horas são horas extremas!
(Quintana)

Mário Quintana


* * * 


Não nos provoca o riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. 

Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntarmo-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.

(Galeano)



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